quinta-feira, 28 de novembro de 2019

MILI(RRI)TANTES

Este post não é para os que gostam de ler apenas títulos e resumos. A esses, sugiro a Wikipédia ou um site de resenhas.

Não comecei a gostar e acompanhar política ontem à noite. Incomum para a época, aos 20 anos eu já assinava jornais. Meu primeiro envolvimento com movimentos foi em 1984 quando eu tinha 30 anos. Foi algo inesperado. Na época eu era radioamador e costumava frequentar a Rua Santa Efigênia, no famoso Centrão de São Paulo. Lá era o paraíso dos profissionais e aficionados (ou aficcionados para os antigos) das montagens eletrônicas. Pertinho da antiga rodoviária, era um programa gostoso passar o dia inteiro subindo e descendo a rua, entrando e "fuçando" das grandes lojas às pequenas portas onde garimpávamos componentes eletrônicos de desmanches aeronáuticos, inclusive da Segunda Guerra. Depois, para terminar, dar uma esticadinha até a Casa Castro na Rua dos Timbiras era programa obrigatório. Lá encontrávamos radioamadores que antes só conhecíamos pelo rádio.

Deixando o saudosismo de lado, numa dessas minhas "garimpadas" (eu estava em férias - abril de 1984, segunda-feira) notei um movimento anormal no Centrão. Perguntei ao vendedor que me atendia o que estava acontecendo e ele respondeu que era o comício das Diretas no Anhangabaú, coisa que até então eu só havia visto na TV. Como eu já havia andado muito na Santa Efigênia, resolvi ir apenas por curiosidade.Confesso que foi empolgante quase perdi o último ônibus de volta. A internet é rica em informações sobre o evento, portanto não vou me alongar no assunto porque o objetivo do texto é outro.

Pois então, a partir daquele dia comecei a me interessar por assuntos políticos. Livros, artigos, jornais, revistas, debates... e lá se vão 35 anos! Fui filiado ao PSB (tempos de esquerda) e depois ao PSDB (meio do muro), mas pulei fora e desisti dessa podridão de partidos políticos. Quem já frequentou seus bastidores vai concordar comigo. Ver gente entrando no diretório partidário dando socos no ar e comemorando porque "fulano de tal" (não vou dizer o nome do político) morreu é canalhice demais pro meu estômago.

Mas quero dar uma paradinha no ano de 2001 quando eu participava de uma lista de discussão no Yahoo. Chamava-se ListaPT. Os mais jovens e incautos dirão: ah... petista! Mas não... era uma lista que existia desde 1998/1999, se não me engano. Embora tivesse sido criada pelo PT, havia gente de todos os partidos. Muita gente politizada e de boa cultura. Textos bons e bem fundamentados gerando ótimos debates, mas em 2001 a direção do PT acabou com a lista. Motivo? Marta Suplicy foi eleita prefeita de São Paulo e na primeira licitação de emergência contratou a empresa de lixo que pôs dinheiro em sua campanha. Seu ex-marido, o franco-argentino Luis Favre fazia parte da lista e tentou defendê-la, mas não conseguiu. Foi o maior quebra-pau, inclusive com militantes petistas criticando o fato. As militâncias partidárias da época não tinham nada a ver com as de hoje. Havia xingamentos e alguns radicais, mas numa proporção quase insignificante.

Pulando 18 anos nessa minha linha do tempo, vemos hoje muito mais cidadãos interessados na política do que naquela época. Isso de certa forma é muito bom, mas ao mesmo tempo triste - e põe tristeza nisso - ao ver o nível dos debates que ocorrem nas redes sociais. Aliás, discussão seria um termo mais apropriado. Justiça seja feita, quem começou essa história do "nós contra eles" e a privilegiar a destruição do argumentador ao invés do argumento foi o PT, mas esse estilo conquistou adeptos fanáticos e impensantes de vários outros partidos e grupos ideológicos.

Há 10 anos no twitter, posso afirmar que tentar dialogar com esses brucutus (e brucutuas) além de ser desgastante é simplesmente inútil. Um verdadeiro besteirol de palavrões, xingamentos, rótulos e chavões já no primeiro comentário. Não perco tempo: bloqueio e sigo em frente! Podem me chamar de "isentão", ingênuo, puritano e outros termos para desqualificar minhas opiniões, mas me pergunte se eu me ofendo, seja com esses ou quaisquer outros rótulos imbecis. Quando você chega aos 66 e vê esses ingênuos de hoje falando grosso e cheios de razão, acaba tratando-os como meros pré-adolescentes exalando testosterona ativista.

Isento ninguém é. A partir do momento em que admiramos um político ou jornalista por suas ideias e atitudes, tenderemos a ouvi-los e acompanhá-los mais. O problema começa quando perdemos nosso senso crítico, transformando esses que admiramos em heróis e nos perdemos em meio às nossas próprias expectativas e frustrações. Sim... é legítimo reavaliarmos nossa ordem de valores diante de opiniões diferentes das nossas quando bem fundamentadas, mas alterar nossos conceitos de certo e errado, assim de bate-pronto, apenas porque o opinante é fulano ou fulana de tal? Sem avaliar se há algum outro interesse fazendo com que ele, o opinante, tente incutir uma nova ideia na cabeça dos seus seguidores valendo-se do bom histórico que tem de promessas e comentários sensatos?

Qualquer tipo de paixão é fruto do desequilíbrio emocional, do amor físico ao futebol ou à política. Fuja dos apaixonados políticos logo que apresentarem os primeiros sintomas da doença. Se você admirava a pessoa, acompanhe-a à distância. Ninguém surta uma vez só.

Nelson Rodrigues dizia "Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.".