quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O medo também pode nos privar do bem


É certo que vivemos hoje num mundo de "espertos". O que existia na vida real, hoje se multiplica na internet com a possibilidade de se esconder as reações físicas diante de mentiras e más intenções. Sorrisos sarcásticos e faces coradas não podem ser percebidas. Essas características somadas à habilidade na escrita e ao raciocínio rápido potencializam a capacidade de persuasão do mal intencionado. Mesmo excluindo esse malfeitor lúcido, existem os casos patológicos, como o esquizofrênico, o maníaco depressivo, o psicótico e por aí vai. Como não sou do "ramo", esses exemplos servem apenas para facilitar o entendimento de quem lê e carece de definições científicas mais precisas. Embora esses dois grupos de pessoas muitas vezes se confundam ao tentarmos distingui-los e a patologia (doença), de certa forma, explique a maldade desejada ou praticada, o mal em si e o risco continuam existindo.

Diante dessa realidade, criamos então os nossos mecanismos de defesa contra esse tipo de ataque, mas como achar o equilíbrio entre o medo, a desconfiança, a oportunidade de fazer novos amigos ou algo mais envolvente? Confesso não ser uma tarefa muito fácil e a dificuldade de se defender é proporcional à inteligência e astúcia desse "indivíduo do mal". No entanto existem algumas regras básicas que reduzem a possibilidade de surpresas desagradáveis e essas regras estão diretamente relacionadas ao envolvimento pretendido com a outra parte: passatempo ou diversão para relaxar; busca de amizade; um relacionamento mais próximo e um compromisso mais sério. E é extremamente importante tentar perceber quando estamos passando de uma dessas fases para outra de forma inconsciente, mas crescente, ou seja, podemos começar como passatempo e não perceber que já atingimos um estágio de envolvimento emocional, seja num grau de simples dependência ou de desmedida paixão. Essa percepção não pode ser negligenciada, ao contrário, "não querer nem pensar" já é um sinal de que a razão deve entrar imediatamente em ação para evitar complicações futuras. E aí vai a principal pergunta que devemos fazer para nós mesmos: "Estou mudando meus hábitos e deixando de fazer o que é necessário para a minha vida?" As demais ações que vêm depois dessa primeira pergunta não são difíceis de imaginar:


  • Essa pessoa é real ou apenas um personagem?
  • Sei onde ela mora, o que faz e com quem vive?
  • Tem e-mail e telefone?
  • Tem foto e perfil em site público?
  • Esse site é confiável? Já verifiquei nesse site o diálogo entre essa pessoa e seus "amigos"?
  • ... e poderia citar outras inúmeras, mas creio que essas sejam as mais importantes

E da mesma forma como devemos ser cuidadosos antes de nos envolvermos com pessoas, vale o mesmo para as informações veiculadas na internet em relação às constantes em sites, blogs e mídias sociais. É recomendável verificar o responsável e se há uma forma de comunicação, como e-mail, formulário de contato ou espaço para comentários. No caso de assuntos técnicos é importante saber a qualificação do profissional responsável.

Na verdade não estou aqui para criar nenhum tipo de alarme ou clima de desconfiança desmedida. Ao contrário, essas preocupações não podem criar um muro entre pessoas do bem, pois o tema principal do texto nos remete exatamente ao inverso, que é o de não transformar esses cuidados práticos e conscientes em mecanismos automáticos de isolamento. Afinal, a internet é um meio fantástico para o crescimento da sociabilidade e do desenvolvimento interior, no entanto, só a SELETIVIDADE pode transformar essa possibilidade em realidade.

É fundamental tentarmos sempre encontrar o equilíbrio entre os cuidados e a confiança para não perdermos as oportunidades de crescimento e, para isso, a seletividade pode evitar tanto as frustrações quanto as perdas. O controle adequado das expectativas também é parte importante nesse processo de perda ou de ganho, pois, só se desilude quem um dia se iludiu.



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domingo, 26 de setembro de 2010

Você é direita ou esquerda?


Aposto que você é esquerda... acertei? Lógico, direita é conservador e ser conservador é coisa fora de moda. É embarcar numa grande furada porque todos os conservadores são retrógrados, ditadores e militaristas convictos. É ser hoje o comedor de criancinhas que no passado a ditadura militar dizia que o comunista era.

Conclusões como essas fazem parte das tristes heranças deixadas pela ditadura militar, acentuadas pela falta de conhecimento da história política, não só do Brasil, mas também da humanidade. Não entendem que ser conservador não é ser a favor da ditadura e do militarismo. Vamos recapitular (ou aprender)?

História: O termo surgiu durante a Revolução Francesa (Monarquia Constitucional), em referência à disposição dos assentos no parlamento; o grupo que ocupava os assentos da esquerda apoiavam as mudanças radicais da Revolução, incluindo a criação de uma república ou o parlamentarismo da Inglaterra e a secularização do Estado.
Esquerda: O termo esquerdista passou a definir vários movimentos revolucionários na Europa, especialmente socialistas, anarquistas e comunistas. O termo também é utilizado para descrever a social democracia e o liberalismo social (diferente do liberalismo econômico, considerado atualmente de direita).

