domingo, 30 de dezembro de 2012

2013 - Feliz outra chance



2013

Contagem regressiva
Esquecer o amargo
Lembrar o mel
Deixar o ódio
Levar o amor

Voam segundos
Nas asas do tempo
Rumo ao futuro
Cheio de esperança
De um mundo melhor

Não é a festa
Não é o brinde
Não é o grito
É o abraço
É o beijo

O beijo sentido
O abraço sincero
De olhos fechados
Unindo desejos
Num laço de paz

Olhos no relógio
Olhos no céu
Pensando em você
A respiração pára
O coração bate

Explode o momento
Ouço gritos lá fora
Ouço choro de criança
É a esperança em meus braços
Outra chance em nossas mãos.

(Petrus Falcin / JCGM)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Do Homo neanderthalensis ao Homo condominius do século XXI

No início da vida inteligente, o ser humano preocupava-se com alimentação, abrigo e preservação da espécie. Dando prioridade aos seus instintos e sem calendário, seu grande desafio era sobreviver mais um período entre o nascer e o por-do-sol. A fome, a sede e o cansaço eram as frações do relógio biológico que o comandava. Tinha relações sexuais para preservar a espécie sem a necessidade de expressar amor em poesia; predominava o ato carnal e o instinto de posse do macho. O homem primitivo tirava conclusões baseadas nas experiências que vivenciava, criando fantasias boas e más, dentro dos limites dos seus olhos e da sua capacidade de pensar.

Avancemos o relógio da evolução para o século XV do Humanismo, passemos pelo XVI da poesia de Shakespeare, XVII da ciência de Isaac Newton, XIII da Era da Razão de Descartes e do Iluminismo, XIX da Espiritualidade Humanista de Comte e, finalmente, XX e XXI da tecnologia. Notem que sempre existiram movimentos históricos visando resgatar a espiritualidade e o sentimento humanista nos séculos que antecederam aos nossos, mas hoje a tecnologia e o capitalismo estão ganhando de lavada.

As religiões levam uma boa parte dessa culpa por terem promovido muita confusão entre os elementos básicos da espiritualidade durante muitos séculos: misturaram fraternidade com dó, humanismo com dar esmolas e condicionaram o desenvolvimento espiritual à aceitação tácita de seus dogmas. Tudo para manter seus rebanhos, tornando-os dependentes e temerários de um deus pelo qual sempre lutaram pela posse exclusiva., ou seja, Deus é um só, mas nossa religião é a única autorizada a falar em nome dele.

Em virtude das incoerências de suas pregações com o real comportamento de seus representantes, a ficha caiu para muitas ovelhas, que aos poucos foram abandonando suas religiões. E o principal estrago disso tudo, longe de ser o de esvaziá-las,  foi o de fazer com que um grande número de dissidentes abandonasse de vez o sentimento humanista e interrompesse o desenvolvimento de sua espiritualidade pra gozar a vida e aproveitar tudo aquilo que antes era proibido fazer. E assim nasceu a geração do "viva eu e o resto que se dane". Nesse mundo egoísta que criaram, políticos ladrões ganham status de espertos; miseráveis são aqueles que não gostam de trabalhar; desigualdade social é culpa do governo e a violência é problema da polícia e da justiça.

Essa geração que hoje domina o mundo, necessita que o dia tenha mais de 24 horas para que possa absorver tudo o que a tecnologia da informação tenta despejar em seus cérebros. Precisa ganhar dinheiro suficiente para consumir tudo aquilo que o capitalismo produz e poder construir aqui na Terra seu paraíso particular, sem precisar ascender ao Reino dos Céus. Mora em condomínios de muros eletrificados para afastar os amigos do alheio, e altos o suficiente para esconder de suas vistas a miséria que os rodeia. Seu vizinho é um ser de outro planeta e uma ameaça à sua privacidade. Se cumprimentá-lo com um bom dia efusivo ele poderá estar transmitindo que é muito feliz com sua família e que tem muito dinheiro. Melhor fingir que não vê.

