quarta-feira, 15 de junho de 2022

A REFERÊNCIA DO ELEITOR É O VOLUME DO BERRO

 



Competência, honestidade e histórico na política perderam para gritos, mentiras e ofensas pessoais. O parlapatão, o mal educado e o hipócrita são os preferidos de 85% dos eleitores. Berrar nos palanques dizendo que fará e será o aquilo que o seu passado fartamente documentado e noticiado nega, tem o poder de ensurdecer a lógica, as lembranças e o raciocínio dos abestalhados. Bolsonaro, Lula e Ciro são exemplos desse estilo populista.

Mas também não se engane com a aparente calma do político que destoa desses berradores. Esta é uma outra estratégia que ele usa para conquistar aqueles que se cansam de ouvir xingamentos e acabam se iludindo com a sua fala mansa e teatralmente equilibrada. Simone Tebet é exemplo desse estilo.

Para os que não se iludem com tom e volume de voz, é o passado desses atores e atrizes que falam mais alto do que eles e desmontam esse teatro político mambembe. Não há grito que apague vídeos, gravações e provas de crimes; não há fala mansa que altere votos no Congresso e reedite declarações comprometedoras. Honestidade na política, na vida pessoal e o histórico de realizações não poderiam jamais ser ignorados na escolha de um candidato. Porém e infelizmente, é o fanatismo e a ignorância que hoje decidem o presente e o futuro desta triste nação.

Recomendo a leitura do excelente artigo de Ricardo Kertzman na revista Isto É (link abaixo). Votaria em Dória como segunda opção, depois de Sergio Moro. No entanto, como eu já havia falado, ambos foram "limados" da disputa pelo PSDB de Aécio Neves, MDB de Renan Calheiros, Cidadania de Roberto Freire e União Brasil de Caiado, ACM Neto e José Agripino, numa manobra orquestrada pelo Centrão. Sim... partidos neste país têm donos. E da pior espécie!

"Coincidentemente", Moro e Dória eram os únicos fichas limpas dessa tal de "Frente Democrática" fake, criada e manipulada a serviço dos bandidos políticos do Centrão.

Artigo de Ricardo Kertzman (aqui)

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Caso Moro: "Não vemos as coisas como são; vemos as coisas como somos."



A frase do título é da poetisa americana Anais Nin. Embora eu seja agnóstico, para desenvolver minha reflexão, acrescento a frase bíblica “Não julgueis” (Mateus 7:1-5), e começo por ela. 

SIM, NÓS JULGAMOS

Bobagem nos aconselhar para não julgar. Já julgamos, continuamos julgando e julgaremos sempre. Se não julgássemos, não conseguiríamos educar nossos filhos, escolher nossos amigos, nossos amores, nossa profissão, ter nossas próprias opiniões, enfim, seríamos um bando de zumbis zanzando pelo mundo sem saber o que fazer. Talvez o errado esteja, não em julgar as pessoas para tirar nossas próprias conclusões antes de decidir, mas em julgá-las, sentenciá-las e crucificá-las publicamente sem direito à defesa. É quando entra a frase reflexiva de Anais Nin: "Não vemos as coisas como são; vemos as coisas como somos."

"AS COISAS COMO SÃO"

Em "as coisas como são", não pode haver opinião ou juízo de valores, mas apenas a reprodução dos fatos sabidos e noticiados. Para não falar apenas de Sergio Moro, quero incluir mais duas personalidades da política: o general Santos Cruz e o procurador Deltan Dallagnol. Podemos ter até algumas dúvidas, mas não creio que afetem a imagem que eles conquistaram com suas atitudes. As de Sergio Moro e Dallagnol envolvem seus passados na Lava Jato e a de Santos Cruz (assim como também a de Moro) envolve a saída do governo Bolsonaro e as críticas contundentes que fez e faz até hoje. Os três têm algo em comum: nunca foram políticos; filiaram-se ao Podemos. Diferenças: Moro saiu como candidato à presidência, mas depois filiou-se ao União Brasil com candidatura indefinida; Dallagnol, primeiro ao Senado, mas como é do Paraná - o mesmo estado de Álvaro Dias -, agora é candidato à Câmara; candidatura de Santos Cruz ainda indefinida.

Dallagnol mantém-se firme. Determinado, para ele tanto faz se o Podemos terá seu próprio candidato à presidência, se apoiará Bolsonaro (como alguns estão dizendo) ou se o partido se manterá neutro. Sua plataforma de campanha não mudará: anticorrupção e ponto final!

Santos Cruz inicialmente incentivado por Sergio Moro, poderia sair como candidato ao governo do Rio, mas após a saída do ex-juiz, sua candidatura permanece indefinida. Quando perguntaram a ele o que ele faria se o Podemos resolvesse apoiar Bolsonaro, em tom de brincadeira disse que se isso acontecesse ele iria tomar conta de sua chácara. Em seguida disse que não sairia do partido e não desistiria de sua eventual candidatura.

Sergio Moro filiou-se ao Podemos para ser candidato à presidência. Após desistir de sua candidatura. poderia optar pelo Senado, mas teria que mudar seu domicílio eleitoral, o mesmo caso de Deltan por ser do Paraná (senador Álvaro Dias). Saiu do Podemos, mudou seu domicílio eleitoral para São Paulo quase que simultaneamente e filiou-se ao União Brasil. Com candidatura indefinida, disse em entrevista que não havia desistido de nada, mas que sua principal intenção era de liderar um projeto com destaque ao combate à corrupção. Recentemente declarou que, se não ficar no partido, abrirá um instituto dedicado à construção de políticas públicas, especialmente dirigidas ao combate à corrupção e à moralização da política.

"VEMOS AS COISAS COMO SOMOS"

Bem, este é o ponto em que começo a opinar, e opiniões envolvem expectativas, frustrações, olhares para o presente e futuro, emoções, pragmatismo e outros exclusivamente pessoais. Eu nunca considerei Moro um herói nem pronunciei ou escrevi essa palavra, mas não cabe aqui explicar o porquê e muito menos de discordar dos que pensam diferente. Apenas acho que paixão é uma coisa gostosa de sentir, mas que se trata de um sentimento desequilibrado no amor e de insanidade na política. Eu me uno às pessoas que têm objetivos nobres e apoiam políticos que também os têm, mas não me apaixono por eles e também não tenho vocação pra fazer parte de torcidas organizadas naquele estilo de pular, gritar e chacoalhar pompons.

TENTE NÃO VER AS COISAS COM OS OLHOS DO CHATO QUE VOCÊ É...