Direita: O termo refere-se geralmente ao conservadorismo e ao liberalismo econômico de livre mercado. Muitos libertários e liberais, porém, recusam esse tipo de enquadramento. A partir do século XX, o termo extrema-direita passou também a ser utilizado para o fascismo, bem como para grupos ultranacionalistas.
A situação no Brasil chegou a este ponto justamente porque todos hoje são esquerda, ou pensam que são. A maioria se diz esquerda e nem sabe o que significa, mas precisa ser porque é moderno e seria terrível não ser esquerda numa roda de amigos. Ninguém entende que não há democracia e justiça sem equilíbrio de forças. Conservador não é bicho-papão. Desperta e promove discussões mais profundas antes que se efetuem mudanças. Serve de freio para evitar injustiças sociais. E todo governo - seja de direita ou de esquerda - para ser justo, necessita de uma oposição forte e atuante para evitar os vícios inerentes à falta de alternância do poder.

O conservadorismo não retorna a 1964 (aliás, pode até pular esse infeliz período), mas passa por Juscelino e vai até o iluminismo de Voltaire. Isto para não retroagir mais. Temos algumas boas coisas no conservadorismo, por exemplo, na figura de D. Pedro II que, com todo ranço imperial, tinha mais senso de igualdade republicana do que muitos socialistas de carteirinha deste século.

TODA ditadura é prejudicial e tende a ser criminosa, seja direita ou esquerda. Todos os governos que tendem a perpetuarem-se no poder, infalivelmente tenderão à ditadura. O poder envenena a mente dos poderosos e os faz cometer injustiças, chegando ao cúmulo de não notar que as estão cometendo. É a cegueira da vaidade movida por interesses partidários e pessoais, disfarçados de boas intenções. Benjamim Franklin dizia "Não existe nenhuma guerra boa e nenhuma paz ruim" e eu digo "Não existe nenhuma ditadura boa e nenhuma democracia ruim". Albert Einstein também resumiu esse pensamento numa frase: "O meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado"

Na política partidária, todos os partidos hoje no Brasil também são de esquerda. É esquerda radical, esquerda, mais-ou-menos esquerda e levemente da esquerda. Direita não dá IBOPE, ou seja, não dá votos. TODAS as ideologias morreram.


Com todas essas cenas tristes que estamos presenciando e que deveriam provocar sentimento de revolta em TODOS os brasileiros, ainda vemos fanáticos de TODOS os partidos brigando como torcidas de futebol, mais preocupados com seus domínios do que com os fatos lamentáveis em si. Que ideologias partidárias são essas?

Resta o humanismo, não como ideologia ou partido, mas como filosofia de vida, seja para governantes, legisladores ou eleitores. Todos têm direito à dignidade de seres-humanos, dignidade esta que vai além do pão, da caridade e do assistencialismo. Merecem ser considerados cidadãos integrais. Eleger representantes é apenas uma pequena parte de seus direitos. É só dar uma lida na Constituição.

Leia também: Entre direita e esquerda, siga reto.

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Entre risos e migalhas

Perguntado ontem sobre o julgamento (indireto) da Ficha Limpa, o candidato Plínio Arruda Sampaio disse que em seus sessenta anos de vida pública sempre presenciou leis eleitorais casuísticas e elaboradas às pressas no período eleitoral. Ele se declarou a favor da lei, mas a observação sobre o casuísmo foi pertinente. Plínio tem razão, mas eu procuro sempre refletir e ir um pouco mais além da opinião lógica.
 

Não sei se Plínio também reparou que as atitudes políticas e leis mais justas aparecem justamente nesse período eleitoral, pois, é nessa época que bate o "remorso" interesseiro e eleitoreiro. É prova inequívoca de que os políticos sabem o que o povo quer e do que precisa, mas durante 3 anos só cuidam de seus próprios interesses e de seus partidos. Enquanto não houver consciência na hora do voto, nós, os miseráveis, continuaremos sobrevivendo dessas esmolas e migalhas bienais. Mesmo assim, pode ser que essas migalhas políticas dependam ainda da decisão de nossa Corte Suprema, que é o caso da Lei Ficha Limpa.

Mesmo vendo, presenciando e sentindo tudo isto, alguns eleitores fanáticos, manipulados ou vendidos, ainda continuam com seus gritos frenéticos de apoio ao seu "time" partidário predileto, sem notar que estão "defendendo" sua própria destruição. Um pouco mais de senso humanístico e de cidadania os colocaria acima de tudo isto. Se o casco do navio furou na proa ou na popa, tanto faz. Salve-se quem puder!

Enquanto isso, eles, os politicos mau-caráter, deitam, rolam e riem de todos nós...


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domingo, 19 de setembro de 2010

Não é, com certeza, o meu país



Ser apartidário é como um espírito o qual apenas alguns que têm sensibilidade podem enxergar. Procuro, ler e ver e escutar todos os lados de um fato. Tento escolher o veículo de comunicação para me informar com critérios, avaliando inclusive o seu passado, seus proprietários, editores e repórteres. Procuro até me lembrar de situações duvidosas que envolveram outros partidos e a posição do veículo diante do episódio. O interessante é que tudo isto é automático e não sigo nenhum roteiro. A sensibilidade comanda o meu julgamento, mas a minha sentença é interna, pois, novas situações podem aparecer. 

