quarta-feira, 30 de maio de 2012

STF e Ministério Público - sombras desencontradas

O problema da discussão do caso Lula x Gilmar Mendes x Jobim não pode ser mais considerado como um problema pessoal entre os três. Temos dois ex presidentes, (um do Supremo e outro do Brasil) e um ministro da ativa (Gilmar Mendes) num escândalo real e que não é da mídia como muitos adoram dizer para distrair a atenção dos cidadãos desavisados. Vamos supor que exista mesmo uma corrente de certos veículos da imprensa, mas isto seria querer culpar o gravador pela escuta gravada ou o termômetro pela febre.

O Supremo e o Ministério Público devem assumir esse caso por meio de suas prerrogativas institucionais, pois, o que está em jogo não são credibilidades pessoais, mas a credibilidade da instituição máxima deste país, superior até à própria Presidência da República e ao Congresso Nacional. O STF virou o centro das atenções, principalmente com o caso do Mensalão e do Ficha Limpa, os mais polêmicos dos últimos tempos. E quando a corte máxima perde a credibilidade, ou ela tenta se aprumar ou implodirá, causando muito sofrimento para todo país. Um país que passa por uma fase econômica favorável que nunca passou, seja interna ou internacionalmente, mas que está sendo desperdiçada por roubos e desvios de dinheiro público, como NUNCA ANTES NESTE PAÍS.

A CPI chapa branca é outra vergonha nacional, coisa que o Congresso majoritário é mestre em fazer. TODOS que tiveram contato com essa cachoeira de água podre devem ser inquiridos, indiscriminadamente, por mais que sejam AMADOS por Vacarezza e Marco Maia. Até Gilmar Mendes se a Constituição permitir. O que não podemos admitir é o estabelecimento de um poder paralelo, à revelia da Carta Magna do país.

E essa responsabilidade, queiram ou não, está nas mãos do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público, instituições que correm sério risco de se unirem à parte sombria da história deste país.



Abaixo, texto de Cláudio Slaviero, empresário, ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.


“A única coisa da qual me arrependo nos dois anos em que presidi a Associação Comercial do Paraná, de 2004 a 2006, foi ter convidado o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para uma palestra a empresários na sede da entidade. Primeiro porque este senhor fez uma série de promessas ao setor empresarial e quase nada cumpriu. E, segundo, e o que me parece muito importante, porque ele, durante e depois de seu governo, multiplicou exemplos de corrosão institucional e moral no Brasil e preocupou-se única e exclusivamente na construção e modelagem de seu próprio mito.


Este último episódio, envolvendo seu ex-ministro Nelson Jobim, e Gilmar Mendes, ministro do STF e ex-presidente da Corte, extrapolou. A tentativa de lobby contra o julgamento do mensalão e seus autores é crime e deveria ser investigada em toda a sua intensidade. Se a imprensa não houvesse trazido à tona, este verdadeiro crime teria sido abafado para sempre. Como gosta de gabar-se Lula, “pela primeira vez na história desse país” um ex-presidente da República procurou um membro do STF para comentar-lhe que considera “inconveniente” o julgamento de uma ação que pode atingi-lo politicamente. Este julgamento estaria fora de hora, segundo o ex-presidente, pela proximidade da campanha das eleições municipais deste ano.
Até quando este senhor pretende nos fazer de bestas? Sempre com a desculpa esfarrapada e pronta de não saber de nada, de não se considerar culpado ou envolvido em crimes de qualquer natureza, ele mente descaradamente a todo o país, sustentado por seu próprio mito, alimentado por ele, pelo petismo e seus filhotes radicais. O que houve foi um ultraje, que mostra o descaramento de quem não respeita as instituições.


A história pode julgar o ex-presidente Lula como um dos mais coniventes com a corrupção neste país e um dos maiores desrespeitadores das instituições republicanas. Demagogo, populista que, desde seus primeiros discursos ao concorrer em 1989 à Presidência da República, dizia, nos palanques, que iria “varrer toda a corrupção e os ladrões de Brasília”, acabou por se abraçar com ela ao chegar ao Palácio do Planalto.