... e nem com os de uma "morete" apaixonada. Avalie as mudanças políticas com um certo pragmatismo. As variáveis que desconhecemos são tantas, que por mais que a gente tente ser empático não consegue. No caso de Moro ele deve saber mais do que nós se está valendo a pena ou não insistir, mas isso não nos impede de opinar com base nas notícias e nas opiniões que lemos. Neste momento não dá pra perder tempo e ficar avaliando o que aconteceu com Moro no Podemos, no União Brasil e com outros outros blá blá blás. Isso é passado! Já sabemos que a podridão política atingiu um nível além do que já era insuportável. E como diz o matuto, dessa touceira do União Brasil não sairá preá. 

Acho que Moro deve tocar seu projeto do Instituto e expliquei no meu post anterior (leia aqui) o porquê. Se esse projeto sair, apoiarei e ajudarei, dentro, obviamente, das minhas limitações, porém, o problema da corrupção não será solucionado de uma hora pra outra, pois, além do Congresso não querer que seja resolvido, nós nos omitimos durante pelo menos 40 anos. Não dá pra eliminar esse câncer administrando aspirina de 8 em 8 horas. Temos que continuar apoiando Sergio Moro, Dallagnol e Santos Cruz, cada um à sua maneira no caminho que escolheu.

Se você desistiu, o problema é seu, mas não atrapalhe os que desejam ao menos tentar melhorar este país.


Poeminho do Contra

(Mario Quintana)

Todos esses que aí estão

Atravancando meu [nosso] caminho,

Eles passarão...

Eu [nós] passarinho!

terça-feira, 31 de maio de 2022

A ÚNICA OPOSIÇÃO QUE NÃO SE VENDE

Se você acha que o regime democrático ainda é a melhor opção, isto implicará em não só entender a definição clássica do termo, mas de também aceitar ser governado pelo que a maioria decidir por meio do voto, mesmo que o resultado dessa votação eleja políticos indesejáveis, seja pelo seu baixo nível de consciência política ou de alguma imperfeição do sistema que um dia essa mesma maioria aprovou. Em última análise, a democracia pode às vezes ser representada pela figura do cachorro que corre atrás do próprio rabo ou do Ouroboros, símbolo que mostra uma serpente em forma circular engolindo seu próprio rabo.

No entanto, votar não é a única forma do povo expressar seus desejos e indignações. Outro elemento fundamental numa democracia é a liberdade de expressão, desde que exercida de forma respeitosa e ordeira conforme estabelecido pelas leis e pela Constituição do país. É bom observar essa particularidade de obediência para evitar a banalização do termo liberdade, coisa que Bolsonaro não entende ou se faz de desentendido quando ataca as instituições e ameaça golpe militar. Ao contrário do que muitos pensam, até o anarquismo - ideologia que não aceita hierarquia - exige ordem. Em resumo, expressar insatisfação com promessas não cumpridas e mentiras ditas durante ou depois das campanhas eleitorais é um direito inalienável de todo cidadão. Eleições são um meio e não um fim, em todos os sentidos.

Portanto, é um grande engano achar que o povo deve resignar-se com suas más escolhas e ficar calado durante 4 anos. Tendo votado neles ou não, o dinheiro que paga os altos salários e mordomias desses políticos não sai apenas do bolso da maioria que os elegeu. Todos eles são nossos empregados, sustentados com os exorbitantes impostos que pagamos e que são, por incrível que pareça, definidos e reajustados por eles mesmos. Agora respondam: quanto tempo duraria uma empresa na qual os funcionários estabelecem o valor dos seus próprios vencimentos? Com os sócios dessa empresa tendo que aumentar seu faturamento independentemente da demanda do mercado ou tendo que recorrer a empréstimos bancários para pagar esses salários? No caso do governo, como não produz e não vende nada, para sustentar as despesas de sua estrutura paquidérmica depende da receita dos impostos pagos pela população. Portanto, quando essa receita é menor do que as despesas só lhe resta aumentar esses impostos ou tomar dinheiro emprestado, empréstimo este que, no final, será pago pelos próprios cidadãos através de mais aumentos de impostos, ou seja, mais um dos Ouroboros da democracia!

Retornando aos políticos, já estamos cansados de saber que suas prioridades são, na ordem: 1) eles mesmos; 2) seus partidos; 3) sua corporação política e, por último, 4) os cidadãos que deveriam representar. Mesmo assim esses aproveitadores só pensam nesses últimos como eleitores em anos eleitorais, contando com o seu silêncio e sua omissão durante os 4 anos de seus mandatos. Enquanto isso, tratam das suas próprias vidas e da sua própria classe, criando leis que os beneficiem financeiramente e outras que os mantenham impunes quando assaltam os cofres públicos. E sempre contando, logicamente, com a ajuda do Judiciário que deveria, em tese, defender as leis e a Constituição Federal, mas que, dividido em confrarias de militantes togados, as interpretam segundo os interesses partidários ou de suas próprias amizades, chegando a distorcê-las ou até aceitar provas ilícitas para livrar a pele de seus apaniguados.

Só uma oposição justa e atuante de senadores e deputados no Congresso poderia ter evitado o Brasil chegar nesse nível de desfaçatez que chegou, mas a oposição que se faz desde o início da chamada "Nova República", nada mais é do que uma oposição ao governante que ascendeu ao poder, independentemente do que ele faz de bom ou de ruim para o país. O que importa é tomar ou retomar esse poder, de preferência obedecendo a Constituição Federal. Diante disso, que alternativa nos resta, já que o sistema de autoproteção engendrado por esses políticos bandidos, blindou a maioria corrupta do Congresso, protegendo-a dos poucos parlamentares dignos que se opõem a ela?

A única solução que temos para romper a blindagem desse sistema corrupto é a de criarmos uma oposição popular externa composta por milhões de cidadãos de bem unidos por seus nobres ideais. Essa oposição jamais se venderia ou se entregaria ao fisiologismo político-partidário e não se corromperia por dinheiro, por emendas secretas ou pelos favores que lhes fossem oferecidos. O grupo estaria focado no fim da corrupção e no retorno proporcional e justo dos extorsivos impostos que pagamos para que o povo tenha uma vida minimamente digna.

Num cálculo rápido, podemos afirmar que hoje existem ao menos 35 milhões de eleitores divididos em vários grupos que não votariam em Lula ou Bolsonaro. O problema é que após as eleições esses grupos ressentem-se da derrota e se dispersam, ignorando o período de mandato dos eleitos para voltarem apenas depois de 4 anos numa nova tentativa de eleger algum herói que se comprometa a recuperar esse tempo perdido. Será que os cidadãos desses grupos deixarão de trabalhar, pagar impostos e educar seus filhos nesses 4 anos?

