domingo, 26 de dezembro de 2010

As aparências se esganam

O fato de a próxima legislatura (2011/2014) apresentar números que aparentemente determinariam uma estrondosa maioria governamental no Congresso, há possibilidade de que a diferença de qualidade dos novos integrantes e uma boa estratégia possam ser decisivos para o sucesso da nova e pequena oposição. Já está mais que provado: gritos, berros e denúncias desorquestradas não conseguem nada, ainda mais diante de governos populistas como foi o de Lula. Não foram só a farra do dinheiro e os bons resultados econômicos os responsáveis pelo mal desempenho da bancada oposicionista. Lula com sua inegável capacidade de comunicação e seu carisma conseguiram abafar escândalos como um balde d'água apagando um palito de fósforo.

No entanto existem duas tendências que, tanto para o governo quanto para a oposição, serão decisivas nesses próximos quatro anos. Chamo de tendências porque não envolvem somente fatos novos, mas também avaliações intuitivas sobre a atuação do instinto na vaidade política. 

A primeira é no PT com o perfil menos carismático e mais pragmático de Dilma, característica que exigirá boa competência administrativa para manter a imagem deixada por seu antecessor, pois, Lula terá menos exposição (mesmo que esperneie) e se o partido tentar mantê-lo com muita influência, desgastará o PODER REAL CONSTITUÍDO e desmoralizará o sistema político-eleitoral brasileiro. Em termos de aceitação, é bom lembrar que Lula tinha 83% de popularidade e Dilma foi eleita com 56%, portanto, 27% dos eleitores/admiradores de Lula anularam seus votos, não compareceram às urnas, votaram em branco ou em Serra, somando-se à massa crítica em compasso de espera. 

A segunda é algo que poucos comentam: a insatisfação interna no PMDB devido à postura fisiologista que o partido adotou há mais de 16 anos e nela permanece. O PT quer crescer e o PMDB não quer perder a imagem que construiu ao longo do tempo em suas lutas históricas. O PMDB, que tem sido o fiel da balança nos três últimos governos (quatro se contar o de Itamar que também era vice), está indo para 20 anos sem candidato próprio à presidência e essa insistência poderá provocar uma dissidência qualitativa. E agora com a morte de Quércia, surge uma nova questão: até que ponto sua ausência abalará a coesão PT/PMDB? Alguns mais ingênuos dirão: "Mas Quércia estava sumido da política!". E quem disse que as principais articulações são feitas sob as luzes do palco político? Só saberemos se observarmos daqui pra frente.

Na minha opinião, essas duas tendências serão o calcanhar de Aquiles do próximo governo. Minoria oposicionista organizada e que planeja ações foi sempre mais efetiva e perigosa do que um bando de políticos berrando desordenadamente. Na história,  enquanto a maioria se guiava pelas emoções, as minorias provocavam mudanças. Ser seguido depois por essa mesma maioria, sempre foi e continuará sendo apenas uma questão de tempo e dinheiro. É ler e constatar.


-o-





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