terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Resposta a Ivan Lins e aos artistas quase brasileiros

Vi um post do cantor e compositor Ivan Lins com mais de 7 mil compartilhamentos no Facebook. Realmente é um artigo bem escrito por J.R.Guzzo da Revista Veja, comparando com outros países onde o policial é respeitado, revoltado com o fato do governador Alckmin não comparecer aos enterros dos policiais mortos, sobre a tragédia de Santa Maria e outros eventos tristes do nosso Brasil. Mas creio estar incompleta a observação do artista introduzindo o texto de  Guzzo. Como ele pede para que pensemos e reflitamos ao ler o artigo, faço isto após a reprodução de seu comentário:

"Não morro de amores pela revista Veja, mas este artigo do J.R.Guzzo é inquietante e vale a leitura, embora mostre os problemas sem indicar saídas. Mas já é alguma coisa! Se puder, se quiser leia... Sei que é assunto pesado, pois ainda estamos no clima de carnaval, oleoleoleolê! Mas se vc está a afim de pensar um pouco, de tomar alguma atitude depois da folia, leia sim. Afinal, meu Deus do céu, que país é esse afinal em que estamos vivendo... Se puder, leia. Vale a pena. E depois, respire fundo, faça meditação, ou vá correr na academia, ou procure alguém bacana e positivista para conversar... ou simplesmente chore até sair tudo. Ou então não leia. Mas entenda o porque da minha foto com a tarja de luto que também é pelas vitimas de Santa Maria, pela desfaçatez de certos políticos, certas roubalheiras, certas impunidades, mas, neste momento, por esta realidade longa e cruel exposta nesta matéria, infelizmente muito longe de ser inverídica.
Grande abraço
Ivan"

Sabe, Ivan, da mesma forma que concordo com o artigo da Veja e com você sobre essa onda de assassinatos de policiais, eu também me revolto com o SILÊNCIO SELETIVO dos artistas brasileiros. Artistas como Geraldo Vandré, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros tantos do teatro que nos anos de chumbo saíam às ruas pedindo o fim da mordaça e da ditadura e que compunham, mas que hoje estão calados. Artistas como você que, em plena época de absoluta liberdade de expressão não se manifestam de forma mais efetiva e não fazem uma só música contra a corrupção que hoje impera no país, a mais vergonhosa desde a proclamação da república. Não tecem comentários sobre medidas populistas, mensalões e contra os que foram julgados. Ao contrário, só vemos artistas participando em listas de apoio aos figurões condenados. E os que não os apoiam, silenciam-se. O que acontece?

Você está impressionado com as mortes dos policiais? Eu também estou, mas o buraco é mais embaixo, caro Ivan. No Brasil, perto de 288 pessoas morrem por dia por homicídios (uma a cada 12 minutos), além de 96 crianças de até um ano de idade (uma a cada 15 minutos), ou seja, uma tragédia e meia de Santa Maria por dia, sem contar as mortes nos corredores dos hospitais, das que perecem aguardando cirurgias e consultas médicas do sistema público de saúde... e por aí vai. Envolvem segurança, saúde e educação, três segmentos fortemente prejudicados por desvios e roubos do dinheiro público.

O ministro Dias Toffoli do Supremo disse que a corrupção não é crime de sangue e por isto achava que as penas dos envolvidos no caso do mensalão estavam sendo duras demais. Quando bilhões de reais são anualmente desviados pela corrupção no Brasil, os grandes prejudicados são a segurança, a saúde e a educação. Em função dessa falta, aumentam os índices de criminalidade, de crianças e jovens drogados e de óbitos nas diversas áreas da saúde. Corrupção é ou não crime de sangue? Ou crimes são apenas aqueles em que o sangue escorre pelo chão?

O problema é que vocês artistas, não se manifestam contra o Governo Federal e nem contra deputados e senadores. Sabe por que? Porque no fundo, mesmo alguns inconscientemente, fazem parte do mesmo esquema que está destruindo não só os policiais, mas uma nação inteira. Nação promissora com potenciais que muitos países do mundo gostariam de ter. Vocês precisam ficar bem na fita para receberem R$ 650 mil reais nas inaugurações festivas de hospitais que desabam como aconteceu recentemente com o Hospital Regional Norte de Sobral inaugurado com um show de Ivete Sangalo. Para terem blogs patrocinados por 1,8 milhão pelo Ministério da Cultura como o da cantora Maria Bethânia. Seguem o mesmo caminho da ex-valorosa União Nacional dos Estudantes que vendeu seu passado glorioso por uma sede de R$ 45 milhões e mais alguns trocados.

É, Ivan... o buraco é mais embaixo. A triste morte de policiais e a tragédia de Santa Maris são apenas a ponta desse iceberg da corrupção. Assim como você, eu também ponho uma faixa de luto no braço esquerdo, não só pelos policiais, mas também pelas 288 pessoas, 96 crianças de até um ano de idade que morrem por dia, pelos que morrem nos corredores dos hospitais e pelos perecem aguardando consultas médicas do sistema público de saúde. Ponho uma faixa preta no braço esquerdo por essa esquerda morta a qual um dia pertenci.

Esses mais de 7000 compartilhamentos mostram seu prestígio como artista e celebridade, mas mereceriam uma avaliação muito mais profunda e crítica... mais proveitosa.

Na verdade todos vocês estão vendidos, vendendo-se ou não! Vendidos ou comprados, sei lá, não importa. O que importa mesmo é esse SILÊNCIO SELETIVO de vocês.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Saudade que bate



Às vezes saudade bate,
mas como só bate o que não é suave,
deveria chegar de mansinho, sem avisar,
tocando os cinco sentidos, um a um.

Trazendo a lembrança do teu perfume,
da nossa música predileta,
do calor do teu corpo,
do gosto da tua boca,
das imagens dos bons momentos...

Pra que o sexto sentido
não se deixasse levar pela mágoa
e não intuísse sob a influência da dor.

Da próxima vez, que venha de mansinho
e entre devagarinho,
sem bater.