Aproveitou e surfou na onda de crescimento econômico internacional (hoje em declínio) durante seus oito anos de governo, ganhou espaço com a estabilidade da moeda, promovida pelo Plano Real (do qual era feroz crítico) – implantado pelo seu antecessor –, criou uma legião de dependentes com as bolsas de socorro, casou-se (de papel passado) e submeteu-se ao capital financeiro, infiltrou a “companheirada” por toda a máquina pública, provocando seu inchaço e aparelhamento, destruiu a ética e seus preceitos, desestabilizou as instituições (riu da educação e do hábito de ler), tentou controlar a imprensa, deixou que desapropriassem empresas brasileiras na Bolívia e na Argentina (fato atual, motivado pelo precedente), uniu-se a ditadores terceiro-mundistas, favoreceu seus familiares (exigiu passaporte diplomático para seus familiares; e um de seus filhos passou de zelador de zoológico a acionista/proprietário de uma grande empresa ), foi conivente com os chamados movimentos sociais (como o MST, que em várias oportunidades desrespeitou absurdamente o direito à propriedade) e com as manobras petistas em todos os níveis. Os exemplos são infindáveis.


Se não bastasse essa quantidade de maus exemplos, o ex-presidente volta à cena tentando pressionar o STF para adiar o julgamento do mensalão. Se ele ainda fosse presidente, não seria o caso de pedirmos o seu impeachment? Mas, agora, como simples cidadão, até quando ele continuará a nos fazer de bestas?” 

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domingo, 27 de maio de 2012

Lula emburreceu

Depois da doença, Lula emburreceu. Essa conversa com o ministro Gilmar Mendes foi a estratégia política mais burra dos últimos tempos. Mesmo que Lula tivesse tomado apenas um cafezinho com Mendes e não tivesse falado absolutamente nada, já atrapalharia seu próprio partido e todos os candidatos do PT que concorrem às eleições de 2012 e, de quebra, o julgamento do Mensalão.

Como o próprio Jobim confirmou o encontro, o que Lula falou ou deixou de falar não faz a menor diferença. Lula acaba de complicar o STF, aumentando ainda mais a pressão sobre esses dois temas e o número de brasileiros atentos para a decisão do Supremo.

Isso é sinal de que como presidente Lula fazia exatamente a mesma coisa. A única e grande diferença é que agora ele é um cidadão comum e suas andanças podem ser conferidas por qualquer um, coisa que antes não acontecia. Acabou a privacidade constitucional do tagarela.

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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Perdoa-se na medida que se ama

Existe uma expressão popular que diz "teatro da vida". Essa expressão foi criada para explicar certas coisas que acontecem conosco e que nos consolemos diante de fatos aparentemente inesperados. Foi criada também para quando precisamos justificar nossas próprias ações e evitar sermos torturados pelos conceitos de certo e errado que desenvolvemos durante a nossa vida. Como bem disse Nietzsche "Quando adestramos a nossa consciência, ela beija-nos ao mesmo tempo que nos morde."

Na verdade não há fatos inesperados quando procuramos entender os sinais que a vida nos dá, mas nossa percepção desses sinais está mais ligada ao fato de não conseguirmos ou até de não querermos vê-las do que à sutileza com que eles se manifestam. Quando existe paixão, sentimento que não passa de um desequilíbrio das nossas emoções, raramente percebemos esses sinais, pois, nada mais forte que o ego para sufocar nossa sensibilidade e nossa razão. E esta paixão a qual me refiro, não se refere unicamente ao amor carnal, mas a qualquer tipo de obstinação.

A vida não é um teatro, mas permite que nela representemos papéis. Alguns espiritualistas dizem que este mundo é fenomênico ou simplesmente um mundo de ilusões. Embora exista uma certa razão nessas palavras, isto não significa que, diante dessa realidade, poderíamos abandonar a busca por nossas verdades ou, simplesmente não sentirmos as "mordidas" da nossa consciência, mas apenas nos deleitarmos com seus "beijos" (Nietzsche).