Isolado em sua tribo de muros altos, essa nova espécie de quase humano - o "Homo Condominius" - volta 50 mil anos no tempo para privilegiar seus instintos como fazia seu ancestral das cavernas, adaptando seu modo de vida ao que ele chama de sobrevivência no século XXI. Acorda cedo para abater a caça antes de ser abatido por ela, que nesse caso é o seu semelhante. Semelhante este que, tal como ele, também almeja o cargo de chefia que está vago, ou é seu concorrente que briga pela mesma fatia de mercado. E enquanto o homem das cavernas fazia sexo para satisfazer seus instintos e preservar a espécie, o da tribo dos condomínios faz sexo para se divertir e se afirmar, evitando a união estável e a procriação. E assim, de sol a sol, os dias, as semanas e os 11 primeiros meses do ano passam como um raio.

Chega dezembro... ah, dezembro! O "Homo Condominius" sabe que chegou dezembro porque a Apple vai lançar um novo IPhone e as propagandas anunciam o seu nascimento com aquelas belas músicas de Natal que fizeram pra um tal de Menino Jesus. Chegou a hora de parar e se dedicar um pouco mais à família, dar e receber presentes. Depois vem o réveillon, hora de desejar sucesso no trabalho e muito dinheiro no ano novo que começa.

Sei que abusei um pouco do sarcasmo e das figuras de linguagem, mas as pessoas precisam parar um pouco pra pensar e refazer seus conceitos de humanismo e espiritualidade. Entender que essas duas coisas não dependem de religiões. Ser humanista é reconhecer o direito de todo ser humano a uma vida digna. Pra que a gente não seja obrigado a desviar o olhar evitando ver crianças inocentes morrendo de fome e idosos abandonados nos corredores dos hospitais. Ser espiritualista é acreditar que nem tudo é matéria e crer na sutileza da essência humana. Que o tempo passa e, mesmo não acreditando na vida após a morte, compreender que é importante contribuir para que todos possam ter um mundo melhor e não apenas nossos filhos e netos. E até - por que não? - pra que a gente morra melhor e com a dignidade de um ser humanizado.

Por enquanto ainda estamos parando em dezembro, mas do jeito que as coisas andam, vai chegar o momento em que só pararemos pra pensar quando estivermos próximos do fim, quando poderemos apenas lamentar não ter feito mais. Que poderíamos ao menos ter sido mais independentes em nossos pensamentos e desenvolvido nossos próprios valores, desvinculados daqueles que o inconsciente coletivo nos metia goela abaixo. Que não deveríamos ter empunhado falsas bandeiras e protegido heróis de mentira apenas por fanatismo, teimosia ou vergonha de voltar atrás.

Encerro com um trecho do famoso texto "Meditação XVII" do poeta inglês John Donne que representa a essência do sentimento humanista:

“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

Feliz ano novo! Feliz novo jeito de pensar na vida!
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Política: cadê as pessoas sérias; cadê os jovens?


O país clama por mudanças na política, mas como mudar sem sangue novo? Com a desculpa de que isso é coisa pra quem não gosta de trabalhar ou tem vocação pra ladrão, o resultado é o afastamento de pessoas sérias do cenário político, principalmente, dos jovens. Essa generalização faz com que se crie e se estabeleça um falso conceito sobre política e o resultado dessa alienação é uma cidade, um estado, um país e um mundo cada vez mais individualista e desumano. Pior do que a falta de novos políticos, esse desinteresse piora a conscientização política dos eleitores e, consequentemente, reelege infinitamente ratos e raposas. Interessar-se pela política não é escolher um partido e muito menos pegar uma bandeira nas mãos e sai por aí gritando, como um fanático torcedor de futebol. Isto não é fazer política, mas sim um exemplo de descontrole, fanatismo e desequilíbrio emocional. Quando uma bandeira passa a ser mais importante que a ética, transformando bandidos em heróis, está na hora de promovermos uma revolução em nós mesmos e dar um basta, extirpando esses cânceres que se travestem de partidos e de políticos.


SOBRE POLÍTICA E JARDINAGEM
(Rubem Alves)

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer "chamado". Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um "fazer". No lugar desse "fazer" o vocacionado quer "fazer amor" com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.
"Política" vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oasis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é política?", ele nos responderia, "a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas".

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.

Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.

Todas as vocações podem ser transformadas em profissões O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento.

Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: "Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade... Ao contrário dos 'legítimos' políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem." Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.

Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolôs.

Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los à vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de vocês. A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim?

Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireiros. E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer.

Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam.