No entanto, as notícias em relação às últimas trambicagens nas babas do Planalto saíram em TODAS as mídias, com os mesmos fatos, as mesmas primeiras negações, as mesmas posteriores confirmações e as mesmas desculpas esfarrapadas. Sou apartidário, mas não sou idiota e nenhuma criancinha para acreditar nessa história de "Unânime Revolta da Imprensa" ou nessa besteira alegada de perseguição com cara de "Teoria da Conspiração". Nem coisa de psicótico é. É um total menosprezo à média inteligência do povo.

Há um misto de indignação e revolta. Minha vontade é de voltar aos tempos de estudante. Na minha época os estudantes eram despojados e idealistas. Não trocavam suas convicções por nada deste mundo e não tinham medo. A adrenalina era droga permitida, sua produção era interna e não precisava de receita. Estudantes não se vendiam e se indignavam com roubos e com a desigualdade social. Sabiam se organizar e tinham sensibilidade para distinguir uma voz sincera de comando em meio à multidão. E quando o coração batia alto, era como se as palavras de Mahatma Gandhi ecoassem em seus ouvidos: "Quando a verdade fala em mim, sou invencível". Cassetetes e bombas de gás pareciam não fazer efeito.  Eles não queriam doações, propinas, empregos ou quaisquer tipos de vantagens para suas entidades representativas. Queriam justiça social, seus direitos de cidadania e poder falar... apenas e tão somente isto. Não consideravam ter algo a perder porque a época era de SER e não de TER. Um ideal valia mais que computadores, carros e roupa de grife. A amizade entre eles era sincera e trair a confiança era pior que a morte. Eram seres mirrados e sem corpos "malhados". Não treinavam jiu-jitsu, caratê e nem frequentavam academias. Eram aquilo ali que todos viam, seja por dentro ou por fora, sem embrulho pra presente. Cabeludos, calças justas e camisetas pra fora. Era pegar ou largar, mas quem pegava sabia o que estava levando.

Ta certo! Vocês, estudantes de hoje, podem me chamar de velho nostálgico e até aceito o rótulo. Mas vocês não fazem a mínima idéia de como é bom recordar a alegria de ter feito a diferença com uma causa nobre na cabeça. Espero, sinceramente, que ainda experimentem esse gostinho de participar das mudanças de uma nova geração. Que um dia possam sentir o doce sabor e o orgulho de fazer história no lugar desse gosto amargo da indiferença.

Os artistas daquela época? Sei lá...devem estar por aí, curtindo suas bonanças de idealistas broxados. Alguns mamando nas tetas e outros escondidos como avestruzes. Os que gritam são poucos. Nos tempos que lhes impunham mordaças os gritos eram bem mais altos. É assim mesmo... bolsos mais fortes, pulmões mais fracos. Na verdade, hoje eles nos forçam a entender que não gritavam por todos, mas por eles mesmos. Músicas bonitas e letras com forte conteúdo ideológico. Salvaram a sua parte desse triste latifúndio, mas como já foi dada, não se abre mais a boca.
 
Aos governantes e políticos, meus desejos sinceros e apartidários de que se contentem com o que já conquistaram ou roubaram. Que não se escondam atrás de suas causas nobres e mintam menos, pois, deixar de mentir sei que é pedir demais. Que ao chegarem em suas casas CONSIGAM olhar SINCERAMENTE de frente e com dignidade para seus cônjuges e filhos, sem precisar imaginar que o dinheiro foi ROUBADO em nome do bem deles mesmos. Que desejem o poder, mas que de vez em quando não cedam à tentação de se eternizarem nele, aceitando perdê-lo em troca de ser povo, de novo, ao menos por algum tempo.

Não se esqueçam de que a maioria escolhe, mas são as minorias conscientes que destronam e ajudam a renascer a esperança de uma nação já habituada à liberdade. A fase é crítica e os acontecimentos já ultrapassaram o nível do suportável há muito tempo. E o pior... vocês fazem isso em nome da igualdade. Da igualdade de vocês mesmos.

Frase tirada da própria bíblia dos políticos: "Nas repúblicas há mais vitalidade, o que não permitirá que os seus cidadãos apaguem a liberdade da memória."  - Niccolo Maquiavel


E não existe liberdade sem um mínimo de dignidade. Nós somos tudo e gente assim, não é nada. Gente? Que gente?

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sábado, 18 de setembro de 2010

Se cair a ficha, que seja a do Supremo

O homem é um ser pretensioso e que ama o poder. Essa pretensão não é de sua natureza como dizem, mas originada de sua vontade própria concedida pelo livre-arbítrio, este sim, parte da natureza humana. O significado da palavra natureza não permite que seja usada para definir essa estúpida característica de querer brincar de Deus. A palavra natureza perde o seu significado com a intervenção antrópica (do homem sobre ela), nesse desejo incontido do homem pelo poder.

Esse poder a qualquer custo, é uma invenção do ego humano para satisfazer suas vaidades, pois, tudo o que envolve a natureza visa o equilíbrio e o bem comum. O poder desmedido, egocêntrico e elitista desestabiliza e desequilibra a balança da justiça.  

