quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Triunfo

Escreveu o poeta indiano Rabindranath Tagore que "há triunfos que só se obtêm pelo preço da alma, mas a alma é mais preciosa que qualquer triunfo."

E o que é o triunfo ou vitória para você?

Não vou falar de políticos, mas sim de pessoas "normais" que NÃO visam esse tipo de conquista ligada ao poder, porém numa ordem de valores não muito diferente da dele. Buscam destaque na sociedade, acompanhado de dinheiro e um belo cônjuge, todos regados por alguns bons momentos de glória e prazer.

Distante do falso moralismo ou daquela religiosidade hipócrita que promete o reino dos céus para os humildes que se desfazem de bens para merecê-lo, ao falar de valores, refiro-me ao que há de verdadeiramente concreto na vida. Não aquele concreto do movimento concretista que privilegiava a racionalidade em detrimento do expressionismo, mas da verdade com pitadas de realidade objetiva sem sacrificar a essência subjetiva da arte de SER.

Quem disse que o consumismo se restringe apenas aos conceitos convencionais de bens de consumo e bens duráveis? Existe também consumismo dentro do mercado de estilo de vida, produto que não pode ser exposto em catálogos e nem pago de uma só vez com boleto ou cartão de crédito. Os grandes marketeiros NÃO são aqueles que despertam o desejo do consumidor por produtos específicos de seus clientes, mas aqueles que manipulam o desejo inconsciente presente na essência de todo ser humano desde que chega ao mundo: o de viver para ser uma pessoa melhor. Esses marketeiros que manipulam o sutil, diferentemente daqueles que despertam o desejo por bens de consumo e bens duráveis, têm a missão de inibir o impulso espiritual latente do ser humano, injetando em seu lugar um conceito totalmente oposto à sua verdadeira essência. Falam que não é pecado TER e eles têm razão, mesmo porque pecado não existe, mas se aproveitam dessa máxima para sufocar a sensibilidade das pessoas, transformando-as em seres egocêntricos e ambiciosos além dos limites.

Esses marketeiros de almas, normalmente fizeram estágios em religiões, doutrinas e filosofias e se desgarraram quando perceberam que poderiam ter mais, mas que esse "mais" os deixaria em conflito com a ordem de valores que aprenderam a ter. Mas como o TER é bem mais atrativo do que o SER, antes que o sentimento de culpa tome conta deles, iniciam um processo de autoconvencimento para provar a eles mesmos que não há nenhum conflito entre obedecer a sua essência e ceder aos seus desejos de consumo. E a batalha é tão grande que acabam se tornando experts em descobrir razões e justificativas, percebendo que podem unir o útil ao agradável e dar palestras com temas chamativos como: "Ganhar dinheiro não é pecado"; "A riqueza e a espiritualidade" e outras do gênero.

Realmente eu concordo que não só podemos como devemos ganhar dinheiro desde que seja lícito, mas não, tornar-se escravo dele. No entanto o que vemos são esses marketeiros de almas se multiplicando, uns inspirando-se nos outros, acumulando bens cada vez mais, circulando nas altas rodas da sociedade e ganhando seguidores como uma espécie de seita. No Brasil existem vários exemplos, mas vou omitir nomes. Eles têm programas de rádio e de televisão, fazem encontros e palestras para centenas e até milhares de pessoas a preços "módicos". Mas o que eles aprenderam sobre a vida espiritual, embora não pratiquem, não podem esquecer nunca, pois, afinal, trata-se da principal arma de convencimento e captação de "recursos" para uma vida cada vez melhor dentro das suas ordens de valores.

E cada vez mais, seres humanos vão esquecendo de suas missões interiores, incorporando valores que originalmente não são seus, mas os tomam como se fossem porque foram convencidos de que seria lícito almejar tê-los. Com isso, as pessoas se tornam cada vez mais individualistas e a humanidade passa a ser um aglomerado de gente preocupada apenas consigo mesma e com o seu entorno. Não se importam com as desigualdades sociais, optam pelas paixões e consequentemente pela constante troca de parceiros e amigos, chegando invariavelmente ao fim da vida sozinhas, mesmo acompanhadas.

E antes do último suspiro de vida perguntarão para si mesmas se valeu a pena. Jamais conheceremos as respostas, porém, as intuímos.

Enquanto essa pergunta não for feita, ainda haverá tempo para mudar.

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2 comentários:

  1. Nós brasileiros somos imbuídos desse espirito, de só se dar bem, os exemplos estão em todas as esquinas das cidades, o chamamento também, para onde olhamos vemos os gananciosos a espreita, temos que tomar muito cuidado senão!
    Texto muito contundente e com um ar reflexivo e verdadeiro.
    Abraço

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  2. Obrigado por seu gentil comentário, Lu. Cada dia que passa, mais pessoas se esquecem de sua verdadeira missão de evoluir. Falhamos, erramos e não somos perfeitos, mas temos a capacidade de reavaliar e, se preciso, voltar atrás. Nunca ouvi ninguém no leito de morte dizendo que se arrependeu de não ter conseguido ganhar mais do que ganhou. Mas alguns decidem pagar pra ver. Abraços!

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