Até mesmo os mais insensíveis e os apolíticos conseguiram entender as mensagens das ruas, mas os que deveriam entender até agora ainda não entenderam ou fazem de conta que não. Vamos supor que entenderam, mas não querem largar o osso porque há filé grudado nele, mas aí o problema já passa a ser outro. É um problema de limitação de capacidade cognitiva, ou seja, não conseguem entender o "penso, logo existo" de Descartes e permanecem no "não consigo pensar e logo desisto" do paradoxo do filósofo burro de Jean Buridan. Dilma tenta remediar sua incapacidade de gerenciar a crise empurrando o pepino para o Congresso e, ao contrário do que ela imaginava, a coisa vai complicar mais ainda. Em primeiro lugar porque é muito mais fácil ocorrer o inverso, ou seja, o Congresso boicotá-la para salvar a própria pele. Deputados e senadores já cansaram de provar que nessas horas o corporativismo fala mais alto e é certo que as vozes dos presidentes da Câmara e do Senado serão encobertas pelas vozes dos legisladores. Em segundo lugar, o inconsciente coletivo indignado das ruas exige ações imediatas, pois, inconscientes não raciocinam e apenas obedecem a impulsos. A população vai parar de reivindicar seduzida pela ideia de um plebiscito que nem sabe direito o que é? Vai trocar um basta que estava entalado na garganta e explodiu por um "ajude-me a resolver os sérios problemas que vocês não criaram?" Quem tem a caneta na mão?
Já a falta de representatividade política não foi causada pela forma com que os eleitores escolheram seus candidatos e muito menos pela estrutura e modo de funcionamento do sistema legislativo, mas sim pela prostituição dos partidos, a começar - e principalmente - pelo PMDB que rasgou seu estatuto partidário há muito tempo, traindo seus eleitores e trocando toda sua história de luta por poder e dinheiro. E o mesmo aconteceu com os outros partidos da base de apoio ao governo, pois, afinal aprenderam com o mestre. Tentar discutir se a culpa é do governo ou dos partidos seria como tentar equacionar o problema da corrupção respondendo a simples pergunta de quem é o maior culpado, o corrupto ou o corruptor? Eu responderia dizendo que os dois fazem parte desse mesmo lixo fedorento.
Dilma consegue fazer medidas provisórias para liberar bilhões e facilitar a vida de empreiteiras, da CBF e da FIFA, mas por que não consegue fazê-las para que o BNDES libere os mesmos bilhões para a segurança, saúde e educação? Antes a resposta seria bem mais simples, a de que o circo vale mais. Porém, agora não vale tanto quanto valia e a prova disso está aí nas ruas.
A maioria desses que estão manifestando toda sua revolta, sabe que o plebiscito, além de representar gastos de 500 milhões apenas para tentar jogar água na fogueira, não trará soluções práticas e muito menos a curto prazo. Sem contar a preocupação FUNDAMENTADÍSSIMA de que ele poderá ser usado para neutralizar alguns preceitos constitucionais garantidores da liberdade de expressão, de imprensa e da alternância de poder. Isto porque não há como fazer perguntas simples para que as respostas não dependam de interpretações do Congresso. Plebiscito dessa complexidade cheira a golpe e como disse o ex-ministro e presidente do STF Ayres Britto, é passar um cheque em branco para esses políticos que estão aí. Plebiscito desse jeito e nesta hora, é arapuca.
O congresso e o senado, mesmo que hipocritamente, resolveram votar projetos que estavam encalhados e que faziam parte das reivindicações, mas o governo até agora ainda não soltou nenhuma medida provisória, hipócrita que fosse, para mostrar que entendeu o que o povo das ruas quer. Respondeu com plebiscito e teimosia, fazendo cara de paisagem.
Paisagem de deserto com dunas, escorpiões e cactus.
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