Ser ou não ser, mas se for, ser o que? |
"Em Minas todo mundo sabe o que é piruá. Piruá é pipoca que se recusou a estourar. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode haver coisa mais maravilhosa do que o jeito com elas são. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia, deliciosa de ser comida com um salzinho. Não vão dar alegria para ninguém. Comidas as pipocas, os piruás vão para o lixo. Esse é o destino das pessoas que se recusam a mudar. Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira…" (Pipocas e Piruás - Rubem Alves)
A frase "Torna-te o que tu és" de Nietzsche (Assim Falou Zaratustra) é pequena em tamanho, mas imensa em reflexão. Como tornar-me aquilo que sou? O que sou e o que deveria ser?
É certo que nos moldamos a partir dos princípios morais ditados pela sociedade em que crescemos e vivemos. Aceitamos uma parte desses princípios porque vibram com a nossa essência, mas engolimos a outra sem questioná-la. Preguiça mental, medo, conformismo, indolência ou conveniência? Não importa... sempre buscamos motivos e justificativas para navegar na vida com o piloto automático ligado porque dá menos trabalho.
Não se trata de mudar por mudar, mas de questionar o que nos é imposto em termos morais e comportamentais. O foco da crítica não está nos que buscam as suas próprias verdades, mas nos reacionários e nos extremistas. Nos que acreditam na linearidade do pensamento (na famosa coerência) e nos que mudam apenas para serem diferentes e chamar atenção.
Os que mudam para serem diferentes, embora mantenham a aparência firme no teatro da vida, podem ao menos comparar os contrastes de sua atuação com seus valores internos. Já os que não mudam por coerência, medo ou seja lá o for, apenas passarão pela vida sem viver. Evolução é revolução. Não está na contestação compulsiva e muito menos na irritante regularidade planejada.
Como escreveu Fernando Pessoa: "A coerência, a convicção, a certeza são demonstrações evidentes - quantas vezes desculpadas - de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade."
Não podemos encontrar nós mesmos sem nos procurarmos.
Torna-te o que tu és. Uma imensa borboleta. Vou correndo pegar meu Nietsche. Adorei. :)
ResponderExcluirPutz, Nana... às vezes pego o meu Nietzsche e a coisa enrola mais ainda. Danado pra "minhocá". Mas na média a gente sempre ganha. rs
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