Desde o início deste século, a despeito dos conservadores da imprensa e da política, tudo que envolve a tecnologia da informação tem mudado numa velocidade exponencial. Os que tentam prever tendências e mudanças baseados na linha simétrica do tempo, seja do passado distante ou recente, têm cometido erros grotescos. Muito utilizado pelos políticos, os indicadores baseados no empirismo acumulam derrotas crescentes, não menores que os científicos utilizados nas pesquisas de opinião.
As variáveis que envolvem esses dois tipos de previsões não mudaram tanto, com exceção das ideológicas que afetam mais fortemente as empíricas, mais especificamente as que envolvem comportamento do eleitor. No caso das previsões baseadas na ciência da estatística, até agora novas variáveis como frequência dos levantamentos e representatividade amostral não foram adaptadas às mudanças ocorridas na vida do público eleitor diante da velocidade da informação e do desencanto com políticos e ideologias.
Diante dessas mudanças comportamentais dos eleitores relacionadas à velocidade da informação, é possível dizer que as manifestações do dia 12 foram um fiasco? Com que régua mediram? Experiência do passado e público presente?
Das manifestações de junho de 2013 para cá, as mudanças foram profundas e só quem não quer não percebe que a quantidade de manifestantes nas ruas não reflete tanto a realidade quanto refletiu naquela época. Basta ver os que hoje são favoráveis a uma terceira via - percentual que nenhuma pesquisa de opinião até agora conseguiu apontar com precisão - em relação à polarização ideológica nas eleições de 2022. Só há dois motivos para que, tanto os grandes veículos de comunicação quanto institutos de pesquisa, insistam nessa cegueira: militância jornalística ou incompetência técnica. As diferenças entre expectativa e realidade são tão grandes que desmoralizam ambos os segmentos, e continuando nessa mesma toada, tudo indica que essa desmoralização terá seu ápice em 2022.
Tanto é verdade que não vimos grandes manchetes com o título "fiasco" para as manifestações do último domingo. As chamadas nos jornais foram cuidadosas, como se reconhecessem não haver correspondência direta entre o número de participantes e o real que representa a terceira via. Só vimos esse tipo de comportamento nos representantes políticos dos dois extremos que sonham em cooptar eleitores indecisos ou insatisfeitos para seus polos ideológicos.
Na verdade, hoje em dia só existe manifestação com número significativo quando há envolvimento ideológico ou no caso de uma convulsão social. No quesito ideológico, os fanáticos e bem estruturados em termos de comunicação, são os maiores responsáveis pela mobilização daqueles que ainda têm a ilusão de que a ideologia supera qualquer obstáculo e tem mais valor do que um candidato ficha limpa e bem intencionado. No quesito social, a convulsão motivada pelo cansaço em relação aos abusos políticos, desemprego, aumento de preços, impunidade e outros motivos de natureza existencial, a mobilização é espontânea e altamente perigosa para as instituições e para a ordem social. Era o que poderia ter acontecido em 2016 caso o impeachment de Dilma não fosse acatado. Porém, na época as ruas eram termômetros confiáveis, mas hoje não.
Portanto, cabe aqui um recado aos que se tranquilizaram com o pequeno público das manifestações do dia 12. Não se guiem pelas aparências e por cálculos políticos baseados no comportamento da população do século passado, nem das duas primeiras décadas deste século. Os termos "exponencial" e "linha do tempo simétrica" que mencionei no início deste texto são antagônicos. Se os veículos de comunicação, institutos de pesquisa e os próprios políticos não acordarem para este novo tempo, sofrerão uma derrota fragorosa e acachapante nas eleições de 2022. No caso dos políticos e partidos, não bastará apenas prever corretamente o futuro, mas principalmente mudar seus hábitos do presente.
Que atentem para aquele ditado popular que diz, "Quando a única ferramenta que se conhece é martelo, todo problema que aparece é prego". A mentira e a contrainformação são martelos inúteis diante da realidade que passou de percebida para vista e presenciada.
E que está longe de ser um simples prego.
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