sábado, 10 de outubro de 2020

O PODER DA INFORMAÇÃO E AS CAROLINAS DA POLÍTICA E DA IMPRENSA

Inicio com uma frase que escrevi outro dia e que resume bem o que vou escrever neste texto: "É sempre arriscado tentar mostrar-se inteligente. A inteligência mediana, com bom raciocínio e zelo, quase sempre se sai melhor." Informação obtida sem isenção e utilizada sem o devido zelo não serve para nada. Como escreveu Tagore, "A inteligência aguda e sem grandeza, tudo fura e nada move." 

Num pensamento rápido, podemos dividir a recente história política brasileira (e mundial) em duas fases: antes da Internet e após a Internet. E quando eu digo "política" refiro-me a três de seus principais componentes ou expoentes: políticos, eleitores e imprensa. Este assunto mereceria um livro inteiro ou uma coleção deles, mas tentarei fazer um resumo do que penso (sempre o que penso) sobre o tema abordando o comportamento desses três principais componentes diante dessas duas fases da história.

Escolhi a linha do tempo que abrange o período de 1988 a 2020, ou seja, da nova Constituição em diante. Isto porque o que antecedeu a 1988, embora tenha apresentado mudanças no segmento da informação (tecnologia, veículos e acesso a eles) não apresentou mudanças significativas, tanto no comportamento da população quanto no "modus operandi" da política e dos veículos de comunicação.

Subdividi o período escolhido (1988-2020) em outros dois: 1988-2004 e 2004-2020, sempre lembrando que estou abordando apenas aspectos da comunicação e do acesso à informação nesses períodos. As mudanças que ocorreram são visíveis e incontestáveis.

Na política (incluindo a militância) e nos veículos da grande imprensa, a percepção dessas mudanças foi e continua sendo lenta, pois, ambos resistiram durante muito tempo à perda de um poder quase que absoluto. Mesmo nos veículos mais independentes, notícias políticas e fatos decorrentes eram "peneirados" por suas editorias segundo seus próprios interesses - dos ideológicos aos financeiros - seja por vingança ou pelo desejo de conquistar parte das polpudas verbas governamentais. Em resumo, nos dois lados a manipulação da informação imperava. É fácil notar a diferença entre esses dois períodos ao analisarmos friamente e sem paixões, os impeachments que aconteceram (Collor e Dilma) e a participação da Globo, por exemplo, nos movimentos de rua de agosto de 1992 e o de junho de 2013. Não irei me alongar. Basta lerem sobre a influência da UNE e dos cara-pintadas (1992) e sobre a explosão espontânea que se desenrolou detonada pelos protestos - até pueris - contra o aumento das passagens de ônibus e que depois ficaram em segundo plano ou simplesmente desapareceram. No primeiro inpeachment, a oposição política do Congresso misturou-se ao movimento e na segunda seus líderes políticos foram expulsos (PSDB principalmente).

É praticamente impossível detalhar 32 anos de política, comunicação e comportamento dos eleitores em apenas um texto que atraia os leitores de hoje, mais afeitos a vídeos e resumos (infelizmente) e que também apresentam um alto nível de rejeição ao vincularem essa atratividade a títulos e autores. Talvez essa seletividade tenha acontecido em decorrência do crescimento do volume de informações. No entanto, houve um aproveitamento suficiente para elevar a média de conscientização da população sobre muitas verdades que eram disfarçadas ou engolidas pelo sistema e, consequentemente, pelo esquecimento.

Na verdade, políticos, militantes e imprensa ainda resistem em seus antigos "modus operandis" baseados na memória curta dos eleitores, enquanto esse últimos - ao contrário dos primeiros - não conseguem rejeitar ou ignorar a realidade que lhes é escancarada pela quantidade e diversidade de notícias do presente, passado e futuro que lhes são oferecidas e até impostas por inúmeras fontes, facilitadas pelos irreversíveis avanços tecnológicos e barateamento do acesso à informação.

Se as carolinas da política, da militância e da imprensa não renovarem seus conceitos e estratégias, dentro em breve teremos revoluções pipocando por todo o Planeta. E é importante nunca nos esquecermos de que o Brasil faz parte dele.


Obs: no quadro acima (clique para ampliar), considerem que em 2020, 72% dos domicílios brasileiros já estão conectados.


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