terça-feira, 7 de setembro de 2021

SETE DE SETEMBRO: PATRIOTISMO OU PATETICISMO?

 



Se todos os que utilizam frases de efeito para justificar suas atitudes, conhecessem o verdadeiro significado das palavras que usam, ficaríamos livres, pelo menos, da metade deles. No caso específico de política e cidadania, as que mais são maltratadas e vilipendiadas são: “país”, “pátria” e “nação”. Isto se deve a vários fatores que vão do analfabetismo gramatical ao conceitual, aliados ao ufanismo patriótico promovido nos governos militares. Calma! Por enquanto minha preocupação está em apenas constatar uma realidade, e não em criticar cidadãos ou governos anteriores.

Porém, embora não seja possível mudar o passado, mudanças que começam no presente para mudar o futuro não são apenas possíveis como também necessárias. Não estamos falando apenas sobre o conhecimento da língua portuguesa, de dicionários, regras gramaticais e questões semânticas, mas sim de algo muito mais profundo relacionado a conceitos e falsos sentimentos que, por sua vez, provocam reações e atitudes equivocadas.

Quem acompanha esta minha coluna política no “Fazendo a Coisa Certa”, já sabe que tenho “martelado” nos significados das palavras, pois, acredito que a maioria dos problemas e desentendimentos entre militantes ou não militantes, políticos e não políticos - e até entre os três poderes da República - é muito mais conceitual do que ideológico. Resumindo, o militante precisa ao menos saber que é militante, o fanático que é fanático e o independente que não é tão independente quanto imagina ser. A consciência cidadã necessita de autocrítica e constante reflexão para evoluir e crescer.

Retomando então o assunto do parágrafo inicial, vamos aos significados no dicionário das palavras “país”, “pátria” e “nação”:

  • PAÍS*: Região geográfica considerada o território físico de um Estado Soberano, ou de uma menor ou antiga divisão política dentro de uma região geográfica.

  • PÁTRIA*: País em que se nasce e ao qual se pertence como cidadão.

  • NAÇÃO*: agrupamento político autônomo que ocupa território com limites definidos e cujos membros respeitam instituições compartidas (leis, constituição, governo). É definida pelo conjunto de características culturais, tradições, língua, costumes, entre outros fatores, que formam um grupo no qual os indivíduos se identificam e se sentem parte dele. As nações antecedem o Estado e tem um caráter mais subjetivo e humano.

Como puderam perceber, “nação” tem um sentido amplo e profundo, envolvendo cultura, humanismo e respeito aos antepassados com suas lutas e tradições seculares. É muito fácil dizer-se patriota pondo a mão no peito ao ouvir o Hino Nacional ou reverenciando os símbolos da Pátria. O sentimento de amor à nação não pode excluir seu povo, suas origens e direitos iguais. Vejo muitos brasileiros – se é que podemos chamá-los assim – agredindo e odiando seus concidadãos por diferenças ideológicas, de sexualidade, cor, sexo e outras. Vemos depois esses mesmos intolerantes emocionando-se e até chorando ao cantar e ouvir o hino quando, por exemplo, um atleta brasileiro sobe ao pódio para receber sua medalha em disputas internacionais. Sem o sentimento de amor à nação, essa demonstração de patriotismo é vazia e patética.

É sempre bom lembrar que o termo “nacionalismo” deriva da palavra “nacional” num sentido ufanista, eugenista e segregacionista. Foi muito usado por aquele ditador de bigodinho que governou a Alemanha nazista e pelo careca fascista da Itália. Albert Einstein, que sofreu com o nazismo, resumia o nacionalismo com uma frase que se tornou histórica: “Nacionalismo é doença infantil; é o sarampo da humanidade.”

Embora sejam elementos importantes na composição de sua identidade formal, o Brasil jamais será respeitado apenas pelo tamanho de seu território, por suas belezas naturais e potencial ecológico ou pelo patriotismo e tradições culturais de seu povo. Para ser respeitado como Nação, é preciso que nosso país seja governado por um presidente comprometido com o combate à corrupção e com a redução das desigualdades sociais. É preciso também que esse governo esteja amparado por leis justas que sejam aplicadas sem exceções e julgadas de forma isenta, sem a concessão de privilégios aos “mais iguais” que os outros.

Toda essa abordagem foi necessária para refletirmos sobre as manifestações do próximo 7 de Setembro. Pelo perfil dos militantes pró-Bolsonaro, certamente veremos muitos desses patriotas ufanistas – e até nacionalistas – portando faixas com frases patrióticas, de amor ao país, de agressão aos ministros do STF e pedindo o fechamento da instituição. Dificilmente encontrarão outras com críticas à inflação, ao desemprego e à impunidade (exceto à de Lula). E se perguntarem a eles sobre a alta do dólar, dos preços dos alimentos e das mortes na pandemia, certamente ouvirão deles que tudo isso aconteceu porque “não deixaram o homem governar”. E sobre as rachadinhas da família, as mansões, a corrupção no Ministério da Saúde, o Fundão e a distribuição de cargos para o Centrão, caso encontrem alguém que não lhe dê um tiro de fuzil ao fazer essas perguntas, a resposta será a mesma de sempre: E daí? O PT roubou muito mais.

Na verdade, pior do que a polarização ideológica é a unificação da ignorância, do desprezo às leis e à dignidade do ser humano. Todas ideologias morreram. Já esta mais do que provado que o problema está mais no ser político do que nelas em si. Ideologias são escritos em papel que podem sem alterados e adaptados para uma realidade não prevista, ao contrário do ser político que não resiste ao desejo de se eternizar no poder quando o conquista. Em maior ou menor grau, corrompem-se com encanto da riqueza e apropriam-se indevidamente do dinheiro dos impostos que são pagos com o suor do cidadão trabalhador.

Porém, um país só evolui por meio de erros e acertos. O que não podemos é ficar errando eternamente. Em 2022, podemos até ficar indecisos sobre o melhor candidato ou candidata para governar o país, mas não poderá haver dúvida nenhuma sobre aqueles que jamais poderão ser eleitos ou reeleitos.

Minha avó já dizia que errar é humano, mas persistir no erro é pura estupidez.



*Definições encontradas no “Oxford Languages” e nos sites “Wikipédia” e “Politize!”


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