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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal, religiosos, espiritualistas, ateus e agnósticos


Não importa sua opção religiosa. Não importa se você considera o Natal história ou estória, mas vamos e venhamos, é uma narrativa bonita e que todos os seres humanos em sua boa essência, crêem pela fé ou, mesmo sem ela, gostariam de acreditar.

Abandone por alguns momentos a dureza do seu coração e esqueça suas brigas por razões. Não se prenda nos detalhes da concepção do Menino Jesus ou se a Estrela Guia já estava presente nas noites anteriores. Se os três Reis eram apenas vassalos; se eram brancos, amarelos ou negros; pessoas comuns ou magos; se vieram de longe guiados por uma profecia ou se coincidentemente já estavam por perto. Concentre-se no enredo e nas verdades filosóficas, sem dogmas e preconceitos.

No mundo de hoje, as pessoas endureceram seus corações. As religiões se fecharam nelas mesmas e os incrédulos tornaram-se egocêntricos. Todos por si mesmos e cada um por ninguém. O nosso entorno se resume no trabalho e, quando muito, na nossa própria família. A internet aproximou, mas afastou. Aproximou a palavra e afastou o convívio. Mostramos o que gostaríamos de ser, mas continuamos sendo aquilo que a sociedade e o capitalismo selvagem deseja que sejamos. Melhoramos nossa referência do bem, mas apoiamos conscientemente o mal, seja por indiferença ou por meio de ações instintivas, atreladas aos interesses e à ordem de valores do inconsciente coletivo.

Mas a verdade é que essa história (ou estória) bonita de mais de dois mil anos ainda consegue sensibilizar o coração dos homens, ao menos uma vez por ano. Verdadeira ou não, ela consegue. Aceite-a na sua essência de amor e despreze os detalhes incômodos da dúvida.

Abra o seu coração e desperte o humanismo latente que existe nele, desde que você veio ao mundo. Crie seu próprio enredo e transforme sua estória numa história real de vida.

Se o Planeta ficou menor, sejamos maiores do que somos hoje. Ainda há tempo para reconstruir o mundo que não acabou e construir um mundo que nunca existiu.

Um Feliz Natal a todos amigos e amigas. E um ano realmente novo!

sábado, 22 de dezembro de 2012

Desde ontem, o mundo continuou...

Fiquei pensando, deve ter um monte de gente escrevendo sobre o mundo que não acabou. Sem problemas, vou escrever também. Não estou concorrendo a nenhum prêmio de literatura, uai! Este blog pra mim é cachaça da boa, daquelas que a marca não importa desde que seja destilada naqueles alambiques perdidos no meio do mato, que custa pra gente achar. Onde o dono faz festa quando você chega e o faz experimentar todos tipos da danada antes de vender. A estratégia de venda é primeiro oferecer pra degustar a melhor cachaça que ele tem. Já anestesiado, você acaba gostando de todas e leva uma de cada.

E o fim do mundo? Nada? Acho que Deus pensou: Xiii, descobriram! Deixa eu mudar pra 13/13/2013 porque não tem no calendário Maia nem no Juliano.

Até a NASA e o INPE entraram na história pra sossegar os apavorados. Mas cá entre nós... o dia que o mundo for pro (outro) espaço,  ninguém vai acertar com antecedência. A ciência é nada diante das variáveis do TUDO e do TODO. Ela conhece "x" do "y" indeterminável. Portanto, desprepare-se! Como disse Mahatma Gandhi: "Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre."

Se você acabar antes do mundo, deixará algo; se acabar junto com ele, levará algo na sua essência imortal, seja pra onde for. O importante é viver e aprender; é poder criar e experimentar momentos de felicidade.

O quanto vão durar, pouco importa!


SER FELIZ
(Fernando Pessoa)


"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.

E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise…

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história… 

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma…

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida…

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos…

É saber falar de si mesmo… 

É ter coragem para ouvir um "não"…

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta…

Pedras no caminho? 

Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."


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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

De bobo, Joaquim Barbosa não tem nada.