Não! O povo não pode viver eterna e literalmente "de quatro" pra esses bandidos. Ao contrário, nossa atuação deve ser mais presente e intensa depois que os candidatos forem eleitos para depois não dizermos que fomos pegos de surpresa. Não pode haver surpresa quando se tem um eficiente meio de comunicação (imprensa e redes sociais) que divulga os projetos que estão sendo votados no Congresso e nos alerta sobre os impropérios cometidos pelos maus políticos. Não há desculpa para esse tipo de indiferença e omissão. Se não assumirmos o compromisso de acompanhá-los, protestarmos e os cobrarmos durante os seus mandatos, depois não adiantará reclamar e nos fazermos de vítimas dizendo que a política brasileira está podre, como se isso fosse obra do acaso. 

Já passamos da hora de criarmos vergonha na cara e assumirmos o papel de cidadãos conscientes, protagonistas do próprio destino. Caso contrário só nos restará uma opção: comprar uma sela confortável e macia para não machucar nossas costas enquanto cavalgarem em cima de nós por mais 4 anos.






sábado, 28 de maio de 2022

Só a Justiça poderá salvar a própria Justiça


Preocupa-me publicar textos longos. Infelizmente a maioria dos brasileiros passou a preferir videozinhos curtos, tiras, imagens e figurinhas animadas. Não é à toa que o Brasil foi o único do mundo a cair no ranking de QI médio enquanto ele cresceu em praticamente todos os países nos últimos 100 anos. Alemanha e EUA, crescimento médio de mais de 30 pontos; Quênia e na Argentina, cerca de 25 pontos e na Estônia e no Sudão, 12 pontos são alguns exemplos.

No Brasil foi o contrário. O QI médio caiu quase 10 pontos nos últimos 100 anos. Talvez esse emburrecimento seja único na história da humanidade. Nosso QI médio é de 87, o que nos coloca, na média, no limite da deficiência intelectual. Porém, mudanças profundas não ocorrem do dia pra noite, e chegará o dia em que cidadãos brasileiros não serão mais guiados por palavras de ordem e pelo populismo barato dos autocratas, mas sim pela lógica dos fatos e do raciocínio..

No meu post anterior (Poucos, insuficientes ou covardes?), referi-me à classe brasileira atual do Direito que, com sua minoria barulhenta e antiética, optou por exaltar a impunidade como forma de conquistar clientes corruptos para ganhar dinheiro. Até então, advogados criminalistas que obtiam sucesso em suas defesas restringiam-se a fazer declarações técnicas nas saídas dos tribunais e silenciavam-se. Hoje, a OAB permite que façam propaganda de suas vitórias incentivando a prática do crime apelando para um "garantismo torpe", no qual a garantia não está no direito de defesa, mas sim na certeza quase absoluta da impunidade.

Mas neste mar infindável de insanidades jurídicas a gente ainda consegue encontrar algumas ilhas habitadas por advogados sensatos como Eduardo Dutra Aydos. Como na citação de André Gide ao encerrar meu texto no post Poucos, insuficientes ou covardes?: “Acredito na virtude dos pequenos números, o mundo será salvo por um punhado de homens [e mulheres, óbvio].”

Leiam:


CARTA ABERTA

Aos delegados, advogados, promotores e magistrados éticos do Brasil.

Como advogado, a defesa do direito; como cientista político a defesa da república e da democracia; como cidadão, que recebeu da sociedade (família, comunidade e Estado) o privilégio dessa formação e o múnus do respectivo testemunho, a responsabilidade da sua postulação, espontânea e despretensiosa, nas causas públicas que o mundo da vida nos desafia. São essas, as credenciais, que emulam o meu agir e fazer comunicativos neste canal de autorreflexão participativa.

Não tenho procuração de Sérgio Moro para a sua defesa; não o conheço pessoalmente, nunca o encontrei e nunca falei com ele. Mas advogo, em causa pública, o que ele representa na comunidade jurídica, e postulo a relevância política do resgate à dignidade do combatente contra a corrupção e do homem público, que a jurisdição de conveniência STF injustiçou perante a Nação.

Sério Moro foi linchado pelo Supremo Tribunal Federal na interconexão processual de duas decisões que, sucessiva e cumulativamente, declararam a anulação, por pretenso vício de competência, e a nulidade por exceção de suspeição, dos processos do Triplex do Guarujá e do Sítio de Atibaia, que condenaram o ex-Presidente Lula.

O retorno à pauta, pelo Ministro Gilmar Mendes, de um habeas corpus cominado com exceção de suspeição – notoriamente orientado a um acerto de contas com a Operação Lava-Jato, na pessoa de um dos seus protagonistas, o ex-Juiz Sérgio Moro, desencadeou uma manobra processual, por parte do Ministro Edson Fachin, em forma de decisão monocrática, ad referendum do Tribunal Pleno, com duas possíveis e jurídicas consequências: a carência de objeto do juízo de suspeição e o resgate da prova e ratificação das sentenças pelo juízo declarado competente.

Entendo que a decisão monocrática do Ministro Edson Fachin é nula pleno direito por direta e expressa violação do princípio do Juiz natural e das disposições legislativas pertinentes. Essa matéria é suscetível de arguição mediante a postulação de ação rescisória da decisão monocrática e do Acórdão que a referendou, na competência legitimada ad causam do Parquet. (Anexo, meu parecer jurídico, sobre a expressa violação de matéria legal pela decisão monocrática, publicado em 10 de março de 2021.)

Ademais, é consabido que esse expediente não funcionou. O Ministro Gilmar Mendes decidiu, mesmo assim, colocar em pauta o hábeas corpus engavetado, objetivando imprimir à inclusa exceção de suspeição efeito de nulidade, em sede de decisão regimentalmente terminativa.

Adrede endereçada à inviabilização do resgate à coleção de provas e da ratificação das sentenças, proferidas pelo juiz Sérgio Moro em causas do excipiente, essa decisão alcançou os seus jurídicos efeitos – quais foram, a absolvição técnica do réu condenado no mérito dos respectivos processos e o arquivamento dos processos do Triplex de Guarujá e do Sítio de Atibaia.