Alguns terapeutas- sejam eles psicólogos, psiquiatras, espiritualistas ou os que escrevem livros de auto-ajuda - costumam usar argumentos assertivos para atenuar as fases negativas (mágoas e arrependimentos) de seus pacientes ou leitores para que estes resgatem sua auto-estima. No entanto, não promovem uma análise assistida do contraponto que originou o negativismo, ou seja, o arrependimento foi neutralizado, mas por que ele existia? Será mesmo que ele não existe mais ou foi encoberto pelo argumento assertivo que "compramos" para podermos sair do buraco? Esses terapeutas colocam apenas esparadrapos na alma!

Cansei de ver terapeutas e espiritualistas pobres que passaram a defender o direito à riqueza, mas apenas depois que ficaram ricos. Cansei de ver também religiões que pregam o desprendimento material, mas mantém seus cofres cheios às custas do desprendimento induzido de suas ovelhas.

Não... a vida não é um teatro, embora sejamos atores e ela nos permita representar nossos papéis. Ela não escreve roteiros, mas registra todas as histórias enquanto se desenrolam e as vai arquivando no "akasha". Não se maltrate, mas também não deixe nada por muito tempo debaixo do tapete porque uma hora você vai tropeçar. Duvide, mas busque a sua verdade; odeie, mas entenda o seu ódio; tenha mágoa, mas entenda a sua mágoa; ame, mas sinta o verdadeiro amor; perdoe, mas só depois que aprender a amar. Amar os outros e a si mesmo.

Como escreveu La Rochefoucauld: "Perdoa-se na medida que se ama."

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terça-feira, 22 de maio de 2012

Gostos e desgostos - Osho


O dia em que você decidir não pedir as coisas que você quer e, em vez disso, gostar das coisas que lhe acontecem, nesse dia você se tornará maduro.

Podemos continuar desejando o que achamos que gostamos, mas isso sempre o deixará infeliz, porque o mundo não segue de acordo com seus gostos e vontades. Não há garantia de que o que você deseja é o que a vida lhe deseja também; não há garantia nem certeza. É grande a possibilidade de que sua vida esteja destinada a algo do qual você nada sabe.

Mesmo quando você obteve aquilo que desejava, ainda assim não se sentiu muito feliz, porque tudo o que demandamos já o vivemos em fantasia; já é de segunda mão. Se você deseja ardentemente que uma certa pessoa seja o seu amor, em muitos sonhos e em muitas fantasias você já amou essa pessoa. E, se realmente isso acontecer, essa realidade estará abaixo da sua fantasia; essa pessoa será apenas uma cópia, por que a realidade nunca será tão fantástica quanto a fantasia. Você ficará frustrado.

Mas se começar a gostar daquilo que está acontecendo; se não colocar sua própria vontade contra tudo e se simplesmente disser "tudo bem", acontecendo o que acontecer, você simplesmente dirá sim, então nunca será infeliz.

Não importa o que aconteceu, está acontecendo ou acontecerá, pois, se você estiver sempre com atitude positiva, estará pronto para aceitar o momento e desfrutá-lo.

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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Permita o amor e aceite também o ódio

(...) Quando você permite que o amor venha à tona, o ódio também vem. É por isso que muitas pessoas reprimem seu amor – porque lhes foi ensinado a reprimir o ódio e ambos são aspectos da mesma energia. Eles não são dois; eles são um. Assim, quando o amor vem à tona, o ódio também vem, e se você reprimir o ódio, o amor também será reprimido simultaneamente.

Se você compreender isso, não irá pensar em termos de querer ou não querer. Isso é um fato. O seu querer ou não querer não fará qualquer diferença. Tem que aceitar isso, tem que aceitar tudo que for. O que você pode fazer? Se você reprimir o ódio – e a sua repugnância irá reprimi-lo – então, imediatamente, o amor será reprimido. Assim, você pode se tornar, pelo menos na superfície, menos rancoroso, mas então, você será menos amoroso também. O custo disso é grande e não vale a pena.