Embora alguns mais radicais tenham ficado raivosos com a decisão do ministro Joaquim Barbosa de não decretar a prisão dos condenados no mensalão, de medroso ou bobo ele não tem nada. Tem gente dizendo que ele foi ameaçado de morte e um monte de outras besteiras, mas em minha opinião tudo não passa de devaneios. Se o ministro fosse na do Gurgel poderia incorrer num erro que os advogados e os partidos envolvidos esperavam ansiosos. Para os partidos políticos o de criar mártires em pleno período natalino, explorando as famílias dos condenados e os transformando em vítimas. Para os advogados um belo motivo para recursos protelatórios, pois, o próprio Joaquim Barbosa em sua decisão aponta a fragilidade da decisão de deferir o pedido de prisão feito pelo Ministério Público. Os réus seriam soltos quase que em seguida.

Excluindo-se a fragilidade jurídica de uma decisão como esta, há também um lado que, mesmo não sendo relevante porque a decisão foi - e deve mesmo ser - técnica e não política, traria como efeitos colaterais a indisposição de Joaquim Barbosa com seus pares e certa "comoção localizada", alimentando a chama da absurda tese de "Tribunal de Exceção" 

Sobre o presidente do STF estar com medo de ameaças, já o estaria muito antes dessa decisão que representa uma parte insignificante em relação ao processo como um todo. Barbosa já cansou de demonstrar que é "macho" e que não se intimida com ameaças ou indisposições, seja da Presidente (com E* leia neste blog) da República e de seu partido, ou alguns de seus pares tendenciosos.

Como eu disse, de bobo Joaquim Barbosa não tem nada. Além do mais, quem garante que mesmo em recesso ele não consultou todos os ministros e "conselheiros" que já estão gozando sua aposentadoria?

Não basta ser ministro do supremo... tem que pensar!

*Anexo: Decisão de Barbosa na íntegra (O Globo)


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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Constituição brasileira corre sério risco



O país inteiro tem assistido a essa bandidagem descoberta no mensalão, na operação Porto Seguro e em outras mais,  e fica ainda mais perplexo diante das manifestações de solidariedade dos partidos do governo e de seus aliados, principalmente do PMDB que se finge de morto há 25 anos e se torna cada vez mais poderoso no lucrativo sub-poder. No entanto, as últimas demonstrações de corporativismo do Congresso em relação aos royalties do Pré-Sal - e aí não questiono os méritos - passaram dos limites. Ouvi declarações, tanto da oposição quanto do governo de que Fux foi mais carioca que ministro do Supremo em sua decisão de obrigar a votar os 3 mil vetos antes.

Senadores e deputados têm o direito - e até dever - de defenderem seus estados, mas dizerem que o ministro foi parcial e que o STF não pode ingerir nas decisões do congresso é uma grande estupidez. O Congresso com algumas poucas exceções constitucionais que foram incluídas para evitar perseguições políticas, está sim sujeito à Suprema Corte nos casos de crimes comuns, contra o Estado e na administração pública, além dos casos em que é "provocado" com pedidos de liminares e outros recursos previstos. Assim como não desejamos a judicialização da política, não queremos que a política assuma a função de julgar ou desfazer decisões do STF, comprometendo mais ainda a isonomia do sistema democrático. Começa agora um movimento para aprovar a PEC do petista Nazareno Fonteles (PI) que prevê que o Legislativo suste atos do Judiciário. Um verdadeiro absurdo, assim como também o é a PEC 37 que tira do Ministério Público a competência para investigar crimes e atribui esta função exclusivamente às policias Federal e Civil. Os promotores e procuradores de justiça alertam sobre o prejuízo à sociedade com a aprovação desta Emenda, pois aumenta a insegurança social e a impunidade dos criminosos, contrariando os interesses dos cidadãos.

Acho que devemos abandonar neste momento nossas preferências partidárias para defender nossa Constituição que corre sérios riscos de ser aviltada e deformada por interesses do corporativismo político que não admite se submeter a ela. Estão tentando institucionalizar a oligarquia política, oficializando o outro brasil (letras minúsculas) formado por cidadãos privilegiados, com salários milionários, atendimento médico diferenciado além de outros benefícios incompatíveis com as enormes diferenças sociais do Brasil de hoje.

Ou passamos a defender a nossa Constituição e o STF que garante a igualdade ou logo-logo teremos uma ditadura política corporativista disfarçada de democracia.

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domingo, 16 de dezembro de 2012

Grades imaginárias



Prisioneira da mente,
retira seu alimento
com suas mãos pequenas
por entre as grades
da cela imaginária
que nasceu do medo.