E, não obstante, por múltiplas e expressas violações da lei e da Constituição – entre as quais realça o uso de prova ilícita - o julgamento e o acórdão que declararam a suspeição de Sérgio Moro e deferiram o habeas corpus de Luis Inácio Lula da Silva, são NULOS DE PLENO DIREITO. (Anexo parecer jurídico, publicado em 20 de fevereiro de 2022, e demais escritos pertinentes à denúncia fundamentada do linchamento político de Sérgio Moro pela 2ª Câmara do STF e à violação expressa de dispositivo legal-constitucional que, neste caso, desafia ação rescisória a ser tempestivamente impetrada pelos respectivos legitimados ad causam).

Ainda, na sequência dessa interconexão processual iníqua, a submissão posterior da decisão monocrática do Ministro Edson Fachin ao Pleno, no tocante aos seus efeitos materiais sobre a higidez do processo – quais sejam, a respectiva anulação e seus jurídicos efeitos - perdeu objeto, prejudicando, destarte, a respectiva apreciação pelo Tribunal.

No ambiente, visivelmente tenso e conflitual, em que estes fatos ocorreram, o leite já estava derramado... Ao observador atento do julgamento pelo Pleno, não passou desapercebido o flagrante constrangimento, na declaração virtual do seu voto pelo Ministro Luís Roberto Barroso.

Calou fundo a impressão de que, face ao prejuízo dos efeitos materialmente relevantes da decisão monocrática sub judice, alguns Ministros acompanharam o Voto-Relator, mais por solidariedade na derrota do seu intentado expediente, do que pela convicção jurídica do vício de uma competência que, além de mantida ao longo de todo o processado, já fora objeto de decisão pelo próprio STF.

Ao exame dessa interconexão processual, realça a iniquidade da sua jurídica repercussão, encorajando uma nova e solerte indústria de indenizações, cujo carro-chefe já foi colocado em movimento em forma de indecorosa petição de ação popular, movida por quatro deputados do Partido dos Trabalhadores contra o ex-Juiz Sérgio Moro, alegando contra o mesmo a própria desídia dos condenados da Operação Lava-Jato.

Vergonha suprema sobre a magistratura brasileira, já está sendo lançada aos ventos midiáticos da respectiva e indecorosa denunciação, pelo mero recebimento da petição, inepta de pleno direito, na Segunda Vara Federal de Brasília. (Anexo meu parecer jurídico, publicado em 02 de maio de 2022, sobre a inépcia do pedido e a iniquidade dessa pretensão.)

Acabo de assistir uma série mexicana pelo NETFLIX: 'CORAÇÃO PARTIDO' ('Pálpito' no título original. Aborda, dramática e caricaturalmente, a hediondez do tráfico internacional de órgãos, e da rede de corrupção políticoadministrativa e profissional que o sustenta. Uma exuberante atleta e artista é assassinada, para retirada do seu coração e implante numa paciente terminal.

Dada máxima vênia – pela crueldade e insanidade da trama que o streaming revela – a realidade material dos fatos, em realce nessa crônica da nossa jurisdição de conveniência, autoriza a analogia extrema: do linchamento profissional de um magistrado, que teve o seu coração arrancado, para o implante e sobrevida política de um condenado.

E, assim posto o fato, politicamente hediondo, resta no ar a pergunta que não cala:

Senhores operadores do direito, vocês vão permitir que isso continue acontecendo?


Gravataí, 09 de março de 2022
Eduardo Dutra Aydos
Advogado e cientista político


Leiam também:

"Tudo pago por administradores judiciais, advogados, leiloeiros e um banco que têm R$ 8 bilhões em causas com estes magistrados"

Poucos, insuficientes ou covardes?



Os absurdos são tão grandes, seja na OAB, no STF ou no Ministério Público liderado por Aras, que deixariam Rui Barbosa e Afonso Arinos com vergonha de serem brasileiros e pertencerem à classe. Em situações muito menos dramáticas que as do nosso país nos dias atuais, esses juristas pronunciaram discursos históricos considerados até hoje referências no estudo do Direito.

Só a coragem de cidadãos como eles poderia enfrentar e vencer a audácia dos bandidos políticos e de seus defensores nos dias de hoje, mas apesar do país contar com mais de um milhão de aprovados nos exames da OAB - fora os bacharéis que não exercem a profissão - não há nenhum grupo organizado de indignados em número suficiente para enfrentar esses seus colegas que desmoralizam a categoria.

Em qualquer país razoavelmente democrático, já haveria, não apenas um, mas um sem número de juristas revoltados com essa situação não só de profunda injustiça como vexatória internacionalmente. Enquanto esses cidadãos de bem não reagem, os ratos da corrupção e seus defensores imorais sobem e sapateiam sobre os corpos dos milhões de brasileiros mortos nos corredores do SUS, nas mesas dos miseráveis e famintos e até dos injustiçados esquecidos nos presídios.

Enquanto esses medrosos e indiferentes cultuam seus espíritos de corpo ou se escondem sob o manto da covardia, juízes são condenados, bandidos são ressarcidos do fruto de seus roubos e os marginais dos três poderes, unidos no crime, enriquecem ilicitamente às custas do suor do nosso trabalho e dos extorsivos impostos que pagamos.
No entanto, ainda acreditamos na vitória desses poucos que acreditam na verdadeira justiça. Como escreveu o filósofo André Gide, “Acredito na virtude dos pequenos números, o mundo será salvo por um punhado de homens.”


ESTE É O SÍMBOLO DA DESFAÇATEZ DO ATUAL DIREITO



sexta-feira, 13 de maio de 2022

SEUS FILHOS VOTARÃO EM BANDIDOS?


Fico imaginando o diálogo entre pais que defendem Bolsonaro ou Lula com seus filhos adolescentes que votarão pela primeira vez e leram suas capivaras. O que será que eles respondem quando são questionados sobre o conceito de honestidade que lhes ensinaram?

O pai é motorista de caminhão. Após três dias fora, chega em casa tarde da noite o filho adolescente ainda está acordado:

– Oi filho! Ainda acordado?

– É que o sr. sairá amanhã cedo de novo e um homem veio aqui deixar um papel que disse ser importante.

– Que papel? Deixa eu ver. Ah, eu sabia... é do Cartório de Protestos. Há dois meses não consigo pagar a prestação do meu caminhão.

– Caramba, pai... mas o senhor trabalha tanto!

– Sim, filho, mas há dois meses não me pagam o frete. O aluguel também já venceu e ainda não consegui pagar o Imposto de Renda.

– Poxa... trabalha duro e ainda tem que pagar imposto!

– Todo cidadão de bem precisa pagar seus impostos, filho. Com eles que constroem e melhoram escolas, hospitais, estradas...