Estão dizendo que o Supremo Tribunal rejeitará a lei do Ficha Limpa. O Ministro Eros Grau já sinalizou. É o império da interpretação constitucional; é o tecnicismo incentivando a corrupção e justificando a insensibilidade da decisão - na melhor das hipóteses - respaldado pela leiguice popular. Não poder escolher para Ministro do Supremo alguém que responda processos na justiça não ofende o constitucional "princípio da inocência"? Ou nesse caso, só para o Supremo, vale o "princípio da possibilidade de culpa"? Reputação ilibada é necessária para quem julga, mas não para quem faz e fiscaliza as mesmas leis que são julgadas?

Quando um leigo em termos jurídicos como eu, analisa um fato jurídico, baseia-se na lógica dos juristas. Ora, se foram 5 votos a 5, no mínimo, significa que a (in)constitucionalidade não é flagrante. Logo, a decisão pode levar em consideração alguns argumentos que envolvem a essência de toda Constituição que é a de proteger e promover justiça à maioria dos cidadãos. O que não pode haver é omissão por uma questão de vaidade daqueles que julgam.

Em determinados momentos da vida, o ser humano deveria ter alguns flashes de sua velhice, interrompendo a inércia de seu atavismo animal que, como o instinto de um bode montanhês, o impulsiona para o topo do morro buscando pastagens mais verdes para o seu ego. Nesses flashes, esse pretenso "todo poderoso" teria uma pequena noção do que lhe restará para o fim da vida além de um emaranhado de recordações e remorsos. Verá que o livro de sua vida é edição única, pois, como bem define Millôr Fernandes, "viver é desenhar sem borracha". E esse "deus de mentirinha" fará algumas perguntas para si mesmo: onde foi parar aquele poder que eu achava que tinha? O que estou deixando para os meus descendentes e para a humanidade? O que dirão os livros que serão escritos sobre mim, sem a minha intervenção?

Einstein, com toda a sua genialidade, escreveu antes de morrer: "... agora que envelheci, passei a olhar a morte como uma dívida antiga que é preciso, afinal, saldar. Contudo, instintivamente, faz-se quanto é possível para delongar esse acontecimento. Tal é o jogo que a natureza joga conosco. Podemos achar graça por assim ser, mas não conseguimos libertar-nos do instinto de sobrevivência a que todos estamos presos."

E será esse instinto de sobrevivência que fará, o antes "todo poderoso", rever os seus conceitos baseado naquilo que só a sua própria vida pode lhe ensinar. E nesse momento que virá, não existirão poderes terrenos, interpretações constitucionais ou quaisquer riquezas materiais no mundo suficientes para mudar ou "delongar esse acontecimento", como bem disse Einstein. Será a vez da verdade togada, da balança de aferição inquestionável e do "supremo" martelo da consciência.

Restarão apenas a realidade do passado e a dignidade do presente em sua ficha - limpa ou não - reivindicando o seu direito eterno de "habeas spiritus".

E quando chegar essa hora, que a sua consciência o tenha!

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Das convicções ao fanatismo das convicções


Não mudar nunca! Esta é a maior prova da minha coerência. "Penso e logo desisto". Sou um cara de opinião! Além do mais, não vou contrariar os meus "amigos", pois, afinal, lutamos juntos pela liberdade e os que lutaram com a gente estão agora no poder. Na política é assim mesmo; os meios justificam os fins. Pra mim, o importante é que eu e minha família estejamos bem. O resto? Que resto?


"Idéias Políticas" - Fernando Pessoa

(...) "Se há fato estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentado sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo próprio. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando não só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural."


"A coerência, a convicção, a certeza são além disso, demonstrações evidentes — quantas vezes escusadas — de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade. Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões políticas, predileções literárias, mas sensações religiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária."

"Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm, sobretudo quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variarão, como é de entender, consoante esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é republicano de manhã, e monárquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, é católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos do anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo uma invenção de louco quando, ante uma solidão de mar, ele não souber de mais do que da "Odisseia"."


"Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam d'essa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.""

"Quando é que despertaremos para a justa noção de que política, religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética — a estética dos que ainda a não podem ter? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumado as suas sensações a viverem independentemente, se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida."

Fernando Pessoa - "Idéias Políticas"
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sábado, 11 de setembro de 2010

Amor e afetividade, religião interior - Carl Jung

Atitudes que muitas vezes tomamos para compensar a falta de amor por nós mesmos. O desejo de perdão que nos impomos em relação ao próximo, nada mais é do que um mecanismo racional que visa resgatar a nossa paz interior. O mal que eu interpreto como injustiça é, realmente, injustiça ou incompreensão da realidade em relação aos meus conceitos e aos meus sentimentos?

O dominiio racional sobre os nossos instintos (natureza - erotismo), a massificação do comportamento social/político/religioso e a percepção do que parece para nós em relação ao que é para os outros, são algumas das abordagens de Carl Jung que selecionei para postar aqui.

Boa reflexão!


"Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar - inclusive o meu inimigo - em nome de Cristo, tudo isto, naturalmente, não deixa de ser uma grande virtude. O que faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço. Mas, o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar?"

"A base essencial de nossa personalidade é a afetividade. Pensar e agir são, por assim dizer, meros sintomas da afetividade. Os elementos da vida psíquica, sentimentos, idéias e sensações apresentam-se à consciência sob a forma de certas unidades que, numa analogia à química, poderiam ser comparadas às moléculas."

"As pessoas, quando educadas para enxergarem claramente o lado sombrio de sua própria natureza, aprendem ao mesmo tempo a compreender e amar seus semelhantes."