O Sol renasce;
a Lua faseia;
a Terra gira;
estrelas nascem,
brilham e morrem,
mas seu olhar permanece
nas suas mãos vazias.

O carcereiro se alimenta
da sua fome, e sem piedade
lhe dá as chaves sorrindo
na certeza da volta
de sua curta caminhada
pelas calçadas vazias de esperanças
que margeiam ruas de velhos receios.

O Sol não nasceu,
a Lua é nova
e só estrelas não iluminam.

A prisão é mais segura
com a vida lá fora
atrás das grades.





sábado, 15 de dezembro de 2012

Só existe o viver

Nada substitui a reflexão. Nada também substitui o desprezo por ela nos momentos em que a liberdade do "não pensar" nos trouxer mais benefícios que mergulhar na razão. Nada substitui o desprezo pelas verdades impostas e a construção das nossas próprias verdades. A vida não pode ser vivida sem ser sentida e não pode ser sentida sem que trilhemos os caminhos das nossas escolhas; sem que por vezes também esqueçamos onde queremos chegar; sem que desistamos e retomemos o mesmo caminho ou refaçamos as nossas escolhas.

O aprendizado está em experimentar o que chamamos de erros, acertos e suas próprias indefinições. Sofreremos e nos alegraremos se não escolhermos; sofreremos e nos alegraremos ao trilharmos os caminhos das nossas escolhas e ao refletirmos sobre os não escolhidos, pois, escolher é também excluir.

Aprender sempre, infinitamente. Não existe partida e nem chegada.

Nem a morte existe.

Só existe o viver.


UM DIA VOCÊ APRENDE
William Shakespeare

"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem da vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa - por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a ultima vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!"

William Shakespeare

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

STF: Mais previsível que choro em velório

Embora se tenha a desculpa de que o processo é  inédito para o STF, o julgamento do mensalão revelou, mesmo para leigos como eu, mais do que as particularidades de cada ministro: a perigosa e preocupante previsibilidade previamente anunciada. Fizemos o "teste" e todos agora conhecemos - incluindo os fanáticos que não dizem, mas pensam - o perfil de cada ministro do Supremo. Diga-me como julgas e te direi quem és.

Não que deveria haver unanimidade nas decisões, mas que ao menos os contrapontos fossem ora de um, ora de outro. E o que vimos foi a absoluta previsibilidade e seja ela por tendenciosidade ou teimosa, não importa. Vale para qualquer um dos lados, seja dos que acusam, dos que absolvem ou dos que condenam. Excluindo Joaquim Barbosa que já havia dado seus votos como relator, o julgamento ficaria por conta dos outros ministros.

É certo que a dúvida deve favorecer o réu, mas não se trata de um julgamento em que o defunto está no necrotério crivado de balas com uma estrela em alto relevo gravada em cada uma delas ou o fruto do crime depositado numa conta do Banco do Brasil com o nome "desvios e roubos do erário". Os réus não eram cidadãos comuns, mas poderosos que exigiam foro especial para serem julgados, e na história da impunidade no Brasil, decididamente não encontraremos ladrões de galinha, assaltantes de banco e traficantes, mas apenas políticos e figuras de colarinhos brancos.

Quanto à previsibilidade, muito antes do julgamento já se falava à boca pequena, tanto no meio político quando na imprensa - que cansou de publicar currículos dos ministros mostrando sutilmente os que tinham certa aproximação com Lula, Dirceu, Collor e PT - sobre as eventuais interferências "emocionais" às quais alguns ministros estariam sujeitos. E não escaparam dessas previsões de interferências, mais contundentemente os ministros Lewandowski e Dias Toffoli.

No caso de Rosa Weber, vale a pena recordar a sabatina do Senado quando seu nome foi indicado. Além de ter atuado 35 anos somente na área trabalhista e não ter experiência na criminal, enrolou-se na sabatina da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) quando disse "É o que sou e é o que tenho a oferecer", reconhecendo de certa maneira sua limitação. Questionou-se aí o exigido notório saber jurídico, pois, o STF é corte máxima e não está segmentado por especialização jurídica.

