quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

APESAR DOS ERROS DA SINOVAC, DO BUTANTAN E DAS BESTEIRAS POLÍTICAS, CONFIO NA QUALIDADE DA CORONAVAC

APESAR DOS ERROS DA SINOVAC, DO BUTANTAN E DAS BESTEIRAS POLÍTICAS, CONFIO NA QUALIDADE DA CORONAVAC.

Não me atrevo a comentar sobre assuntos da ciência da medicina e sobre outros dos quais não tenho conhecimento, portanto vou me prender apenas nas duas áreas em que trabalhei e conheço o suficiente para emitir minhas opiniões. Vou falar sobre algo que até agora não vi ninguém abordar, mas que considero importante e envolve as áreas de estatística e marketing. Porém, antes de entrar no assunto, tentarei explicar resumidamente sobre estatística. São explicações bem básicas que considero suficientes para o entendimento dos que não conhecem nada ou muito pouco sobre o tema. Dos que as conhecem espero que deixem de lado o preciosismo técnico. Sobre comunicação e marketing, falo apenas no final.

Estatisticamente - e aí não importa o produto que está sendo analisado - há três princípios metodológicos básicos que interferem na obtenção e na análise de dados estatísticos:
  • UNIVERSO: Bem resumidamente, envolve o público que será testado e analisado, tais como perfil social, faixa etária, sexo, região e características geográficas, etc.
  • AMOSTRA: o número de amostras é determinado por cálculos de probabilidade baseado no grau de confiança que se pretende atingir. Relaciona-se com aqueles famosos e já conhecidos "+ ou -x" do percentual obtido. Resumidamente, quanto maior o número de amostras, maior será a representatividade amostral e mais estreita a faixa dessa variação. É uma forma de se reduzir o tempo de estudo sobre um evento ou produto para a tomada de decisões.
  • DISTRIBUIÇÃO: Considero este um dos princípios metodológicos mais importantes. Você pode ter determinado corretamente o público e o número de amostras, porém, a distribuição dessas amostras é fundamental para o resultado que será obtido. A grosso modo, um exemplo bem básico de erro, seria analisar o Brasil distribuindo as amostras somente no Estado de São Paulo. A distribuição deve também obedecer o que chamamos de aleatoriedade em relação ao público selecionado e testado.
Vamos agora ao que considerei como erros básicos cometidos pela Sinovac e pelo Butantan. 

Para chegar a percentual único de eficácia considerando os países em que a vacina foi testada, esses testes jamais deveriam ter sido feitos sem obedecer diretrizes únicas, ou seja, metodologia determinada, coordenada e centralizada, seja no Butantan ou na Sinovac. 

A partir do momento em que o responsável pela área de testes do Butantan escolheu apenas profissionais da saúde, embora tenha sido uma decisão cientificamente correta testar um grupo que estivesse mais exposto ao vírus, prejudicou a distribuição em nível global, ou seja, impossibilitou a obtenção de um percentual único de eficácia da vacina. Estatisticamente estaria errado tratar todas as amostras como as mesmas, pois, os testados pertencem a grupos distintos, submetidos a exposições diferentes ao vírus. Um grupo populacional formado por cidadãos comuns (China, Indonésia, Turquia e Chile) e outro apenas por profissionais da área de saúde. Provavelmente esse tenha sido o principal motivo dessas diferenças tão significativas entre os índices obtidos no Brasil e nesses outros países.

Embora essa diferença tenha sido destacada pelo responsável pela coordenação dos testes do Butantan na coletiva de imprensa de ontem e apontada como um diferencial importante com o qual concordo, em termos de "marketing", vamos dizer assim, que envolve apenas a divulgação de um número que será comparado com o de outras vacinas, o resultado foi trágico para o entendimento do cidadão comum.

A única forma de unificar esses índices, mesmo considerando que isso fosse possível, seria extremamente trabalhoso e demandaria tempo, coisa inimaginável neste momento de urgência da vacinação. A forma seria conseguir separar os profissionais de saúde desses outros países e os resultados obtidos para depois unificá-los. O Butantan e a Sinovac perderam uma grande oportunidade de elevar esse coeficiente de eficácia global, considerando que em alguns países onde a Coronavac foi testada, ele atingiu valores superiores a 70/90%.

Encerro dizendo que ACREDITO NA EFICÁCIA DA CORONAVAC e creio que seja tão eficaz e talvez até mais segura que suas concorrentes considerando a metodologia mais conhecida que foi utilizada, porém a pressa, não no desenvolvimento científico da vacina, mas no de capitalizar politicamente para se alcançar os louros dos votos e da fama, desinformou e desqualificou uma das conquistas da ciência mais importantes do século.

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