sábado, 12 de fevereiro de 2011

Controle e sentimento agregado

Desde pequenos, ouvimos de nossos pais ou dos que nos criaram, das religiões e das filosofias, que temos de ser humildes; que não podemos guardar rancores; que não devemos julgar ninguém; que a riqueza não traz felicidade e uma infinidade de outras "verdades" que nem cabem direito no nosso cérebro ainda em formação. Ficamos confusos, pois, ouvimos e lemos esses “conselhos”, mas vamos percebendo que, afinal, a vida REAL não se desenvolve dessa maneira que nos “aconselham”. Sempre com as devidas exceções, notamos que nossos pais brigam e ficam magoados um com o outro; que a nossa religião ou o nosso guru gosta muito de dinheiro; que a sociedade e as pessoas sempre estão nos julgando; que precisamos trabalhar muito para pagar a escola, sustentar filhos, comprar comida e outros produtos que as propagandas nos metem goela abaixo.

E vivemos dentro desse eterno conflito sem perceber, tanta a correria à qual nos impomos com a justificativa inconsciente de que precisamos sobreviver e prover. Mais tarde, mais vividos e com a idade mais avançada, começa a cair a ficha e descobrimos que, embora o esforço e o aprendizado façam parte da vida, tudo aquilo que nos falaram sobre paz, humildade, pouco dinheiro, perdão etc, na verdade não podem ser alcançados apenas por meio do controle do nosso comportamento. Devem ser considerados como objetivos a serem conquistados e intimamente sentidos.

Me comporto com humildade, portanto sou humilde?
Me comporto com aparência de Paz, portanto estou na Paz?
Me comporto com suavidade, portanto sou suave?
Desfiz-me de muitas coisas materiais, portanto sou desapegado?
Contenho a minha mágoa, o meu ódio, portanto sou fraterno?

Embora domínio que tentamos exercer sobre nosso comportamento represente o “tranco no volante” que nos ajuda a desviar do precipício, se não pararmos o carro, refletirmos, tirarmos um cochilo e lavarmos o rosto, as chances de acordarmos na hora certa outra vez e termos o mesmo reflexo serão muito pequenas.

Fazer atuar o nosso instinto de sobrevivência ou exercer controle sobre nós mesmos, embora nos ajudem a conviver no meio social, não têm força suficiente para agregar o sentimento sincero à nossa essência e acabam se transformando em máscaras do ego. Reduzir a influência dos instintos e eliminar a diferença entre o comportamento vigiado e o sentimento agregado é um dos maiores desafios do ser humano. E isto só se consegue com a prática sentida, trabalhando os níveis mais sutis da nossa consciência. Meditação, oração, yoga, isolamento ou relaxamento? Não importa... desde que a prática escolhida nos conduza ao nosso próprio interior onde encontraremos, face-a-face, o nosso verdadeiro EU.

Com esses poucos momentos por dia dedicados a nós mesmos, com o tempo seremos bons, não por conveniência, mas por não sabermos ser maus; humildes por não sabermos ostentar; suaves por não sabermos ser ásperos; desapegados por não precisarmos ter muito; e fraternos por não aceitarmos as desigualdades.

A PAZ será uma consequência natural desses encontros com nós mesmos.



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