domingo, 5 de maio de 2019

A VELHICE ASSUMIDA

Nada daquela história de que o importante é ter a cabeça jovem. Minha cabeça é de velho mesmo, com muito orgulho. E não existe coisa mais ridícula no mundo do que um velho que não assume a sua velhice e se desdobra para acompanhar com o corpo o que com a cabeça já lhe bastaria.

Tem também os velhos não assumidos e nostálgicos que ficam dizendo: "já pensaram se a gente fosse jovem com a cabeça de hoje?". Posso garantir que só daria merda. Não arriscaríamos em nada e não aprenderíamos nada porque obedeceríamos cegamente nossos pais. Não teríamos amigos - quem aceitaria um porre desses na turma? - e nossos programas seriam planejados, organizados e... entediantes!

Nós, velhos assumidos, temos a vantagem de entender crianças, jovens e maduros melhor do que ninguém porque já fomos todos eles enquanto eles nunca foram velhos. E essa história de que estamos por fora é coisa de velhos do passado. Hoje a realidade se escancara e nada mais nos surpreende ou nos assusta.

Outra coisa boa é o "foda-se" dos velhos assumidos. Ele é sincero e sereno, não aquele "foda-se" irritado dos mais jovens que o usam como último recurso. O "foda-se" dos velhos assumidos está na ponta da língua, pois, conforme a situação, o papo ou o assunto eles já sabem no que vai dar.

Nós, velhos assumidos, perdemos a dureza e ganhamos humor, suavidade e sensibilidade. Como escreveu Pedro Chagas Freitas, em seu livro "Prometo Falhar", "A grande vantagem da vida é ensinar-nos outra vez a chorar."

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