"Onde impera o amor, não existe vontade de poder; e onde o poder tem precedência, aí falta o amor. Um é a sombra do outro."

"Ninguém que haja passado pelo processo de assimilação do inconsciente poderá negar o fato de ter-se emocionado profundamente e de ter-se transformado."

"Não há transformação de escuridão em luz, nem de inércia em movimento, sem emoção."

"O erotismo constitui um problema controvertido e sempre o será, independentemente de qualquer legislação futura a respeito. Por um lado, pertence à natureza primitiva e animal do homem e existirá enquanto o homem tiver um corpo animal. Por outro lado, está ligado às mais altas formas do espírito. Só floresce quando espírito e instinto estão em perfeita harmonia. Faltando-lhe um dos dois aspectos, já se produz um dano ou, pelo menos, um desequilíbrio, devido à unilateralidade, podendo resvalar facilmente para o doentio. O excesso de animalidade deforma o homem cultural; o excesso de cultura cria animais doentes. Este dilema mostra toda a insegurança que o erotismo traz ao homem. No fundo, é algo muito poderoso que, como a natureza, pode ser dominado e usado como se fosse impotente. Mas o triunfo sobre a natureza se paga muito caro. A natureza dispensa quaisquer declarações de princípios, contenta-se com tolerância e sábias medidas."

"A partir do momento em que, no processo de massificação, o indivíduo se transforma em unidade social, em um x ou y, e o Estado em princípio superior, a função religiosa do homem, conseqüentemente, é arrastada por esse mesmo turbilhão. A religião, no sentido da observação cuidadosa e consideração de certos fatores invisíveis e incontroláveis, constitui um comportamento instintivo característico do homem, cujas manifestações podem ser observadas ao longo de toda a história da cultura. Sua finalidade explícita é preservar o equilíbrio psíquico do homem, pois ele sabe de maneira espontânea que sua função consciente pode ser perturbada, de uma hora para outra, por fatores incontroláveis, tanto de natureza exterior como interior. Dessa maneira, o homem sempre cuidou para que toda decisão grave fosse, de certo modo, sustentada por medidas religiosas. Nascem, assim, os sacrifícios para honrar as forças invisíveis, as bênçãos e demais gestos rituais. Sempre, e em toda parte, existiram "rites d’entrée et de sortie" (ritos de entrada e de saída) que, para os racionalistas distantes da psicologia, não passam de superstição e magia. No entanto, a magia é, em seu fundamento, um efeito psicológico que não deve ser subestimado. A realização de um ato "mágico" proporciona ao homem uma sensação de segurança, e decisões e resoluções necessitam dessa segurança, pois elas sempre pressupõem uma certa exposição unilateral. O próprio ditador, para executar seus atos, não pode se valer apenas das ameaças, precisando encenar o poder com grande pompa. Nesse sentido, as marchas militares, as bandeiras, faixas, paradas e comícios não diferem muito das procissões, tiros e fogos de artifício usados para expulsar demônios. A diferença entre essas representações religiosas e os aparatos do Estado reside no fato de que a sugestiva encenação do poder estatal cria uma sensação de segurança coletiva que, no entanto, não oferece ao indivíduo nenhum tipo de proteção contra os demônios internos. Quanto mais o indivíduo se enfraquece, mais se agarra ao poder estatal, isto é, mais se entrega espiritualmente à massa. E, do mesmo modo que a Igreja, o Estado ditatorial exige entusiasmo, abnegação e amor, cultivando o necessário terror à semelhança do temor de Deus que as religiões exigem ou pressupõem."

"Dei a este ponto central o nome de si-mesmo (Selbst, no original alemão, ou Self, do inglês). Intelectualmente, ele não passa de um conceito psicológico, de uma construção que serve para exprimir o incognoscível que, obviamente, ultrapassa os limites da nossa capacidade de compreender. O Self também pode ser chamado "o Deus em nós". Os primórdios de toda nossa vida psíquica parecem surgir inextricavelmente deste ponto e as metas mais altas e derradeiras parecem dirigir-se para ele. Tal paradoxo é inevitável como sempre que tentamos definir o que ultrapassa os limites de nossa compreensão."

"O processo de individuação tem dois aspectos fundamentais: por um lado, é um processo interior e subjetivo de integração, por outro, é um processo objetivo de relação com o outro, tão indispensável quanto o primeiro. Um não pode existir sem o outro, muito embora seja ora um, ora o outro desses aspectos que prevaleça. Há dois perigos típicos inerentes a esse duplo aspecto: um, é que o sujeito se sirva das possibilidades de desenvolvimento espiritual oferecidas pelo confronto com o inconsciente, para esquivar-se de certos compromissos humanos mais profundos e afetar uma "espiritualidade" que não resiste à crítica moral; o outro, consiste na preponderância excessiva das tendências atávicas, rebaixando a relação a um nível primitivo. O caminho estreito entre "Scila e Caribdis", para cujo conhecimento a mística cristã medieval e a alquimia tanto contribuíram, passa por aí."