– Mas pai, minha escola tem rachadura nas paredes e a biblioteca tem goteiras; a vovó no ano passado ficou um dia inteiro deitada no chão do hospital esperando vaga e o sr. já trocou dois pneus do caminhão em um mês por causa das estradas com buracos. Por que não melhoraram isso com esse dinheiro dos impostos?

– Ah, filho! Você ainda é muito jovem pra entender essas coisas.

– Sou não pai... ontem fui tirar meu título de eleitor e neste ano vou votar pela primeira vez. Não sou tão criança assim!

– Caramba, como o tempo passa. Ontem mesmo você ainda era uma criança!

– É que o sr. sempre trabalhou muito e não viu o tempo passar. Já andei lendo e me informando sobre alguns candidatos. 

– E o que você leu?

–  Ah, sobre Bolsonaro, Lula, alguns deputados e senadores. Li que muitos estão roubando. No Congresso eles recebem R$ 180 mil por mês entre salários, funcionários, convênios médicos, combustível, viagens. O presidente tem cartão de crédito e gasta milhões por mês além do salário e as mordomias que tem e o patrimônio da família cresceu além daquilo que poderiam ter comprado. Os anteriores roubaram a Petrobrás, pagaram mensalão, compraram sítios, triplex... ganham tudo isso trabalhando 3 a 4 dias por semana e ainda fazem rachadinhas com os salários dos funcionários e desviam dinheiro de licitações e de empresas estatais. São os nossos impostos que também pagam eles né?  

– Você precisa tomar cuidado com aquilo que lê, menino! Tem muitos jornais que atacam um político porque querem que o outro ganhe e continue dando dinheiro pra eles.

– Mas pai, eu vi vídeos e gravações no Youtube que foram feitas pela polícia e mostram eles roubando. Não há como negar!

– Mas quem decide isso é a justiça. Provas não dizem muito antes dos processos serem julgados pelo Supremo. 

– Mas pai... eu vi que o Gilmar Mendes, o Lewandowski, o tal de Kássio e o Tofolli...

O pai interrompe:

– Filho, já é tarde. Estou cansado. Amanhã vou acordar às 4 da manhá e você também acordará cedo pra ir na escola. Bom a gente ir dormir.

– Só mais uma pergunta. Você vai votar em quem?

Resposta 1:

– Bolsonaro, lógico! E você também vai. Só com ele o Brasil não será um país comunista. Você quer morar num país comunista?

Resposta 2:

– Lula, lógico! E você também vai. Só com ele o Brasil não voltará a ser uma ditadura militar. Você quer morar num país com ditadura militar?

– Mas pai, você não me ensinou que é errado roubar? Você trabalhando duro pra pagar impostos e eles roubando o dinheiro que iria pra escolas, hospitais, estradas...

– Filho, estou cansado, tenho que acordar cedo. Você não entende nada de política. Dorme com Deus.

– Que Deus? Aquele deles ou o nosso?

– Chega de perguntas e já pra cama! Saco de menino!

– Ta bom pai... eu só queria entender... você e eles.


 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

A administração brasileira do Twitter está militando


Além da minha própria conta @PuraReflexao que existe desde 2008 - início do Twitter - ter sido bloqueada por denúncias massivas da militância petista, inúmeros amigos e amigas - "coincidentemente" apoiadores de Sergio Moro - estão com o mesmo problema no @TwitterBrasil. 

Os recursos não são analisados, embora haja resposta automática dizendo que em até cinco responderão,  os responsáveis não respondem. Eles simplesmente mantém a penalidade e não dizem o porquê do bloqueio, mesmo mandando 1, 2, 3 ou mais recursos. Nem dão satisfação, negando o seu direito de defesa, coisa que até assassinos confessos têm. Recebo várias ofensas e respondo no debate. Quer dizer que de agora em diante, se eu me sentir "ofendidinho" com um comentário ou post, tenho que "combinar" com meus colegas para denunciar massivamente quem me incomondou e "block"? Não acredito... a tal da comissão que avalia tem lá suas preferências. Dependendo da ideologia ou partido de quem recebe o recurso ou a denúncia você estará excluído ou salvo.

Chegaram ao cúmulo de bloquear um amigo porque ele chamou o político de "gagá" e uma colega porque chamou o político que não aceitou a crítica de analfabeto funcional. O Twitter Brasil está sendo administrado por Monges Beneditinos? Ou Putin comprou a parte de Elon Musk?

Anunciantes, a política e a democracia perdem. Continuando assim, a rede social não emplacará 2023. E eu terei o maior prazer de contribuir para que isso aconteça.

Até Elon Musk sabe disso.




The Brazilian administration of Twitter is biased

In addition to my own account @PuraReflexao, which has been active since 2008 on the so-called early Twitter platform, I have been blocked by massive denunciations by the militancy of the Workers Party (PT in Portuguese), and so have countless friends of mine, who, "coincidentally",  support current candidate to the Presidency Mr. Sergio Moro. They are having the same problem on the @TwitterBrasil platform.

When one appeals, these are not properly analyzed, though there is an automatic response saying that within five days the platform will respond. However, those responsible for the review of such appeals generally do not respond within that timeframe. They simply keep the suspension of the user and do not say why the account has been locked, even after the user submits 1, 2, 3 or more appeals. The platform does not even give a justification, thus denying the user’s right of defense, something that even confessed murderers do have in a democracy. I get a lot of offenses and I rebut them in the debate. Does that mean that from now on, if I feel "offended" with a comment or post, I have to "seek agreement" with my colleagues to massively denounce the individuals who offended me and "block" them? I do not believe that! I think the commission evaluating the appeals probably have their own preferences. Depending on the ideology or party of the reviewer, the user’s appeal or complaint will face its fate of either being allowed back or continuing being excluded from the platform.

The absurd is that they even blocked a friend of mine because he called a politician a "gaga" (crazy). Another colleague of mine was blocked because she called a politician, who did not accept the criticism, a “functional illiterate”. Is Twitter Brazil being administered by Benedictine Monks? Or did Putin buy Elon Musk's share?

Advertisers, politics and democracy will lose if this situation is not tackled. Continuing this approach, it is likely that the social network will not ring 2023. And I will be happy to contribute to that fate.

sábado, 23 de abril de 2022

Há clima em 2022 como havia em 1964?


Só há dois tipos de pessoas que veem o mesmo clima de 64 em 2022: a direita radical saudosista e a dos enrolados com a justiça. Quem viveu ou leu e estudou atentamente a história do golpe militar, sabe que não há relação entre aquele período e o atual. Nem forçando a barra haveria clima para qualquer tentativa de Bolsonaro e muito menos dos atuais militares que jamais decidiriam embarcar numa aventura dessas. Os generais que hoje estão no governo, nem de longe lideram as Forças Armadas e têm poder decisório para rasgar a Constituição Federal. Intervenção constitucional não existe, e esse assunto já foi amplamente debatido e dissecado pelos mais insuspeitos e renomados juristas brasileiros.