A coisa verdadeira é permitir o amor e aceitar o ódio também. Se você aceitá-lo, logo verá que ele estará desaparecendo e a mesma energia está se voltando para o amor. Um dia ele desaparece, mas ele não pode ser reprimido. Ele desaparece através da aceitação – e então uma qualidade totalmente nova de amor surge, não corrompida pelo ódio. Mas tal amor somente é possível se você aceitar isso: amor e ódio. Se você reprimir isso, aquele amor mais profundo nunca será possível. Tal amor mais profundo não conhece ódio algum, mas você nada sabe sobre ele, a mente não consegue saber coisa alguma sobre ele. Ele é algo além da mente. Ele não é da mente.

A mente sempre é dual. Se o amor está ali, o ódio está ali. Se a compaixão está ali, a crueldade também está. Se o compartilhamento está ali, a avareza também está. A mente sempre é dual, e se você quiser ir além da mente, então não faça escolhas a partir dessa dualidade. Não diga, ‘Eu escolherei o amor e não escolherei o ódio.’ Assim, você permanecerá na mente para sempre. Simplesmente aceite ambos. Na aceitação, você trancende. Você vai além de ambos, porque você não fez qualquer escolha a favor disso ou daquilo. Mas eu compreendo – o problema é prático.

Se você ama um homem ou uma mulher, e simultaneamente o ódio surge, o que fazer? Seja franco e verdadeiro, e diga à pessoa que você a ama, mas que também a odeia, porque, a quem mais você iria odiar? Diga, ‘Se você decidir escolher me amar, então você tem que me aceitar em minha dualidade, eu estou em minha mente. Eu ainda não sou um Buda. A não-mente ainda não aconteceu para mim, assim, se você me ama, ame como eu sou. Eu não terei uma face falsa. Se existir ódio, eu o mostrarei a você. Tenha compaixão por mim.’

Nós estamos pedindo coisas impossíveis às pessoas. Nós dizemos a uma mulher, ‘Se você me ama, não pode me odiar jamais. E se você me odeia, nunca poderá me amar.’ Isto é absolutamente absurdo. Se ela o ama, irá odiá-lo também, porque a mente sempre divide. A mente trabalha através de polaridades, de opostos. É exatamente como a eletricidade positiva e negativa. Se você quer eletricidade positiva, terá que ter a eletricidade negativa também. Se você disser, ‘Eu tenho

apenas eletricidade positiva’, então não haverá eletricidade alguma. Ela existe apenas entre os dois polos. A tensão entre os opostos é a sua própria existência.

Se o seu ódio desapareceu completamente, então haverá apenas duas possibilidades: ou você se tornou um Buda e agora você atingiu aquele amor que é uno, indiviso, indivisível, incorrupto, virgem, ou – o que é mais provável – o seu amor para com aquela pessoa também desapareceu.

Se com sua mulher você tem que estar de guarda, onde você estará sem vigilância? Onde você estará de férias? Você estará constantemente tenso e não haverá domingos em sua vida.

O amor é um domingo.

Cansado – cansado das falsidades, cansado das máscaras, cansado de mostrar faces feias e não verdadeiras às pessoas, e continuamente reprimindo seu ser – a pessoa quer alguém com quem possa ser ela mesma totalmente – relaxada, à vontade, tranqüila. Assim, se você ama uma pessoa, desde o início, nunca seja não verdadeiro. Se o amor desaparecer, é melhor que o relacionamento seja quebrado. Ele tem que ser quebrado – porque não há qualquer sentido em tal relacionamento. Se a sua verdade for aceita, se você for aceito, somente então este é um amor que vale a pena. Então você cresce através dele.

Em um simples momento, a pessoa pode mudar completamente. Ela estava muito alegre e pode se tornar muito triste. Exatamente um momento antes ela estava pronta para morrer e no momento seguinte ela está pronta para matá-lo. Mas a humanidade é assim. Isso traz uma profundidade, traz surpresas e um tempero... Caso contrário, a vida seria muito entediante.

Tudo isso é belo. Tudo isso são notas de uma grande harmonia. E quando você ama uma pessoa, você ama essa harmonia e aceita tudo que compõe essa harmonia. Algumas vezes está chovendo, outras vezes o céu está escuro e cheio de nuvens, e outras vezes as nuvens desaparecem e ele fica repleto da luz solar. Algumas vezes é muito frio e outras vezes é muito quente. E exatamente desse mesmo jeito, o clima humano vai mudando, todas as coisas vão mudando. Quando você ama uma pessoa, você ama todas essas possibilidades. Infinitas são as possibilidades e você ama todos os matizes e tons.