Cármen Lúcia com seu olhar sério e belo currículo, infelizmente inspira uma certa submissão à Dilma, talvez pelo corporativismo feminino ou uma espécie de agradecimento silencioso pela indicação. Nem precisava disto, pois, foi uma das raras unanimidades entre as recentes indicações, tanto entre juristas como entre políticos do governo e da oposição. Foi por merecimento. No entanto, às vezes dá impressão de que lhe falta coragem de assumir posições menos conservadoras, não sei se por ser presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Em resumo para mim tanto a ministra Rosa Weber quanto Cármen Lúcia são o que chamamos de "vaselinas" ou sabonetes na linguagem popular. Desculpem-me, mas não sei qual termo usaria no dialeto "jurisdicês".

Como disse Clarice Lispector, "Os fatos são sonoros. O que importa são os silêncios por trás deles.".  E as palavras de intenções explícitas engolidas por alguns ministros do supremo têm sons ensurdecedores, como as de Toffoli e Lewandowski. Não há como disfarçar a submissão de Toffoli ao partido que o revelou e o elevou profissionalmente, a ponto de ser indicado e aprovado sem possuir um currículo merecedor e ainda por cima manchado por decisão judicial desfavorável em sua trajetória profissional. Lewandowski, além de ter saído do seio da uma região sindicalista de São Bernardo do Campo, tem relacionamento estreito com Lula e sua Mulher Marisa Letícia (da qual sua mãe era amiga) e com o ex ministro do governo Lula, Luiz Marinho. Lewandowski adotou o cômodo argumento de ter de se contrapor ao relatório do relator Joaquim Barbosa para que o julgamento fosse mais justo. Toffoli não pestaneja... apóia todas as avaliações polêmicas de Lewandowski, assina embaixo dos votos do revisor e com isso tem seus embasamentos jurídicos facilitados pelo professor universitário, especializado em direito criminal.

O caso de Marco Aurélio de Mello é um pouco mais complicado. É astuto, mas sua inconstância denota "arrependimentos". Faz parte da última safra dos indicados por presidentes anteriores ao PT, no caso, seu primo, ex-presidente Fernando Collor de Mello. Unido aos quatro nomes que mencionei anteriormente, o ministro Marco Aurélio pode ser considerado como fiel da balança do grupo "opositor" às penas mais rígidas para os réus do mensalão, principalmente os réus políticos.

Vamos então ao ponto nevrálgico do título "STF: Mais previsível do que choro em velório". Sem sabermos absolutamente de nada e que as previsões fossem feitas antes do início do julgamento eu pergunto: com a exceção do voto de Fux (que nos surpreendeu inversamente) e da ministra Cármen Lúcia, os votos dos ministros que mencionei foram ou não previsíveis? E continuarão, ou não, sendo previsíveis?

Não... não se trata de coerência, pois em matéria de justiça não se admite tal "vaidade" ou acertividade. Reavaliar é atitude nobre e sensata. Mas quando a reavaliação "coincidentemente" vai para o lado que antes era previsto pelas raízes históricas de relacionamentos e por um momento não se cumpriu, soa mais como arrependimento do que sensatez.

Experimentem e façam o teste. Não precisamos ser Nostradamus. Basta prestar atenção nos "sinais". E a JUSTIÇA REAL ficará por conta dos que não têm rabo preso e dos que estão verdadeiramente nos representando, à revelia de interesses velados e do medo de represálias.

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domingo, 9 de dezembro de 2012

Orgulho e vaidade



Fazem certa confusão entre orgulho e vaidade. Tanto o orgulho quanto a vaidade afastam-nos da autocrítica e da reflexão, interferindo consequentemente em nossas reavaliações e escolhas. A vaidade é mais visível do que o orgulho, pois, ela exige que nossas qualidades sejam notadas por outras pessoas. Quando tentamos dissimular o orgulho, o fazemos por vaidade.

A melhor explicação que já li sobre a diferença entre orgulho e vaidade foi do poeta Fernando Pessoa:

"O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito, a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação."

Fernando Pessoa


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sábado, 8 de dezembro de 2012

A felicidade simplesmente acontece

A felicidade simplesmente acontece. Não pode ser preparada com ingredientes como numa receita de bolo, pois, o que hoje é indispensável não o será amanhã. Um encontro suave entre as ocorrências naturais da vida e o resultado das nossas mudanças, à revelia do concreto imaginado; a despeito dos desejos idealizados e das esperanças cultivadas.