Internamente haveria revolta, independentemente das posições ideológicas dos revoltosos. Não há apoio da mídia como havia na época e muito menos o nível de acesso à informação que a população tem hoje. O hormônio da liberdade comanda a mente e a consciência dos cidadãos, dos pré-adolescentes aos octogenários de ambos os sexos e de suas variantes. O nível intelectual da população pode até ser menor que o daquela época, mas a ordem de valores mudou completa e significativamente. Não há sentimento de segurança que supere a ausência dessa liberdade.

Internacionalmente, as mudanças que ocorreram foram bem maiores. Na época da guerra fria havia apenas dois polos representados pelos EUA e pela URSS, ou seja, capitalismo e comunismo. Hoje esses dois extremos ganharam nuances, afetados pelo progressismo. Basta ver que tanto a Alemanha conservadora (no período de Angela Merkel) quanto a França socialista de Macron apresentavam  e ainda apresentam  pontos em comum no aspecto humanista, coisa que naquela época jamais aconteceria entre o comunismo e a democracia. Já no aspecto econômico, as distinções são ainda maiores. Além de não contar com o apoio ideológico (ou interesseiro, como queiram) dos EUA como naquele período, hoje o Brasil depende comercialmente do mundo e nenhum país está disposto a bancar uma decisão apenas ideológica, exceto Rússia e China. Mas será que os militares brasileiros estariam dispostos a submeterem-se ao domínio de países tradicionalmente "comunistas" e abrirem o território brasileiro para bases militares apenas para salvar a pele de Bolsonaro e de sua família de rachadores?

Hoje o Brasil é visto como um pária. Tem uma política internacional confusa, inconsequente e inconsistente, cheia de paradoxos como o humor bipolar de Bolsonaro. Somos alvos de gozações nos telejornais dos países mais democráticos do mundo, das conversas com seus militantes no chiqueirinho aos discursos em rede nacional; do negacionismo ao tratamento precoce durante a pandemia e das declarações de amor a Trump ao apoio e solidariedade a Putin. 

Um golpe neste século XXI seria um míssil no próprio pé. O Brasil já está na lama, destroçado por suas próprias instituições que constitucionalmente deveriam defendê-lo, colocando país e seu povo acima  de interesses pessoais e ideológicos. Patriotismo é algo vazio sem o verdadeiro sentimento de Nação, aquele que respeita não só um território, um hino e uma bandeira, mas também seu povo e seus ancestrais que lutaram por um futuro completamente diferente do presente que temos hoje.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

POR QUEM OS SINOS DOBRAM

O humanismo seletivo ainda é o campeão, o grande vilão dos nossos próprios males, da sociedade e do mundo em que vivemos. Um paradoxo se pensarmos que não existe "meio amor" pelo próximo. Diferente daquele movimento intelectual do século XV de valorizar tudo aquilo que envolve sentimentos de compaixão, generosidade e preocupação em relação às realizações humanas, o humanismo verdadeiro ganhou um sentido muito mais amplo. A preocupação com a natureza, os animais, o ar que respiramos que não são realizações humanas, devem entrar nessa complicada equação que revela o verdadeiro "humanista".

Vemos hoje pessoas revoltando-se com certas injustiças e ignorando outras, fazendo de conta que não as veem. O que vi de políticos corruptos e figuras do judiciário como Gilmar Mendes lamentando e prestando solidaridariedade aos parentes dos mortos de Petrópolis, não está escrito. Hipócritas! Roubam dinheiro público ou libertam ladrões e empresários poderosos, mas quando uma tragédia alcança a imprensa, vêm todos fazer média com o eleitorado ou tentando amenizar, não o remorso porque não têm, mas a sua imagem pública já deteriorada e desprezada.

Esses hipócritas - e isso vale também para os que os defendem com unhas e dentes por militância - deveriam todos os dias lamentar e pedir desculpas à Nação. No entanto, como o sofrimento e as mortes de centenas de milhares de miseráveis anônimos vítimas da corrupção não saem nas primeiras páginas dos jornais, o que os olhos não veem o coração não sente.

Voltando ao tema "conhecer as pessoas", sinceramente me decepcionei com um sem números de falsos humanistas que trazem na ponta da língua aqueles únicos argumentos de que os "seus bandidos" roubaram mais do que os nossos e fizeram menos vítimas. Que ignoram mortes e sofrimento quando os carrascos são do outro time.

Trato bem, procuro ser educado e tomo até um cafezinho sem tocar no assunto, mas dispenso qualquer tipo de amizade com pessoas que têm esse perfil patológico.

"A morte de cada homem diminui-me porque sou parte da humanidade. Portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram; eles dobram por ti" (John Donne)

domingo, 28 de novembro de 2021

A ciência e a realidade não podem ser deformadas pelo fanatismo

Jamais compartilhei uma informação de utilidade pública preocupado se estou sendo otimista ou pessimista, mas sim se ela contribui ou não para ajudar os amigos e amigas que me seguem. A ciência e a realidade não podem ser deformadas pelo fanatismo, por más intenções ou convicções. Fazer isso, além de irresponsabilidade é burrice, pois, não escrevemos apenas para os que concordam ou se opõem às nossas ideias políticas, filosóficas ou religiosas. Temos família e amigos que amamos.

Independentemente do que eu desejo ou gostaria, a realidade se impõe para os que não vivem num mundo de ilusões. Reavalie sempre e raciocine periodicamente sobre a sua responsabilidade social e não subestime a força de suas palavras.

O vírus não foi embora e não irá tão cedo, e digo isto baseado na única certeza que temos: seu histórico recente. Se você não é cientista apenas raciocine e não se aventure a contrariar a ciência e muito menos os fatos por razões menores.

Carnaval ou qualquer outra atividade que promova aglomerações neste momento é pura irresponsabilidade; é dar vazão aos instintos, deixando prevalecer o atavismo animal.

Tomem todas as vacinas a que têm direito, inclusive a de reforço, e jamais subestime a força de algo que não conhece e nem tem a capacidade de julgar conhecer. Evite aglomerações e use máscara.

Quando você ou algum parente já estiver na UTI, de nada adiantará dar conselhos ou pensar que poderia ter feito diferente.



terça-feira, 14 de setembro de 2021

AS MANIFESTAÇÕES DO DIA 12 FORAM UM FIASCO?