"Eu gostaria de deixar bem claro que, como o termo "religião", não me refiro a uma determinada profissão de fé religiosa. A verdade, porém, é que toda confissão religiosa, por um lado, se funda originalmente na experiência do numinoso, e, por outro, na pistis (fé), na fidelidade (lealdade), na confiança em relação a uma determinada experiência de caráter numinoso e na mudança de consciência que daí resulta. Um dos exemplos mais frisantes, neste sentido, é a conversão de Paulo. Poderíamos, portanto, dizer que o termo "religião" designa a atitude particular de uma consciência transformada pela experiência do numinoso."

"As religiões, porém, ensinam uma outra autoridade oposta à do "mundo". A doutrina que ensina que o indivíduo depende de Deus representa uma exigência tão grande sobre ele quanto a do mundo. Pode até acontecer que o homem acate essa exigência de maneira tão absoluta a ponto de se alienar do mundo da mesma forma que o indivíduo se aliena de si mesmo quanto sucumbe à mentalidade coletiva. Tanto num caso quanto no outro, o indivíduo pode perder sua capacidade de julgar e decidir-se livremente. A isto tendem as religiões, quando não se comprometem com o Estado. Neste caso, prefiro falar, de acordo com o uso corrente, de "confissão" e não de "religião". A confissão admite uma certa convicção coletiva, ao passo que religião exprime uma relação subjetiva com fatores metafísicos, ou seja, extramundanos. A confissão compreende, sobretudo, um credo voltado para o mundo em geral, constituindo, assim, uma questão intramundana. Já o sentido e a finalidade da religião consistem na relação do indivíduo com Deus (cristianismo, judaísmo, islamismo) ou no caminho da redenção (budismo). Esta é a base fundamental de suas respectivas éticas que, sem a responsabilidade individual perante Deus, não passariam de moral e convenção."

"É importante para a meta da Individuação, isto é, da realização do Self, que o indivíduo aprenda a distinguir entre o que parece ser para si mesmo e o que é para os outros. É igualmente necessário que conscientize seu invisível sistema de relações com o inconsciente, ou seja, com a Anima, a fim de poder diferenciar-se dela. No entanto, é impossível que alguém se diferencie de algo que não conheça. No que concerne à questão da persona, é fácil explicar ao indivíduo que ele e seu cargo são duas coisas diferentes. Mas, no que se refere à Anima, a diferenciação é mais difícil pelo fato desta ser invisível. Em primeiro lugar devemos lembrar-nos do preconceito de que tudo o que vem de dentro brota do fundamento essencial da pessoa. O "homem forte" concordará talvez com a acusação de que é indisciplinado na "vida particular", alegando ser esse o seu fraco, e com o qual, de certa forma, se faz solidário. Tal tendência revela um legado cultural, que não deve ser negligenciado. Como ele mesmo reconhece, sua Persona ideal é responsável por sua Anima não menos ideal; desse modo, seus ideais são abalados: o mundo torna-se ambíguo e ele mesmo torna-se ambíguo. Começa a duvidar do bem e, o que é pior, começa a duvidar de sua própria boa intenção. Se pensarmos como são poderosos os pressupostos históricos a que se prende nossa idéia particular do que vem a ser uma boa intenção, compreenderemos que, em beneficio de nossa concepção atual do mundo, é mais agradável acusarmo-nos de fraqueza pessoal do que duvidar da força dos ideais."

Carl Gustav Jung


Obrigado, minha espanholita, Marcia Avila, pela inspiração. :o)
 


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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Maquiavel seria humanista no século XXI


Muitos falam de Maquiavel (Niccolò Machiavelli) com o pé atrás. Fez-se uma imagem exageradamente negativa desse filósofo, historiador, músico, diplomata e poeta brilhante. Esse conhecimento e brilhantismo intelectual/filosófico aliado ao envolvimento na política desde os seus 29 anos, acabou desenvolvendo a sua capacidade de estratégias lógicas de comportamentos (previstos, reais e desejáveis) com o objetivo de conquistar e manter o poder. Esta é penas uma "pincelada" para os que não conhecem ou só ouviram falar de Maquiavel, mas os que desejarem saber mais sobre ele, a Wikipédia é uma fonte confiável. Sua principal obra, denominada "O Príncipe" econtra-se disponível para download gratuito em vários sites, inclusive em audiobook.

Numa época em que o acesso às leituras era bastante limitado (1510) e acessíveis apenas para algumas classes mais privilegiadas, as obras de Maquiavel com orientações para o domínio e manutenção do poder não estavam disponíveis aos maiores interessados pela liberdade que eram servos ou camponeses (ploretariado nascente e massas rurais), além do que, pouquíssimos eram alfabetizados. Somente por volta do século XVIII que não só o interesse como a disponibilidade de livros para esse público aumentou. Este é um dado muito importante para entender, pois, um conjunto de estratégias DOMINADORAS tem seu sucesso determinado pela proporção de DOMINADOS desinformados (efeito surpresa sobre a sociedade não-articulada).

É este exatamente o ponto que desestrutura completamente determinadas estratégias de Maquiavel se forem utilizadas neste século sem a devida atualização, transformando-as apenas num conjunto de maldades de breve tortura política e social, correndo o risco de se tornarem tiros que sairão pela culatra. Os principais pilares desta força contrária são a liberdade e a democratização da informação. Para os países das Américas Central e do Sul, a desigualdade social e o analfabetismo são os pontos favoráveis para o relativo sucesso das estratégias de Maquiavel (dependência do poder central).

