sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

VOCÊ TEME A DEUS?

Com os últimos acontecimentos no caso de João de Deus assistimos a um bombardeio de críticas sobre o caso e só temos a lamentar todas as histórias relatadas pelas mulheres que foram assediadas ou abusadas.

Confesso que esse é um assunto muito delicado como todos que envolvem religião e fé, mas sinto necessidade de escrever sobre o assunto e o faço sem o menor constrangimento.

Sou filho e neto de kardecistas, tendo praticamente nascido assistindo a reuniões em "mesas brancas" e convivendo com médiuns. Aos 17 anos senti forte impulso para ler e estudar esoterismo, chegando a devorar de 3 a 5 livros por semana sobre vários assuntos ligados ao tema. Numerologia, piramidologia, cromoterapia, radiestesia, entre outros. Li resumos comentados e debatidos do Velho e Novo testamentos, do Evangelho de Kardec, Baghava Gita, enfim, nem tenho como fazer um cálculo preciso do tanto que li.

Embora tivesse tendência à espiritualidade universal e esoterismo, casei-me numa igreja católica, meus filhos foram batizados, fizeram primeira comunhão e frequentei missas. Fui padrinho de casamento em templo evangélico e participei durante muitos anos de reuniões espíritas.

Aos 27 anos interessei-me pela Meditação Transcendental, fiz vários cursos residenciais, inclusive o de Sidhis. Interessei-me pela Projeciologia e Conscienciologia de Waldo Vieira, fiz todos os módulos, inclusive o avançado. Fiz dois módulos do Pró-Vida, Reiki I e II, participei da Ordem dos Filhos da Luz e aprendi um pouquinho sobre Ayurveda.

Por que estou contando tudo isto? Para poder dizer que conheci seres humanos maravilhosos em todos esses lugares por onde passei, mas que tive também experiências não muito gratificantes. É a vida como ela é, seja ela materialista ou espiritualista. Guardamos o que foi bom, revemos nossos erros (inclusive os de avaliação) e aprendemos a trabalhar frustrações, muitas vezes originadas de nossas próprias expectativas. E comigo não foi diferente. Embora eu hoje seja agnóstico, não desprezo nenhuma das experiências que tive, os fatos ainda inexplicáveis pela ciência os quais presenciei e os queridos amigos que conheci.

Aprendi a diferenciar Espiritismo de espíritas, Catolicismo de católicos, Meditação de meditantes, Evangelicalismo de evangélicos, Budismo de budistas, Conscienciologia de conscienciólogos e assim por diante. Religiões, doutrinas e filosofias não podem ser confundidas com seus humanos praticantes e aprendizes.

Eu não tenho religião, considero-me espiritualista, mas afirmo que nenhuma delas pode se aproveitar de casos como esse de João de Deus para jogar pedras umas nas outras. Basta ler jornais para encontrarmos casos semelhantes em todas elas. O que deve ser avaliada é a necessidade de existir uma religião para que o ser humano apenas ame e respeite o seu próximo por medo de ser punido pelo "Alto", por uma indecifrável força do desconhecido. As condutas de seus líderes e adeptos devem ser avaliadas, entendendo que eles devem responder por seus atos impensados como qualquer outro cidadão do mundo, independentemente do que representaram ou representam para suas religiões.

"Temer a Deus" é um termo muito utilizado por religiosos. Seja esse deus um velho barbudo sentado num trono ou uma energia criadora amorfa que permeia o Todo e o Tudo, certamente ele(a) tem coisas mais importantes pra fazer neste mundo que Ele criou do que ficar vigiando e punindo marmanjos aos quais concedeu o livre arbítrio.

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