domingo, 28 de março de 2021

DOMINGO DE RAMOS - DE MAIS QUANTOS MILÊNIOS IREMOS PRECISAR?

Embora não tenha religião e sim minhas próprias crenças, sempre procurei conhecer as histórias das religiões e seus simbolismos. Agnosticismo não é ateísmo. Creio numa força maior, uma energia ou "força creadora", como escreveu Huberto Rohden. Creio também nas narrativas religiosas e nos simbolismos que elas carregam, ou seja, nas mensagens dessas histórias de forma não literal, pois, muitas delas foram adaptadas para atingir seus rebanhos transformando-as em frases que são decoradas e repetidas sem a devida reflexão. Enfim, essas são verdades "minhas". Em todos os lugares que passei, para conhecer e estudar algumas religiões e filosofias, a frase "aqui você conhecerá a verdade" sempre me incomodou. Não creio em verdades únicas.

Hoje é Domingo de Ramos, festa móvel em relação à Pascoa, tradição dos cristãos, e quero nesta data refletir um pouco sobre o significado mais sutil desta comemoração.

"Zacarias profetizou: 'Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta' (Zacarias 9:9). Mateus 21:7-9 registra o cumprimento dessa profecia: '...trouxeram a jumenta e o jumentinho. Então, puseram em cima deles as suas vestes, e sobre elas Jesus montou. E a maior parte da multidão estendeu as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada. E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!' Este evento aconteceu no domingo anterior à crucificação de Jesus."

Na interpretação de alguns, o simbolismo do jumento é tradição oriental para diferenciá-lo do cavalo, utilizado por reis para declarar guerra ou cumprimentar seus soldados vencedores. Ao contrário do cavalo, o jumento representa a simplicidade e a paz de quem o monta. Portanto, Jesus entrou em Jerusalém como mensageiro da paz e do amor, não como um rei desafiando opositores incrédulos. Mas Pilatos, assim como o sinédrio, ambos autoritários e beligerantes, a serviço de César, viram em Jesus uma ameaça aos domínios romanos.

Em resumo, passados mais de 2 mil anos, a paz, a simplicidade, a união dos cordatos, dos humanistas, enfim, dos que sentem compaixão pelo próximo, ainda representam perigo para os autoritários e beligerantes, que temem perder seu domínio sobre o povo ao abrir mão do poder e de seus privilégios.

Compaixão é um sentimento com significado muito mais profundo do que dó ou pena. A melhor definição que já li até hoje sobre esse sentimento é do Dalai Lama:

"Outras pessoas, assim como eu, buscam a felicidade, não o sofrimento, e mesmo sendo inimigos, têm o direito de superar esse sofrimento. E a partir da compreensão de que eles têm esse direito, desenvolve-se um sentimento de inquietação, que é a verdadeira compaixão."

Em tempos de pandemia, esta é a lição mais difícil de se compreender e aprender.

Quantos outros milênios serão necessários?

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