quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Pesquisas: a imprensa interpreta resultados como ela quer.

Há muito tempo venho falando sobre pesquisas de opinião e continuarei batendo na mesma tecla por muito tempo. Quando saem pesquisas do IBOPE ou de quaisquer outros institutos, assistimos a um festival de besteiras nas chamadas dos jornais. Em primeiro lugar eles "pinçam" resultados parciais, normalmente favoráveis ao governo que os sustenta e os estampam em suas manchetes. Praticam a desinformação tendenciosa.

Pesquisa é estatística e estatística é a ciência das probabilidades. Grandes empresas usam métodos de amostragem para aprovar seus produtos com 99% do que chamamos de certeza estatística. Nenhuma empresa arriscaria colocar seus produtos na praça por meio de testes estatísticos se eles não fossem confiáveis e representativos.

Cito dois bons exemplos recentes: a última pesquisa do IBOPE sobre o governo Dilma e a enquete da Rádio CBN feita em parceria com a CONECTA (IBOPE) e que eles chamam de pesquisa, mas na realidade não é.

PESQUISA IBOPE: Manchetes e Primeiras Linhas

O Globo / Jornal Nacional: "A avaliação positiva do governo da presidente Dilma Rousseff subiu quatro pontos percentuais desde o mês passado, segundo uma pesquisa do Ibope divulgada nesta sexta-feira (13)."

Folha: "Avaliação de Dilma continua em recuperação, aponta pesquisa"

Estadão: "CNI/Ibope: Avaliação positiva do governo Dilma aumenta para 43%"

Se formos a fundo nessa últma pesquisa, veremos que há inúmeros dados significativos de desaprovação do governo Dilma, principalmente nos segmentos educação (58%), saúde (72%) e segurança (70%). Esses ítens não são destacados pela imprensa e muito menos explorados em suas matérias complementares às manchetes. Pesquisa na íntegra: clique aqui

Mesmo os índices de aprovação, se traçarmos uma reta de tendência estatística, a queda de sua popularidade está longe de ser considerada como revertida, pois, ainda não há dados estatisticamente significativos que possam confirmar uma reversão. Considerando os valores apontados desde as pesquisas de março, veremos que as retas de tendência ainda apontam queda. O mesmo acontece com o que chamam de "Índice de Confiança na Presidente".

Já no caso da CBN/IBOPE/CONECTA a coisa é pior ainda. Os resultados da enquete de uma rádio não podem ser extrapolados para a população brasileira como eles estão fazendo. Não foram poucas as vezes que ouvi o âncora Milton Jung dizer tantos "% dos brasileiros" aprovam, desaprovam ou coisa que o valha. No máximo, essa enquete mostra o perfil do ouvinte da CBN. Enquetes não têm valor estatístico algum, mas apenas curiosidades pontuais. Não há amostragem, distribuição e nem significância estatística para conclusões em nível nacional.

A pergunta é: Por que os veículos de comunicação NUNCA entrevistam pessoas formadas em estatística para avaliar essas pesquisas?

O pior de tudo é que estamos entrando em ano eleitoral e os néscios e incautos se deixarão levar por essas manchetes incompletas e tendenciosas sobre os resultados das pesquisas de opinião.

A boa notícia que poderá mudar muita coisa daqui pra frente é a chegada no Brasil da GFK, empresa de pesquisa alemã: (Revista Veja) "A GfK, empresa alemã que fará frente ao Ibope na medição da audiência da TV brasileira, assinou contrato nesta segunda-feira com quatro emissoras abertas: SBT, Band, RedeTV! e Record. O contrato, rateado entre elas, é de mais de 100 milhões de reais e tem validade de cinco anos. A medição deve ter início em 2015. A GfK usará o ano de 2014 para organizar sua operação no país, com a contratação de cem funcionários. A empresa promete trabalhar com uma amostra de painéis eletrônicos instalados em 6.000 domicílios, espalhados por 15 cidades. São Paulo, a maior delas, concentrará também o maior número de residências com painéis, 1.600. Depois, vem o Rio com 920, Belo Horizonte com 390, Porto Alegre com 330, Curitiba e Distrito Federal com 300, Salvador e Recife com 290, Fortaleza e Florianópolis com 240, e Campinas, Goiânia, Vitória, Belém e Manaus, com 220. Como a medição só começa em 2015, ainda há tempo para a Globo aderir ao serviço. Se a emissora carioca não assinar com a GfK, no entanto, seus programas constarão dos relatórios do instituto, mas ela não terá acesso a eles."

Que Deus nos ajude, pois, a imprensa há muito tempo já decidiu quem ela vai ajudar.