Desde o início deste século, a despeito dos conservadores da imprensa e da política, tudo que envolve a tecnologia da informação tem mudado numa velocidade exponencial. Os que tentam prever tendências e mudanças baseados na linha simétrica do tempo, seja do passado distante ou recente, têm cometido erros grotescos. Muito utilizado pelos políticos, os indicadores baseados no empirismo acumulam derrotas crescentes, não menores que os científicos utilizados nas pesquisas de opinião.

As variáveis que envolvem esses dois tipos de previsões não mudaram tanto, com exceção das ideológicas que afetam mais fortemente as empíricas, mais especificamente as que envolvem comportamento do eleitor. No caso das previsões baseadas na ciência da estatística, até agora novas variáveis como frequência dos levantamentos e representatividade amostral não foram adaptadas às mudanças ocorridas na vida do público eleitor diante da velocidade da informação e do desencanto com políticos e ideologias.

Diante dessas mudanças comportamentais dos eleitores relacionadas à velocidade da informação, é possível dizer que as manifestações do dia 12 foram um fiasco? Com que régua mediram? Experiência do passado e público presente? 

Das manifestações de junho de 2013 para cá, as mudanças foram profundas e só quem não quer não percebe que a quantidade de manifestantes nas ruas não reflete tanto a realidade quanto refletiu naquela época. Basta ver os que hoje são favoráveis a uma terceira via - percentual que nenhuma pesquisa de opinião até agora conseguiu apontar com precisão - em relação à polarização ideológica nas eleições de 2022. Só há dois motivos para que, tanto os grandes veículos de comunicação quanto institutos de pesquisa, insistam nessa cegueira: militância jornalística ou incompetência técnica. As diferenças entre expectativa e realidade são tão grandes que desmoralizam ambos os segmentos, e continuando nessa mesma toada, tudo indica que essa desmoralização terá seu ápice em 2022.

Tanto é verdade que não vimos grandes manchetes com o título "fiasco" para as manifestações do último domingo. As chamadas nos jornais foram cuidadosas, como se reconhecessem não haver correspondência direta entre o número de participantes e o real que representa a terceira via. Só vimos esse tipo de comportamento nos representantes políticos dos dois extremos que sonham em cooptar eleitores indecisos ou insatisfeitos para seus polos ideológicos.

Na verdade, hoje em dia só existe manifestação com número significativo quando há envolvimento ideológico ou no caso de uma convulsão social. No quesito ideológico, os fanáticos e bem estruturados em termos de comunicação, são os maiores responsáveis pela mobilização daqueles que ainda têm a ilusão de que a ideologia supera qualquer obstáculo e tem mais valor do que um candidato ficha limpa e bem intencionado. No quesito social, a convulsão motivada pelo cansaço em relação aos abusos políticos, desemprego, aumento de preços, impunidade e outros motivos de natureza existencial, a mobilização é espontânea e altamente perigosa para as instituições e para a ordem social. Era o que poderia ter acontecido em 2016 caso o impeachment de Dilma não fosse acatado. Porém, na época as ruas eram termômetros confiáveis, mas hoje não.

Portanto, cabe aqui um recado aos que se tranquilizaram com o pequeno público das manifestações do dia 12. Não se guiem pelas aparências e por cálculos políticos baseados no comportamento da população do século passado, nem das duas primeiras décadas deste século. Os termos "exponencial" e "linha do tempo simétrica" que mencionei no início deste texto são antagônicos. Se os veículos de comunicação, institutos de pesquisa e os próprios políticos não acordarem para este novo tempo, sofrerão uma derrota fragorosa e acachapante nas eleições de 2022. No caso dos políticos e partidos, não bastará apenas prever corretamente o futuro, mas principalmente mudar seus hábitos do presente.

Que atentem para aquele ditado popular que diz, "Quando a única ferramenta que se conhece é martelo, todo problema que aparece é prego". A mentira e a contrainformação são martelos inúteis diante da realidade que passou de percebida para vista e presenciada.

E que está longe de ser um simples prego.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

SETE DE SETEMBRO: PATRIOTISMO OU PATETICISMO?

 



Se todos os que utilizam frases de efeito para justificar suas atitudes, conhecessem o verdadeiro significado das palavras que usam, ficaríamos livres, pelo menos, da metade deles. No caso específico de política e cidadania, as que mais são maltratadas e vilipendiadas são: “país”, “pátria” e “nação”. Isto se deve a vários fatores que vão do analfabetismo gramatical ao conceitual, aliados ao ufanismo patriótico promovido nos governos militares. Calma! Por enquanto minha preocupação está em apenas constatar uma realidade, e não em criticar cidadãos ou governos anteriores.

Porém, embora não seja possível mudar o passado, mudanças que começam no presente para mudar o futuro não são apenas possíveis como também necessárias. Não estamos falando apenas sobre o conhecimento da língua portuguesa, de dicionários, regras gramaticais e questões semânticas, mas sim de algo muito mais profundo relacionado a conceitos e falsos sentimentos que, por sua vez, provocam reações e atitudes equivocadas.

Quem acompanha esta minha coluna política no “Fazendo a Coisa Certa”, já sabe que tenho “martelado” nos significados das palavras, pois, acredito que a maioria dos problemas e desentendimentos entre militantes ou não militantes, políticos e não políticos - e até entre os três poderes da República - é muito mais conceitual do que ideológico. Resumindo, o militante precisa ao menos saber que é militante, o fanático que é fanático e o independente que não é tão independente quanto imagina ser. A consciência cidadã necessita de autocrítica e constante reflexão para evoluir e crescer.

Retomando então o assunto do parágrafo inicial, vamos aos significados no dicionário das palavras “país”, “pátria” e “nação”:

  • PAÍS*: Região geográfica considerada o território físico de um Estado Soberano, ou de uma menor ou antiga divisão política dentro de uma região geográfica.

  • PÁTRIA*: País em que se nasce e ao qual se pertence como cidadão.

  • NAÇÃO*: agrupamento político autônomo que ocupa território com limites definidos e cujos membros respeitam instituições compartidas (leis, constituição, governo). É definida pelo conjunto de características culturais, tradições, língua, costumes, entre outros fatores, que formam um grupo no qual os indivíduos se identificam e se sentem parte dele. As nações antecedem o Estado e tem um caráter mais subjetivo e humano.

