segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Medo de dizer eu te amo


Medo, vaidade, orgulho e mágoa (sim, o paradoxo da mágoa). São esses os maiores responsáveis pelos nossos constantes fracassos na busca do amor possível. Não que a opção de ficar sozinho traga infelicidade e que ninguém possa ser feliz dessa forma. Mas para ser feliz sozinho, não basta simplesmente não ter ninguém e tentar se acostumar com essa ideia. Deve haver um preparo racional, regado por algumas experiências anteriores - não necessariamente frustrantes - e um realinhamento emocional para se estabelecer um nova ordem de valores. No entanto, descobrir no final da vida que perdeu a oportunidade de ser feliz junto a uma pessoa e que isto era mais importante do que se imaginava, certamente não será uma constatação das mais gratificantes. Você decide!


Texto abaixo extraído do livro "Amar pode dar certo"
Roberto Shinyashiki e Eliana Bittencourt Dumêt


É muito comum as pessoas dizerem que sentem medo de ficar sozinhas no futuro. O fato, porém, é que essas pessoas já estão sozinhas. Mesmo que preencham a vida com uma série de compromissos, trabalhos e relações superficiais, não têm consciência da própria solidão.

Quem teme ficar sozinho, tanto na meia-idade como na velhice, é porque já está tomando providências para que a solidão se instale. Já está programado um futuro solitário, passo a passo, com a vida que estruturou no presente.

O que é realmente solidão?

Adaptamos um poema sobre a solidão, cuja autora quer se manter anônima:

Solidão é...
Olhar o telefone, ansioso por um chamado, e ele permanecer mudo.

Ouvir uma música e não ter ninguém com quem associá-la.

Querer dormir muito, para não ter a consciência de que está só.

Não ter ninguém com quem brindar um acontecimento.

Sentir frio e não ter um abraço para aquecê-lo.

Falar alto em casa, para ter a sensação de estar ouvindo algum ser humano.

Ter apenas um prato na mesa, às refeições.

Não ter alguém para lhe abotoar o vestido ou lhe ajeitar a gravata.

Sair de madrugada, tentando encontrar algum conhecido para poder desabafar.

Perceber que não tem um ombro para chorar.

Ler o jornal, durante as refeições, por não ter com quem conversar.

Verificar que a correspondência se resume a contas e extratos bancários.

Nunca ter a quem dizer bom-dia, ao acordar.

Não ter quem lhe faça um chá, quando está indisposto.

Não ter a possibilidade de dividir o mesmo desodorante ou a mesma pasta de dentes.

Não ter alguém eu lhe impeça o suicídio.

E você? Quando se sente realmente só?

Não há dúvida de que devemos criar momentos de isolamento, pois eles são um sinal da nossa mais profunda identidade. É bom ficarmos sozinhos de vez em quando para refletir em silêncio, para descobrir quem somos. Esse isolamento, no entanto, é apenas uma pausa para olharmos ao nosso redor, em busca do amor.

O isolamento não é solidão, mas um momento para estarmos conosco, em paz e harmonia. É uma busca interior, um movimento voluntário, uma virtude a ser desenvolvida que nos ajudará a encontrar melhor os olhos e o coração dos outros.

O isolamento contraria a essência do ser humano, que é amar e ser amado. A solidão é quando nos trancamos para o amor. É a incapacidade de se comunicar, de estar com alguém. Muitas pessoas, num ato de vaidade, podem até demonstrar orgulho por não depender de ninguém. Mas, depois de algum tempo, vão se tornando amarguradas e desesperadas.

O ser humano, mesmo se isolando, mesmo sabotando todas as formas de amor, continua, no seu íntimo, querendo amar. Não se sabe de onde, mas, de repente, aparece uma ânsia louca por alguém, por um amor duradouro, por uma intimidade diária, por uma convivência feita de pequenas circunstâncias diárias.

Existe um experimento em psicologia comportamental que exemplifica bem como o ser humano se limita ao amor.

Um cientista coloca um ratinho numa gaiola. No início, ele ficará passeando de um lado para o outro, movido pela curiosidade. Quando sentir fome, irá em direção ao alimento. Ao tocar no prato, no qual o pesquisador instalou um circuito elétrico, o ratinho levará um choque muito forte que, se não desistir de toca-lo, poderá até morrer.

Depois do choque, o ratinho correrá na direção oposta ao prato. Se pudéssemos perguntar-lhe se tem fome, certamente responderia que não, porque a dor provocada pelo choque faz com que despreze o alimento. Depois de algum tempo, porém, o ratinho entrará em contato com a dupla possibilidade da morte: a morte pelo choque ou pela fome.

Quando a fome se tornar insuportável, o ratinho vagarosamente, irá de novo em direção ao prato. Nesse meio tempo, no entanto, o pesquisador desligou o circuito. O prato não está mais eletrificado. Porém, ao chegar quase a tocá-lo, o ratinho terá a sensação de que levou um segundo choque.

Haverá taquicardia, seus pêlos se eriçarão e ele correrá em direção oposta ao prato. Se lhe perguntássemos o que aconteceu, a resposta seria: "Levei outro choque". Esqueceram de avisá-lo que a energia elétrica estava desligada!

A partir desse momento, o ratinho vai entrando numa tensão muito grande e seu objetivo agora é encontrar uma posição intermediária entre o ponto da fome e o do alimento que lhe dê uma certa tranqüilidade.

Chama-se a isso de ponto de equilíbrio, porque representa uma posição entre fazer alguma coisa para se alimentar e ao mesmo tempo evitar um novo choque.

Qualquer estímulo que ocorrer por perto, como barulho, luminosidade ou algo que mude o ambiente, levará o ratinho a uma reação de fuga em direção ao lado oposto do prato. É importante observar que ele nunca corre em direção a comida, que é do que ele realmente precisa para sobreviver.

Se o pesquisador empurrar o rato em direção ao prato, ele poderá morrer em conseqüência de uma parada cardíaca, motivada pelo excesso de adrenalina, pelo medo de que o choque primitivo se repita.

É provável que você esteja se perguntando: "Muito bem, mas o que isso tem a ver com o medo de amar?"

Muitas vezes, vemos pessoas tomando choques sem tocar no prato.

Quantas vezes, nesta semana, você teve vontade de convidar alguém para sair, para conversar, para ir à praia ou ao cinema, e não o fez, temendo, que a pessoa pudesse não ter tempo ou que não gostasse de sua companhia, e, desse modo, acabou sentindo-se rejeitado sem ao menos ter tentado?

Quantas vezes você se apaixonou sem que o outro jamais soubesse do seu amor?

Quantas vezes você já abandonou alguém, com medo de ser abandonado antes?

Quantas vezes você sofreu sozinho, com medo de pedir ajuda e ficar "dependente" de alguém?

Quantas vezes você se afastou de um grande amor, com medo de se comprometer?

Quantas vezes você não se entregou ao amor por medo de perder o controle de sua "liberdade"?

Quantas vezes você tomou um choque sem tocar no prato?


Roberto Shinyashiki e Eliana Bittencourt Dumêt
Do livro: "Amar Pode Dar Certo"

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