O que estamos assistindo no Congresso durante a votação da MP dos Portos não era difícil de se prever que um dia aconteceria: a criatura se voltando contra seu criador. É a política imitando o submundo da vida. As cenas lamentáveis que assistimos ontem com porcos, chiqueiros além do cheiro e lama característicos desses ambientes insalubres, nada mais são do que o resultado da promiscuidade nesse relacionamento entre governo e Congresso Nacional que pauta a administração PT desde a sua entrada no poder, principalmente dele com o maior partido do Brasil, o PMDB. O que vimos ontem é a materialização de um dos efeitos colaterais perversos dessa maioria no Congresso a todo custo.
Não pensem que esta dificuldade do governo de convencer seus "apoiadores" a aprovar a MP dos Portos é resultado de argumentações ideológicas ou de interesses regionais desses parlamentares contrários à sua aprovação. Embora o governo negue - e negará até sob tortura - esta pressão não só cheira, mas fede negociatas para liberar dinheiro às emendas e projetos de deputados e senadores da base aliada. É pura corrupção, pois, na verdade esse termo não envolve necessariamente dinheiro em espécie. Negociar privilégios para deputados e senadores é crime contra nação e fere a isonomia do sistema republicano. Não se trata de nacionalismo ou patriotismo piegas e nem de religiosidade, mas do mais puro humanismo. Como uma país tão desigual pode adotar políticas tão desiguais patrocinadas por um governo que se diz socialista?
Tudo a seu modo e a seu tempo. Disse o escritor francês Jean de La Bruyère que "O favor que coloca o homem acima dos seus iguais promove sua queda abaixo deles." Esses insaciáveis monstros criados em cativeiro levarão o troco da lei mais certa do universo que é a da ação e reação. Monstros que dão mais valor ao poder, ao dinheiro, às suas vidas pessoais e suas bandeiras partidárias do que para suas missões de representantes de um povo sofrido que recebe apenas esmolas das riquezas que produz. Povo que coloca o Brasil em 6º no PIB mundial e recebe esmolas eleitoreiras como as da Bolsa Família e posicionam o país em 84º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Falam só do PT, mas o PMDB - que embora ainda tenha Sarneys, mas já teve nomes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e muitos dos hoje tucanos - é o grande viabilizador deste governo que está ai com 80 deputados (23% da base), 42 senadores (46% da base), Vice-presidente da República, ministérios, cargos do segundo e terceiro escalões, além de ser o partido com mais prefeitos eleitos do país (1024 municípios). Para mim, o PMDB é quem governa DE FATO, e não o PT. No entanto, por ter escolhido o sub-poder desde o governo Collor e até hoje permanecer morando nos porões do Planalto, tem um telhado muito bem camuflado, no melhor estilo "bunker".
O PMDB é o único grande partido político do mundo que não apresenta candidato à presidência há mais de 25 anos e tudo pelo mais puro interesse. Desmerece sua história de lutas e pisa em seus heróis do passado, trocando sua honra pelo fisiologismo barato. Não pode sair dessa destruição à qual o país se submete com imagem ilesa. Fugir como lobo em pele de cordeiro.
Dai a César o que é de César!
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