O aprendizado é duro, mas para se tornar útil é preciso que as experiências se agreguem positivamente à nossa essência, que aterrizem suavemente em nossa alma. E só depois que isto acontecer virá o perdão sincero e sumirão as nossas culpas. Mas para chegar lá é necessário muito trabalho interno.
E quando chegarmos, nossos "sims" e "nãos" também serão suaves, respaldados por nossas certezas não teimosas. O contraditório não terá mais nenhum poder de convencimento porque entenderemos o direito que cada um tem de não ter as mesmas certezas que as nossas e nem esperaremos que as tenham um dia. Como escreveu Carlos Drummond de Andrade, "Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho. ímpar."
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
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