No entanto, votar não é a única forma do povo expressar seus desejos e indignações. Outro elemento fundamental numa democracia é a liberdade de expressão, desde que exercida de forma respeitosa e ordeira conforme estabelecido pelas leis e pela Constituição do país. É bom observar essa particularidade de obediência para evitar a banalização do termo liberdade, coisa que Bolsonaro não entende ou se faz de desentendido quando ataca as instituições e ameaça golpe militar. Ao contrário do que muitos pensam, até o anarquismo - ideologia que não aceita hierarquia - exige ordem. Em resumo, expressar insatisfação com promessas não cumpridas e mentiras ditas durante ou depois das campanhas eleitorais é um direito inalienável de todo cidadão. Eleições são um meio e não um fim, em todos os sentidos.
Portanto, é um grande engano achar que o povo deve resignar-se com suas más escolhas e ficar calado durante 4 anos. Tendo votado neles ou não, o dinheiro que paga os altos salários e mordomias desses políticos não sai apenas do bolso da maioria que os elegeu. Todos eles são nossos empregados, sustentados com os exorbitantes impostos que pagamos e que são, por incrível que pareça, definidos e reajustados por eles mesmos. Agora respondam: quanto tempo duraria uma empresa na qual os funcionários estabelecem o valor dos seus próprios vencimentos? Com os sócios dessa empresa tendo que aumentar seu faturamento independentemente da demanda do mercado ou tendo que recorrer a empréstimos bancários para pagar esses salários? No caso do governo, como não produz e não vende nada, para sustentar as despesas de sua estrutura paquidérmica depende da receita dos impostos pagos pela população. Portanto, quando essa receita é menor do que as despesas só lhe resta aumentar esses impostos ou tomar dinheiro emprestado, empréstimo este que, no final, será pago pelos próprios cidadãos através de mais aumentos de impostos, ou seja, mais um dos Ouroboros da democracia!
Retornando aos políticos, já estamos cansados de saber que suas prioridades são, na ordem: 1) eles mesmos; 2) seus partidos; 3) sua corporação política e, por último, 4) os cidadãos que deveriam representar. Mesmo assim esses aproveitadores só pensam nesses últimos como eleitores em anos eleitorais, contando com o seu silêncio e sua omissão durante os 4 anos de seus mandatos. Enquanto isso, tratam das suas próprias vidas e da sua própria classe, criando leis que os beneficiem financeiramente e outras que os mantenham impunes quando assaltam os cofres públicos. E sempre contando, logicamente, com a ajuda do Judiciário que deveria, em tese, defender as leis e a Constituição Federal, mas que, dividido em confrarias de militantes togados, as interpretam segundo os interesses partidários ou de suas próprias amizades, chegando a distorcê-las ou até aceitar provas ilícitas para livrar a pele de seus apaniguados.
Só uma oposição justa e atuante de senadores e deputados no Congresso poderia ter evitado o Brasil chegar nesse nível de desfaçatez que chegou, mas a oposição que se faz desde o início da chamada "Nova República", nada mais é do que uma oposição ao governante que ascendeu ao poder, independentemente do que ele faz de bom ou de ruim para o país. O que importa é tomar ou retomar esse poder, de preferência obedecendo a Constituição Federal. Diante disso, que alternativa nos resta, já que o sistema de autoproteção engendrado por esses políticos bandidos, blindou a maioria corrupta do Congresso, protegendo-a dos poucos parlamentares dignos que se opõem a ela?
A única solução que temos para romper a blindagem desse sistema corrupto é a de criarmos uma oposição popular externa composta por milhões de cidadãos de bem unidos por seus nobres ideais. Essa oposição jamais se venderia ou se entregaria ao fisiologismo político-partidário e não se corromperia por dinheiro, por emendas secretas ou pelos favores que lhes fossem oferecidos. O grupo estaria focado no fim da corrupção e no retorno proporcional e justo dos extorsivos impostos que pagamos para que o povo tenha uma vida minimamente digna.
Num cálculo rápido, podemos afirmar que hoje existem ao menos 35 milhões de eleitores divididos em vários grupos que não votariam em Lula ou Bolsonaro. O problema é que após as eleições esses grupos ressentem-se da derrota e se dispersam, ignorando o período de mandato dos eleitos para voltarem apenas depois de 4 anos numa nova tentativa de eleger algum herói que se comprometa a recuperar esse tempo perdido. Será que os cidadãos desses grupos deixarão de trabalhar, pagar impostos e educar seus filhos nesses 4 anos?
Não! O povo não pode viver eterna e literalmente "de quatro" pra esses bandidos. Ao contrário, nossa atuação deve ser mais presente e intensa depois que os candidatos forem eleitos para depois não dizermos que fomos pegos de surpresa. Não pode haver surpresa quando se tem um eficiente meio de comunicação (imprensa e redes sociais) que divulga os projetos que estão sendo votados no Congresso e nos alerta sobre os impropérios cometidos pelos maus políticos. Não há desculpa para esse tipo de indiferença e omissão. Se não assumirmos o compromisso de acompanhá-los, protestarmos e os cobrarmos durante os seus mandatos, depois não adiantará reclamar e nos fazermos de vítimas dizendo que a política brasileira está podre, como se isso fosse obra do acaso.
Já passamos da hora de criarmos vergonha na cara e assumirmos o papel de cidadãos conscientes, protagonistas do próprio destino. Caso contrário só nos restará uma opção: comprar uma sela confortável e macia para não machucar nossas costas enquanto cavalgarem em cima de nós por mais 4 anos.
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