Como puderam perceber, “nação” tem um sentido amplo e profundo, envolvendo cultura, humanismo e respeito aos antepassados com suas lutas e tradições seculares. É muito fácil dizer-se patriota pondo a mão no peito ao ouvir o Hino Nacional ou reverenciando os símbolos da Pátria. O sentimento de amor à nação não pode excluir seu povo, suas origens e direitos iguais. Vejo muitos brasileiros – se é que podemos chamá-los assim – agredindo e odiando seus concidadãos por diferenças ideológicas, de sexualidade, cor, sexo e outras. Vemos depois esses mesmos intolerantes emocionando-se e até chorando ao cantar e ouvir o hino quando, por exemplo, um atleta brasileiro sobe ao pódio para receber sua medalha em disputas internacionais. Sem o sentimento de amor à nação, essa demonstração de patriotismo é vazia e patética.

É sempre bom lembrar que o termo “nacionalismo” deriva da palavra “nacional” num sentido ufanista, eugenista e segregacionista. Foi muito usado por aquele ditador de bigodinho que governou a Alemanha nazista e pelo careca fascista da Itália. Albert Einstein, que sofreu com o nazismo, resumia o nacionalismo com uma frase que se tornou histórica: “Nacionalismo é doença infantil; é o sarampo da humanidade.”

Embora sejam elementos importantes na composição de sua identidade formal, o Brasil jamais será respeitado apenas pelo tamanho de seu território, por suas belezas naturais e potencial ecológico ou pelo patriotismo e tradições culturais de seu povo. Para ser respeitado como Nação, é preciso que nosso país seja governado por um presidente comprometido com o combate à corrupção e com a redução das desigualdades sociais. É preciso também que esse governo esteja amparado por leis justas que sejam aplicadas sem exceções e julgadas de forma isenta, sem a concessão de privilégios aos “mais iguais” que os outros.

Toda essa abordagem foi necessária para refletirmos sobre as manifestações do próximo 7 de Setembro. Pelo perfil dos militantes pró-Bolsonaro, certamente veremos muitos desses patriotas ufanistas – e até nacionalistas – portando faixas com frases patrióticas, de amor ao país, de agressão aos ministros do STF e pedindo o fechamento da instituição. Dificilmente encontrarão outras com críticas à inflação, ao desemprego e à impunidade (exceto à de Lula). E se perguntarem a eles sobre a alta do dólar, dos preços dos alimentos e das mortes na pandemia, certamente ouvirão deles que tudo isso aconteceu porque “não deixaram o homem governar”. E sobre as rachadinhas da família, as mansões, a corrupção no Ministério da Saúde, o Fundão e a distribuição de cargos para o Centrão, caso encontrem alguém que não lhe dê um tiro de fuzil ao fazer essas perguntas, a resposta será a mesma de sempre: E daí? O PT roubou muito mais.

Na verdade, pior do que a polarização ideológica é a unificação da ignorância, do desprezo às leis e à dignidade do ser humano. Todas ideologias morreram. Já esta mais do que provado que o problema está mais no ser político do que nelas em si. Ideologias são escritos em papel que podem sem alterados e adaptados para uma realidade não prevista, ao contrário do ser político que não resiste ao desejo de se eternizar no poder quando o conquista. Em maior ou menor grau, corrompem-se com encanto da riqueza e apropriam-se indevidamente do dinheiro dos impostos que são pagos com o suor do cidadão trabalhador.

Porém, um país só evolui por meio de erros e acertos. O que não podemos é ficar errando eternamente. Em 2022, podemos até ficar indecisos sobre o melhor candidato ou candidata para governar o país, mas não poderá haver dúvida nenhuma sobre aqueles que jamais poderão ser eleitos ou reeleitos.

Minha avó já dizia que errar é humano, mas persistir no erro é pura estupidez.



*Definições encontradas no “Oxford Languages” e nos sites “Wikipédia” e “Politize!”


quinta-feira, 6 de maio de 2021

LIBERDADE, EUGENIA E DARWINISMO SOCIAL

Muitos ainda não entenderam a gravidade da clara proposta ou intenção de Bolsonaro de optar pela contaminação espontânea da população brasileira pelo coronavírus para atingir a imunidade coletiva ou de rebanho, baseado no que ouviu inicialmente de Osmar Terra, seu amigo e conselheiro "sanitarista". Esse último, cometeu recentemente a burrice de dizer que "não será a vacina que acabará com a pandemia, mas sim a imunidade coletiva". Ora ora... o gênio que se diz expert em saúde pública faltou às aulas em que seus professores explicaram que as vacinas ACELERAM O PROCESSO para atingir a imunidade coletiva ou de rebanho reduzindo drasticamente o número de hospitalizados e de mortos.

Sob o manto da liberdade de ir e vir, Bolsonaro detonou uma verdadeira guerra contra governadores e prefeitos, incentivando a abertura do comércio e volta à vida normal, caminhando na contramão dos países mais democráticos do mundo, ganhadores de quase 200 prêmios Nobel de Medicina e Fisiologia que adotaram o isolamento, máscaras e outras medidas profiláticas.

Que liberdade? A de ir, vir, contaminar e matar? Liberdade é um termo que envolve necessariamente responsabilidades e escolhas. O que o genocida quer (e explico mais adiante o porquê de genocida)  é produção, PIB e arrecadação de impostos para continuar pagando o funcionarismo público mais caro do planeta com suas mordomias. Paulo Guedes quer o Brasil rico e Bolsonaro está preocupado em se reeleger com o crescimento econômico, discursando do alto de uma pilha de caixões.

E que fique bem claro... ao falar sobre o alto custo do funcionarismo público, obviamente não estou falando de professores e funcionários concursados, mas sim do topo, uma elite composta por políticos, assessores, do alto escalão do judiciário e das diretorias das estatais. Só os orçamentos do Congresso, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais consomem hoje perto de R$ 80 bilhões por ano. Do que eles abriram mão em um ano de pandemia? De NADA!!

Vamos então para as definições de Eugenia e Darwinismo Social aos quais me referi no título deste post: 

Eugenia é a teoria que busca produzir uma seleção nas coletividades humanas baseada em leis genéticas. No caso específico do coronavírus, seres mais fracos, mais suscetíveis à contaminação e morte. No aspecto social, cidadãos mais frágeis, com menos recursos econômicos, sem acesso a vacinas, leitos hospitalares e UTIs. Isso é darwinismo social.

Em resumo, países mais democráticos do mundo optaram por proteger seu povo, enquanto esses interesseiros, insensíveis e irresponsáveis querem sacrificar os mais fracos pra acabar logo com a pandemia. Isso é CRIME!!!

E quem pratica esses conceitos pode e deve ser chamado de GENOCIDA, sem meias palavras.