É só dar uma lida nas principais bases do maquiavelismo que notaremos a ineficácia de tentar se sustentar no poder diante de um povo que tem acesso à informação. Enfim, não se fecha gradativamente o registro da liberdade conquistada no século XXI. Só uma revolução poderia destruir essa liberdade, mesmo assim, não destruiria a lembrança de uma sensação já experimentada, tornando o produto da conquista, ingovernável. As bases da sociedade de hoje estão irreversivelmente estruturadas na liberdade.

Algumas técnicas de domínio e de governo, segundo Maquiavel:

GOVERNO E CONQUISTA: (...) Na verdade, o único modo seguro de conservar uma cidade conquistada é a sua destruição. Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre e a não desfaça, pode preparar-se para ser por ela desfeito, porque sempre encontrarão grande receptividade no seio da rebelião a recordação da liberdade e das antigas instituições, as quais nem pela acção do tempo nem pela concessão de benesses se apagarão da sua memória. O que quer que se faça ou se disponha, se não se dividirem e dispersarem os habitantes, fará reviver a ideia de liberdade e a antiga ordem, pois logo as evocam a cada incidente que ocorra. (...)

DE QUE MODO OS PRÍNCIPES DEVEM MANTER A FÉ DA PALAVRA DADA: (...) "É que os homens em geral julgam mais pelos olhos do que pelas mãos, porque a todos cabe ver mas poucos são capazes de sentir. Todos vêem o que tu aparentas, poucos sentem aquilo que tu és; e esses poucos não se atrevem a contrariar a opinião dos muitos que, aliás, estão protegidos pela majestade do Estado; e, nas ações de todos os homens, em especial dos príncipes, onde não existe tribunal a que recorrer, o que importa é o sucesso das mesmas..."

O QUE CONVÉM A UM PRÍNCIPE PARA SER ESTIMADO: (...) "Ademais, deve, nas épocas convenientes do ano, distrair o povo com festas e espetáculos. E, porque toda cidade está dividida em corporações de artes ou grupos sociais, deve cuidar dessas corporações e desses grupos, reunir-se com eles algumas vezes, dar de si prova de humanidade e munificência, mantendo sempre firme, não obstante, a majestade de sua dignidade, eis que esta não deve faltar em coisa alguma."

Por que não citar exemplos de outras obras de Maquiavel como "Histórias Florentinas"? Justamente porque embora esta última estivesse mais ligada ao sistema republicano, na verdade é constituída de fragmentos escritos a quatro mãos e com variáveis pontuais como guerras religiosas. Além disso, Maquiavel já havia caído no ostracismo, prova de que sua fase republicana não foi muito bem sucedida. Já a sua principal obra completa (O Príncipe) destoa de nossa época, limitando sua utilização em algumas maldades pontuais para serem utilizadas entre a própria classe política. Os que conseguem enxergar alguma outra estratégia aproveitável que lhes garantam a permanência no poder, certamente estão "forçando a barra" ou lendo as entrelinhas das obras, como se fossem uma espécie de I-Ching político. Algo assim, meio esotérico e sobrenatural.

Quando o título diz "Maquiavel, o humanista do século XXI" - se reencarnasse neste século - é porque sua genialidade visava resultados de conquista e manutenção do poder por meio de ações perfeitamente praticáveis numa época de príncipes inatingíveis (oligarquia) e seus súditos. Ser temido ou amado era uma escolha que dependia da gravidade ou da necessidade momentânea, mas até a forca era legalmente permitida. Isso deu a Maquiavel a fama de agente do mal, mas na verdade era um agente racional da realidade da época que utilizava todos os recursos permitidos para a conquista e manutenção do poder. Se as suas estratégias nos chocam, também devem nos chocar as realidades da época.

Sendo assim, Maquiavel hoje seria humanista, exatamente porque veria como a única forma de se manter um poder por mais tempo. Porque tinha uma inteligência acima do normal, coisa rara na política nos dias de hoje. Humanismo nada tem a ver com caridade ou assistencialismo, pois, toda ação que privilegia apenas uma parte da sociedade em detrimento da perda ou estagnação do todo, além de não ser humanista é temporária. Ainda mais se considerarmos que esse assistencialismo eleitoreiro é feito às custas de brechas constitucionais que permitem a manipulação de verbas orçadas inicialmente para outros segmentos importantes.

Ainda há tempo de se mudar essa estratégia maquiavélica desatualizada e pretensiosa que não enxerga a irreversível conscientização natural do eleitorado. Há tempo de se perceber que:

  • Quando se mata a fome (Fome Zero), automaticamente se oxigena o cérebro do indivíduo e melhora a sua capacidade de pensar;
  • Esse indivíduo saberá quando a escola for ruim e politicamente tendenciosa para seus filhos;
  • Não aceitará ficar chorando diante das enormes filas e esperas para marcar consultas médicas;
  • Verá que a corrupção tira dinheiro do seu bolso para sustentar vagabundos inescrupulosos;
  • Valorizará o imposto pago e os serviços do governo que deveriam retornar para melhorar sua vida, de sua família e de seu país;
  • Notará que de nada adianta estar bem se o vizinho do lado e o seu bairro não estiverem bem também;
  • Sentirá na pele o preço REAL de cada voto vendido ou dado sem consciência.