Assim, seja verdadeiro e ajude-a a ser verdadeira. Então o amor se torna um crescimento. Caso contrário. O amor pode se tornar uma coisa muito venenosa. Pelo menos, não corrompa o amor. E lembre-se, ele não é corrompido pelo ódio. Ele é corrompido pela falsidade. Ele não é corrompido pela raiva, nunca. Mas ele é destruído por uma pessoa não autêntica, por uma falsa face.

O amor somente é possível quando existe a liberdade de você ser você mesmo, sem qualquer vigilância, sem qualquer restrição. Você simplesmente está fluindo. O que você pode fazer? Quando você está rancoroso, você está rancoroso. Quando as nuvens estão no céu e o sol está brilhando, o que você pode fazer? E se a outra pessoa compreende e ama você, ela aceitará, ela o ajudará a sair das nuvens – porque ela sabe que isto é apenas um clima que vai e vem – Estes são apenas humores, são fases passageiras, e por trás dessas fases passageiras está a realidade, o espírito da pessoa, a alma.

Quando você aceita todas essas fases, logo os vislumbres da alma verdadeira começam a acontecer para você. Continue meditando e faça de seu amor uma meditação também.


OSHO – A Rose is a Rose is a Rose - Cap. 21 (OshoBrasil)

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sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Louco - Khalil Gibran

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em minhas sete vidas - e corri sem máscaras pelas ruas cheias de gente, gritando:
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!”. Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei minhas máscaras. E, como num transe, gritei:
“Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

(Khalil Gibran)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

2600 anos de filosofia ocidental - e daí?

Após os mais de 2600 anos da filosofia ocidental a partir de Tales de Mileto, não é difícil perceber que a filosofia fez mais bem para o ego dos filósofos do que para a humanidade. Para os que usam aquele velho argumento de que a filosofia NÃO existe para resolver problemas comportamentais e que o mundo estaria pior sem ela, eu pergunto: o quanto ele estaria pior?

Considerando que a proposta da filosofia é ajudar na análise de conceitos e no esclarecimento de idéias, quando vemos a humanidade caminhando quase que irreversivelmente para a sua autodestruição - ou do Planeta que é a mesma coisa - de que adiantou todo esse esforço filosófico para fazer com que o ser humano se entendesse melhor? Somos todos seres humanos e os filósofos não podem ser excluídos da espécie.

Não que a filosofia como estudo seja culpada pela rota quase que irreversível da humanidade em direção ao caos, pois, análises são apenas referências e não impõem modelos desejáveis de comportamento coletivo (convenções morais). Dessa forma, a filosofia em si não pode ser responsabilizada pela ordem dos valores objetivos de hoje, mas a falta de ações dos filósofos pode. Essas ações não devem ser confundidas com pregações, mas de estímulo para que o ser humano discuta e reflita sobre o seu papel na evolução das consciências planetária e universal da humanidade.

O egocentrismo e a  vaidade dos filósofos atuais não permitem que os mesmos se unam em torno de objetivos comuns. É fácil notar que limitam-se em trabalhar com referências passadas, não só em relação a outros estudos, mas também a posicionamentos de outros filósofos, preferencialmente os mortos, provavelmente porque esses últimos não podem rebatê-los do além-túmulo. Não promovem debates públicos e não se preocupam em descer à média do ser humano "normal" que compõe a massa conduzida pelo inconsciente coletivo. Não se pede para que o filósofo leve soluções, mas que ajude o ser humano a se conhecer mais e a discutir valores que são adotados por ele sem o devido questionamento.

Você que é filósofo profissional, ou seja, que se autodenomina como tal e ganha a vida com a filosofia, tire a bunda da cadeira e faça algo mais produtivo do que ficar estudando, refletindo sistematicamente ou escrevendo artigos e livros.