A felicidade simplesmente acontece. Não pode ser enumerada e nem ponderada porque nossos valores são mutáveis no transcorrer da vida. Resulta das experiências vividas e das não experimentadas; do que equivocadamente chamamos de vitórias e derrotas.

A felicidade simplesmente acontece. Parados ou em movimento, a felicidade se realiza quase sempre quando a esquecemos. Quando trocamos o sonho racional  pelo sutil e o incorporamos à essência do nosso Ser.

A felicidade simplesmente acontece. Acontece sem interromper os nossos sonhos. Como escreveu Fernando Pessoa: "De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa; é um sono sem sonhos em que estamos despertos"

A felicidade simplesmente acontece.

(Petrus Falcin)


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Triunfo

Escreveu o poeta indiano Rabindranath Tagore que "há triunfos que só se obtêm pelo preço da alma, mas a alma é mais preciosa que qualquer triunfo."

E o que é o triunfo ou vitória para você?

Não vou falar de políticos, mas sim de pessoas "normais" que NÃO visam esse tipo de conquista ligada ao poder, porém numa ordem de valores não muito diferente da dele. Buscam destaque na sociedade, acompanhado de dinheiro e um belo cônjuge, todos regados por alguns bons momentos de glória e prazer.

Distante do falso moralismo ou daquela religiosidade hipócrita que promete o reino dos céus para os humildes que se desfazem de bens para merecê-lo, ao falar de valores, refiro-me ao que há de verdadeiramente concreto na vida. Não aquele concreto do movimento concretista que privilegiava a racionalidade em detrimento do expressionismo, mas da verdade com pitadas de realidade objetiva sem sacrificar a essência subjetiva da arte de SER.

Quem disse que o consumismo se restringe apenas aos conceitos convencionais de bens de consumo e bens duráveis? Existe também consumismo dentro do mercado de estilo de vida, produto que não pode ser exposto em catálogos e nem pago de uma só vez com boleto ou cartão de crédito. Os grandes marketeiros NÃO são aqueles que despertam o desejo do consumidor por produtos específicos de seus clientes, mas aqueles que manipulam o desejo inconsciente presente na essência de todo ser humano desde que chega ao mundo: o de viver para ser uma pessoa melhor. Esses marketeiros que manipulam o sutil, diferentemente daqueles que despertam o desejo por bens de consumo e bens duráveis, têm a missão de inibir o impulso espiritual latente do ser humano, injetando em seu lugar um conceito totalmente oposto à sua verdadeira essência. Falam que não é pecado TER e eles têm razão, mesmo porque pecado não existe, mas se aproveitam dessa máxima para sufocar a sensibilidade das pessoas, transformando-as em seres egocêntricos e ambiciosos além dos limites.

Esses marketeiros de almas, normalmente fizeram estágios em religiões, doutrinas e filosofias e se desgarraram quando perceberam que poderiam ter mais, mas que esse "mais" os deixaria em conflito com a ordem de valores que aprenderam a ter. Mas como o TER é bem mais atrativo do que o SER, antes que o sentimento de culpa tome conta deles, iniciam um processo de autoconvencimento para provar a eles mesmos que não há nenhum conflito entre obedecer a sua essência e ceder aos seus desejos de consumo. E a batalha é tão grande que acabam se tornando experts em descobrir razões e justificativas, percebendo que podem unir o útil ao agradável e dar palestras com temas chamativos como: "Ganhar dinheiro não é pecado"; "A riqueza e a espiritualidade" e outras do gênero.

Realmente eu concordo que não só podemos como devemos ganhar dinheiro desde que seja lícito, mas não, tornar-se escravo dele. No entanto o que vemos são esses marketeiros de almas se multiplicando, uns inspirando-se nos outros, acumulando bens cada vez mais, circulando nas altas rodas da sociedade e ganhando seguidores como uma espécie de seita. No Brasil existem vários exemplos, mas vou omitir nomes. Eles têm programas de rádio e de televisão, fazem encontros e palestras para centenas e até milhares de pessoas a preços "módicos". Mas o que eles aprenderam sobre a vida espiritual, embora não pratiquem, não podem esquecer nunca, pois, afinal, trata-se da principal arma de convencimento e captação de "recursos" para uma vida cada vez melhor dentro das suas ordens de valores.