Enfim, como um ser que se tornou humanizado, só aceitará ser governado por um governo humanista, que contemple o TODO da sociedade em que vive.

Aos políticos que ainda desejam e pensam ter chances de serem eternos príncipes com suas imutáveis oligarquias, acho bom tirarem seus livros de Maquiavel de cima de seus criados mudos e reformarem suas bibliotecas com livros de Erasmo de Rotterdam, Gianozzo Manetti, Marsílio Ficino, François Rabelais, Thomas Morus, Andrea Alciati, Auguste Comte e outros como do brasileiro Huberto Rohden.

Dissipem o ódio que sentem neste momento em que constatam a necessidade de mudança de planos e sejam os primeiros Maquiavéis humanizados do século XXI. Mas se pensarem em Partido Humanista para viabilizar a mudança, recomecem e leiam de novo este texto. Humanismo não é ideologia partidária, mas sentimento sincero de igualdade.


-o-

domingo, 5 de setembro de 2010

O Milagre do Estar Atento - Osho

A pessoa precisa começar
observando o corpo...
Caminhando...
Sentando...
Indo para a cama...

A pessoa deveria começar pelo mais sólido, pois isso é mais fácil, e então deveria se mover para experiências mais sutis.

A pessoa deveria começar observando pensamentos, e quando ela ficar especialista em observar pensamentos, então deveria começar a observar sentimentos.

Depois que você sentir que pode observar seus sentimentos...
então deveria começar a observar seus estados de ânimo...
....ainda mais sutis e vagos do que seus sentimentos.

O milagre do observar é o de que enquanto você observa o corpo, seu observador se torna mais forte...
...enquanto você observa os pensamentos,
seu observador se torna mais forte ainda...
....enquanto você observa os sentimentos,
o observador se torna ainda mais forte...

...quando você observa seus estados de ânimo,
o observador é tão forte que pode permanecer ele mesmo...

...observar a si mesmo,
é como uma vela numa noite escura que ilumina
não apenas tudo à volta, mas também a si mesma.

Observar é um processo eterno...
você sempre vai se aprofundando, mas nunca chega ao fim,
quanto mais fundo você for, mais fica consciente de que
entrou num processo eterno, sem nenhum começo e nenhum fim...

Mas as pessoas estão observando somente os outros...
elas nunca se importam em observar a si mesmas.
Todo mundo está observando...
este é o observar mais superficial ...

o que o outro está fazendo,
o que o outro está vestindo,
como ele aparenta...

Todo mundo está observando;
o observar não é algo novo a ser
introduzido em sua vida...

Ele apenas precisa ser aprofundado,
tirar dos outros e direcionar a seus próprios
sentimentos interiores, pensamentos, estados de ânimo e,
finalmente, ao próprio observador...

"Dois polacos foram dar uma volta e de repente começou a chover...
-Rápido...disse um deles... abra o seu guarda-chuva.“

“Não vai ajudar em nada”, disse seu amigo,
"meu guarda-chuva está cheio de furos.”
"Então por que cargas d'água você o trouxe?"     
..."Porque não achei que ia chover”

Você pode rir muito facilmente dos atos ridículos
das outras pessoas, mas você já riu de você mesmo?

Você já se pegou fazendo algo ridículo?

Não, você se mantém completamente sem se observar...
toda a sua observação é a respeito dos outros....
...e isso não é de nenhuma ajuda

Use essa energia da observação para uma transformação de seu ser.
Isso pode trazer para você tanta bem-aventurança e tanta bênção
que você nem mesmo pode sonhar a respeito

Um processo simples, mas uma vez que você comece
a usá-lo em você mesmo, ele se torna uma meditação

Pode-se fazer meditações a partir de qualquer coisa.
Qualquer coisa que o leva a você mesmo é meditação

E é imensamente significativo encontrar sua própria meditação,
pois nesse próprio encontrar você encontrará imensa alegria.
E porque é o seu próprio encontrar, e não algum ritual imposto sobre você,
você adorará entrar fundo nela.

Quanto mais fundo você entrar nela, mais feliz você se sentirá – tranqüilo,
mais silencioso, mais integrado, mais majestoso, mais gracioso.

Observe o seu corpo e você ficará surpreso.
Posso mover minha mão sem consciência e posso movê-la com consciência.

Você não perceberá a diferença...

Mas eu posso sentir a diferença. Quando a movo com consciência,
há uma graça e uma beleza nela, uma serenidade e um silêncio.

Você pode caminhar estando atento a cada passo;
isso lhe dará todo o benefício que o caminhar pode lhe dar
como exercício, mais o benefício de uma meditação simples fantástica.

Você não deveria deixar passar inconscientemente nem mesmo um único momento...

A observação afiará a sua consciência.
Essa é a religião essencial, e tudo o mais
é apenas conversa.

Mas, você me pergunta:

"Existe algo mais?”

Não, se você puder fazer somente a observação, nada mais é necessário.
Meu esforço aqui é fazer a religião tão simples quanto possível...

Todas as religiões fizeram justamente o oposto:
elas fizeram as coisas muito complexas, tão complexas
que as pessoas nem ao menos as tentaram.

Eu lhe ensino...
"Simplesmente encontre um único princípio que se harmonize com você,que esteja em sintonia com você,  e isso é suficiente."

-o-