sábado, 23 de abril de 2022

Há clima em 2022 como havia em 1964?


Só há dois tipos de pessoas que veem o mesmo clima de 64 em 2022: a direita radical saudosista e a dos enrolados com a justiça. Quem viveu ou leu e estudou atentamente a história do golpe militar, sabe que não há relação entre aquele período e o atual. Nem forçando a barra haveria clima para qualquer tentativa de Bolsonaro e muito menos dos atuais militares que jamais decidiriam embarcar numa aventura dessas. Os generais que hoje estão no governo, nem de longe lideram as Forças Armadas e têm poder decisório para rasgar a Constituição Federal. Intervenção constitucional não existe, e esse assunto já foi amplamente debatido e dissecado pelos mais insuspeitos e renomados juristas brasileiros.

Internamente haveria revolta, independentemente das posições ideológicas dos revoltosos. Não há apoio da mídia como havia na época e muito menos o nível de acesso à informação que a população tem hoje. O hormônio da liberdade comanda a mente e a consciência dos cidadãos, dos pré-adolescentes aos octogenários de ambos os sexos e de suas variantes. O nível intelectual da população pode até ser menor que o daquela época, mas a ordem de valores mudou completa e significativamente. Não há sentimento de segurança que supere a ausência dessa liberdade.

Internacionalmente, as mudanças que ocorreram foram bem maiores. Na época da guerra fria havia apenas dois polos representados pelos EUA e pela URSS, ou seja, capitalismo e comunismo. Hoje esses dois extremos ganharam nuances, afetados pelo progressismo. Basta ver que tanto a Alemanha conservadora (no período de Angela Merkel) quanto a França socialista de Macron apresentavam  e ainda apresentam  pontos em comum no aspecto humanista, coisa que naquela época jamais aconteceria entre o comunismo e a democracia. Já no aspecto econômico, as distinções são ainda maiores. Além de não contar com o apoio ideológico (ou interesseiro, como queiram) dos EUA como naquele período, hoje o Brasil depende comercialmente do mundo e nenhum país está disposto a bancar uma decisão apenas ideológica, exceto Rússia e China. Mas será que os militares brasileiros estariam dispostos a submeterem-se ao domínio de países tradicionalmente "comunistas" e abrirem o território brasileiro para bases militares apenas para salvar a pele de Bolsonaro e de sua família de rachadores?

Hoje o Brasil é visto como um pária. Tem uma política internacional confusa, inconsequente e inconsistente, cheia de paradoxos como o humor bipolar de Bolsonaro. Somos alvos de gozações nos telejornais dos países mais democráticos do mundo, das conversas com seus militantes no chiqueirinho aos discursos em rede nacional; do negacionismo ao tratamento precoce durante a pandemia e das declarações de amor a Trump ao apoio e solidariedade a Putin. 

Um golpe neste século XXI seria um míssil no próprio pé. O Brasil já está na lama, destroçado por suas próprias instituições que constitucionalmente deveriam defendê-lo, colocando país e seu povo acima  de interesses pessoais e ideológicos. Patriotismo é algo vazio sem o verdadeiro sentimento de Nação, aquele que respeita não só um território, um hino e uma bandeira, mas também seu povo e seus ancestrais que lutaram por um futuro completamente diferente do presente que temos hoje.


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