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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sexo e dinheiro - Parte II

Dando continuidade aos temas, dinheiro é outro tabu dentro das religiões. O interessante é que a maioria dessas religiões fala muito sobre a ganância, mas não faz outra coisa senão arrecadar dinheiro sob o manto da multiplicação dos peixes de Jesus, ou seja,  alegam precisar de dinheiro para ajudar mais pessoas. Essa justificativa me lembra que os políticos dizem algo parecido. Não vou comentar esses casos, mas apenas fazer duas perguntas para que você mesmo tente responder: O dinheiro vai mesmo para essa causa nobre? Essas religiões ou políticos possuem muitos bens móveis, imóveis e aplicações financeiras?

Dinheiro é bom, desde que a energia agregada - fruto do trabalho honesto e de boa fonte - também seja boa. O dinheiro nos permite viver bem e aproveitar melhor a nossa existência, dentro dos conceitos de vida e de felicidade de cada um. Desta forma, ninguém pode ser criticado, tanto por desejar mais quanto por estar feliz com o dinheiro que tem, desde que trabalhe dentro de princípios éticos.

O status é uma consequência natural de quem possui dinheiro, mas ter o status como objetivo normalmente nos leva à busca do enriquecimento e essa corrida não estabelece limites para nenhum desses dois objetivos. Uma forma de encontrar esses limites está na simples pergunta que deve ser feita para si mesmo: como está a minha qualidade de vida?

Escreveu Carlos Drummond de Andrade: "O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza."

Embora "qualidade de vida" seja algo muito relativo e de conceito transitório, não é difícil perceber alguns sinais que a vida nos dá. São mais perguntas que devemos fazer para nós mesmos, incluindo nossos cônjuges e filhos. E os pesos das respostas, mais uma vez estão ligados às nossas concepções de qualidade de vida.
- Posso sair e voltar para casa tranquilo?
- Estou tendo tempo para mim mesmo?
- Como vai o meu crescimento interior?
- Tenho tempo para meu lazer com a família?
- Como vai a minha saúde?
Para pensarmos nessas perguntas e respondê-las com sinceridade, precisamos primeiro nos afastar do dia-a-dia, não tem jeito! E se chegarmos à conclusão que não podemos nos afastar por algumas horas ou dias do cotidiano para respondermos essas perguntas, aí vai uma dica: acho que sua qualidade de vida não é das melhores e compensa refletir melhor sobre isso.

Em resumo, sexo e dinheiro são valores importantes, mas a partir do momento que percebemos estarmos guiando as nossas vidas por eles, certamente num determinado momento iremos nos frustrar e o tempo não volta atrás. Todos envelhecemos e somos mortais. Invariavelmente, todos nós iremos refletir na velhice e raramente ouviremos de nós mesmos: "Puxa... eu deveria ter trabalhado mais para ganhar mais dinheiro."

Finalizo com uma sábia frase de Lao Tsé: "Para ganhar conhecimento, adicione coisas todos os dias. Para ganhar sabedoria, elimine coisas todos os dias."



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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Lealdade e fidelidade são a mesma coisa?

Muitos confundem os conceitos de fidelidade e lealdade humanas, palavras parecidas, mas com significados bem diferentes. Na linguagem popular, ambas ganharam erradamente alguns sinônimos vulgares como bajulação, adulação, submissão entre outros, mas na verdade esses adjetivos são rótulos de observadores invejosos ou que se sentem prejudicados. Fidelidade e lealdade têm etimologia distinta, significados semelhantes e diferenças sutis. A lealdade contém, enquanto a fidelidade está contida nesta primeira.

Resumidamente, fidelidade significa cumprir um acordo negociado entre duas partes. Já a lealdade não exige acordos explícitos ou convenções, sendo a pessoa responsável em manter sua conduta por meio de regras próprias estabelecidas naturalmente pelo seu caráter e senso de dignidade.

Fidelidade é com o contrato e não com pessoas. Fiéis são aqueles que cumprem seus acordos, mas às vezes são obrigados a romperem o acordado pelo não cumprimento da outra parte. Foram fiéis ao que foi negociado, leais à sua própria conduta e não à pessoa.

A lealdade, no conceito de muitos deve ser cega, e cegueira é fanatismo. Tanto a fidelidade quanto a lealdade não dispensam o bom senso para impor os seus limites.

E quem define esses limites é o caráter de cada um.