terça-feira, 24 de setembro de 2019

COMO AVALIAR O DISCURSO DE BOLSONARO HOJE NA ONU?

Jornalismo é busca da verdade e não há como encontrá-la ou chegar dela o mais perto possível, analisando apenas um lado do fato, sob um único ângulo. E o que vi hoje foi um festival de avaliações rasas e contaminadas, seja pela ideologia, pelo ódio ou por uma simples questão de perseguição a Bolsonaro.

Não concordo integralmente, por exemplo, com o item 1 dos pontos negativos (Criticar genericamente a mídia, nacional e internacional). Não sou a favor de generalizar, mas que certamente houve falta de isenção em muitas matérias publicadas em veículos nacionais e internacionais, ah, isso houve! Principalmente as publicadas minutos após as declarações de Macron e Merckel. Como "ouvir o outro lado" e escrever matéria confiável em cinco ou dez minutos?

Bem... deixo para vocês a missão de lerem e tirarem as suas próprias conclusões!

COMO AVALIAR O DISCURSO DE BOLSONARO HOJE NA ONU?

Por Itiberê de Mello

“Fujo do radicalismo ou das posições extremas. Na realidade, os radicais jamais seriam capazes de fazer qualquer autocrítica, pois não percebem seu fanatismo, sua visão estreita, unilateral, de esquerda ou de direita. Na verdade, eles não pensam de forma diferente dos cidadãos equilibrados. Na realidade, eles não pensam. Não raciocinam: apenas reagem emocionalmente diante de qualquer frase que não condiz com suas convicções.

Vamos à avaliação do discurso de hoje de Jair Bolsonaro. O mais comum que teremos depois do discurso é o confronto de dois extremos:
a) Foi um discurso memorável: tudo que Bolsonaro disse só merece aplauso.
b) Foi um discurso vergonhoso para o Brasil: Tudo que o presidente disse é bobagem ou idiotice.
Meu objetivo neste texto é escapar dessa dicotomia.

Tento me reeducar a cada e fazer o maior esforço em analisar com o maior equilíbrio possível o discurso de Jair Bolsonaro – com o risco que corro de que dois grupos de cavalheiros me acusem, de um lado, de defensor do JB e, de outro, de seu inimigo. Não sou nem uma coisa, nem outra. E não me preocupo com nenhuma avaliação desse tipo. E relembro: em 2018, não votei nem em Bolsonaro nem no candidato petista.

Pois bem. Começo pela expectativa que eu alimentava antes do discurso. Diante de tudo que tem dito nestes quase 9 meses de administração, Jair Bolsonaro, com tantas frases mal postas e expressões grosseiras, eu temia que seu discurso fosse algo bem diferente do que foi. Faço abaixo uma síntese do que vi e ouvi nesta manhã de 24-09-2019.

ALGUNS PONTOS POSITIVOS DO DISCURSO
1. Ofereceu novos elementos para avaliação internacional de seu governo, em especial da Amazônia e da questão indígena, inclusive com a presença no local de uma indígena kalapalo (Izany Kalapalo). Que 14% do território brasileiro está demarcado como “terra indígena”. Foram muito interessantes as informações objetivas sobre o que é a Amazônia brasileira hoje (uma área maior do que a Europa Ocidental). Referir-se à interferência de algumas ONGs que parecem ter mais interesse nas riquezas minerais e nos produtos das áreas indígenas do que em proteger aquelas civilizações. 
2. Reiterou o compromisso com a abertura da economia, com os dois exemplos dos “dois maiores acordos comerciais da história do País” – entre Mercosul e União Europeia e outro entre o Mercosul e área europeia do EFTA (European Free Trade Association); e desejo de integrar a OCDE, com os compromisso de adesão às exigências de “regulação financeira” e da “práticas ambientais”. 
3. Relembrou a questão que a soberania brasileira sobre a Amazônia é um ponto que não pode estar em discussão no mundo hoje. 
4. Mostrar o que foi a “ajuda” cubana ao Brasil com o programa “Mais Médicos” – em que esses profissionais eram tratados como verdadeiros escravos do governo cubano.
5. Criticar a ditadura da Venezuela (que ele, equivocadamente, confunde com “socialismo”. Mas é essencial lembrar o papel que os milhares de agentes cubanos ainda desempenham no país. 
6. Criticar o Foro de São Paulo, o movimento criado por Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo (a revolução castrista) na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido”. 
7. Bolsonaro faz uma denúncia verdadeira: “A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas. A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família. Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica.”
(O problema é tirar conclusões falsas ou distorcidas baseadas nesses conceitos. Eis um exemplo gritante: “A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu. E, com esses métodos, essa ideologia sempre deixou um rastro de morte, ignorância e miséria por onde passou. Sou prova viva disso. Fui covardemente esfaqueado por um militante de esquerda e só sobrevivi por um milagre de Deus.”)

ALGUNS PONTOS NEGATIVOS DO DISCURSO
1. Criticar genericamente a mídia, nacional e internacional. 
2. Destacar de forma exagerada sua fé e suas crenças religiosas. 
3. Dar sua versão do que teria sido o período militar (1964-1985), caracterizando-o como defesa da democracia e que, na verdade, durou 21 anos de autoritarismo. 
4. Como disse: “Civis e militares brasileiros foram mortos e outros tantos tiveram suas reputações destruídas, mas vencemos aquela guerra e resguardamos nossa liberdade.” E comemorar: “... mas vencemos aquela guerra”. 
5. Em lugar de explicar claramente o que são as queimadas — em especial as de hoje no Brasil — o presidente volta a acusar a mídia (nacional e internacional): Ela (a Amazônia) não está sendo devastada nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia.” 
6. Como a maioria dos políticos, o presidente omite aspectos que não lhe interessa naquilo que condena. Vejam este exemplo, depois de uma bela declaração sobre o valor da vida: “A vida é o mais básico dos direitos humanos. Nossos policiais militares eram o alvo preferencial do crime. Só em 2017, cerca de 400 policiais militares foram cruelmente assassinados. Isso está mudando.”

Cabe aqui a pergunta: “E as mortes muito mais numerosas de civis e, em especial, de jovens e crianças?”