"A mentira é essencial à humanidade. Ela desempenha porventura um papel tão importante como a procura do prazer, e de resto é comandada por essa mesma procura. Mentimos para proteger o nosso prazer, ou a nossa honra se a divulgação do prazer for contrária à honra. Mentimos ao longo de toda a nossa vida, até, e sobretudo, e talvez apenas, àqueles que nos amam." Marcel Proust em "Em Busca do Tempo Perdido VI - A Fugitiva"
Se nos basearmos nessa reflexão de Proust podemos entender também que - mudando apenas o ponto de vista - que a mentira pode ter duas faces na proteção do prazer, não só para quem mente como também para quem ouve e aceita a mentira sem questionamentos. Como o lado do autor da mentira é mais fácil de se entender, a reflexão sobre o comportamento de quem a ouve e aceita sem questionamentos, é mais sutil e complexa.
Aquele que busca inconscientemente uma razão para manter um prazer doentio que não é aceito por outras pessoas, prefere adotar a mentira de outro e considerá-la verdade, pois, a sua autoestima permanecerá intocável, transferindo a culpa e fortalecendo a credibilidade desse outro. Lutará tão decididamente a favor do mentiroso que o tornará mais forte e mais crível, num processo de (auto)realimentação constante, enquanto os prazeres de ambos estiverem sendo ameaçados. E a terceira pessoa - a que foi diretamente afetada pela mentira - não terá forças nem credibilidade para combater o prazer desses primeiros, fortalecidos pelos seus desejos lastreados nessa mentira que se tornou verdade.
É o teatro da vida!
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