Desconsiderando o valor em si, está mais do que na cara de que a estratégia do governo com essa história de plebiscito é a de tentar neutralizar as ações dessa nova consciência cidadã que está nas ruas, usando - figurada e literalmente - seus currais eleitorais altamente manipuláveis, comprados pelo bolsa família e outros benefícios eleitoreiros e que não estão nessas manifestações. Em resumo, o governo quer diluir ou abafar o movimento das ruas utilizando sorrateiramente alguns mecanismos constitucionais. Nossa Constituição nada mais é do que um livro democrático, mas como escreveu Nietzsche, "os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha em que ambas retiram o suco das flores, mas enquanto uma faz o mel, a outra faz o veneno."
Serão formuladas perguntas que a maioria do povo não terá a menor condição intelectual de responder, como por exemplo perguntar para o cidadão que mora em Serra Nova Dourada no Mato Grosso, município com menos de 600 habitantes, se ele prefere o voto distrital misto, não misto, majoritário misto ou coisa que o valha. E uma das perguntas, certamente será se ele quer que tudo fique como está. Aos que não conhecem nada dessa história de voto distrital, mesmo que tentassem explicar num texto mais popular, em filme ou até em desenho animado, a preferência seria pela resposta mais simples e que não exige o trabalho de ter que pensar: "Que fique tudo como está, pois, vai que eu perco a minha Bolsa-Família!" Fora o que vão tentar enfiar no meio desse plebiscito pra mudar e aviltar a nossa já (r)emendada Constituição.
Portanto, esse plebiscito sugerido, além de dispendioso é o que poderíamos chamar de golpe branco, ou seja, um golpe velado nas cabeças desses mais conscientes que hoje reivindicam nas ruas, mais educação, saúde e segurança além de - e principalmente - o fim da corrupção no país das maravilhas, do populismo barato (barato pra eles), do carnaval e do futebol. Muito mais barato e racional seria o próprio Congresso, agora pressionado pelo povo nas ruas, discutir e apresentar uma proposta de novo sistema político para que seja votada em referendo.
Bem disse o ex-ministro Ayres Britto do STF, aquele que está fazendo enorme falta na corte que hoje não é tão máxima como era antes da aprovação na calada da noite da PEC-33, "seria como a população dar um cheque em branco aos parlamentares. Além disso, na sua ótica, o resultado pode não refletir o desejo da população, se os questionamentos forem muito teóricos. “O plebiscito precisa ter perguntas tão claras quanto o sol do Nordeste a meio dia, a pino”, destacou o ex-ministro.
Mas quem disse que o governo PT/PMDB quer uma luz forte iluminando essa proposta golpista dissimulada, concebida na escuridão dos porões do poder?
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