E cada vez mais, seres humanos vão esquecendo de suas missões interiores, incorporando valores que originalmente não são seus, mas os tomam como se fossem porque foram convencidos de que seria lícito almejar tê-los. Com isso, as pessoas se tornam cada vez mais individualistas e a humanidade passa a ser um aglomerado de gente preocupada apenas consigo mesma e com o seu entorno. Não se importam com as desigualdades sociais, optam pelas paixões e consequentemente pela constante troca de parceiros e amigos, chegando invariavelmente ao fim da vida sozinhas, mesmo acompanhadas.

E antes do último suspiro de vida perguntarão para si mesmas se valeu a pena. Jamais conheceremos as respostas, porém, as intuímos.

Enquanto essa pergunta não for feita, ainda haverá tempo para mudar.

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Medo de dizer eu te amo


Medo, vaidade, orgulho e mágoa (sim, o paradoxo da mágoa). São esses os maiores responsáveis pelos nossos constantes fracassos na busca do amor possível. Não que a opção de ficar sozinho traga infelicidade e que ninguém possa ser feliz dessa forma. Mas para ser feliz sozinho, não basta simplesmente não ter ninguém e tentar se acostumar com essa ideia. Deve haver um preparo racional, regado por algumas experiências anteriores - não necessariamente frustrantes - e um realinhamento emocional para se estabelecer um nova ordem de valores. No entanto, descobrir no final da vida que perdeu a oportunidade de ser feliz junto a uma pessoa e que isto era mais importante do que se imaginava, certamente não será uma constatação das mais gratificantes. Você decide!


Texto abaixo extraído do livro "Amar pode dar certo"
Roberto Shinyashiki e Eliana Bittencourt Dumêt


É muito comum as pessoas dizerem que sentem medo de ficar sozinhas no futuro. O fato, porém, é que essas pessoas já estão sozinhas. Mesmo que preencham a vida com uma série de compromissos, trabalhos e relações superficiais, não têm consciência da própria solidão.

Quem teme ficar sozinho, tanto na meia-idade como na velhice, é porque já está tomando providências para que a solidão se instale. Já está programado um futuro solitário, passo a passo, com a vida que estruturou no presente.

O que é realmente solidão?

Adaptamos um poema sobre a solidão, cuja autora quer se manter anônima:

Solidão é...
Olhar o telefone, ansioso por um chamado, e ele permanecer mudo.

Ouvir uma música e não ter ninguém com quem associá-la.

Querer dormir muito, para não ter a consciência de que está só.

Não ter ninguém com quem brindar um acontecimento.

Sentir frio e não ter um abraço para aquecê-lo.

Falar alto em casa, para ter a sensação de estar ouvindo algum ser humano.

Ter apenas um prato na mesa, às refeições.

Não ter alguém para lhe abotoar o vestido ou lhe ajeitar a gravata.

Sair de madrugada, tentando encontrar algum conhecido para poder desabafar.

Perceber que não tem um ombro para chorar.

Ler o jornal, durante as refeições, por não ter com quem conversar.

Verificar que a correspondência se resume a contas e extratos bancários.

Nunca ter a quem dizer bom-dia, ao acordar.

Não ter quem lhe faça um chá, quando está indisposto.

Não ter a possibilidade de dividir o mesmo desodorante ou a mesma pasta de dentes.

Não ter alguém eu lhe impeça o suicídio.

E você? Quando se sente realmente só?

Não há dúvida de que devemos criar momentos de isolamento, pois eles são um sinal da nossa mais profunda identidade. É bom ficarmos sozinhos de vez em quando para refletir em silêncio, para descobrir quem somos. Esse isolamento, no entanto, é apenas uma pausa para olharmos ao nosso redor, em busca do amor.

O isolamento não é solidão, mas um momento para estarmos conosco, em paz e harmonia. É uma busca interior, um movimento voluntário, uma virtude a ser desenvolvida que nos ajudará a encontrar melhor os olhos e o coração dos outros.

O isolamento contraria a essência do ser humano, que é amar e ser amado. A solidão é quando nos trancamos para o amor. É a incapacidade de se comunicar, de estar com alguém. Muitas pessoas, num ato de vaidade, podem até demonstrar orgulho por não depender de ninguém. Mas, depois de algum tempo, vão se tornando amarguradas e desesperadas.

O ser humano, mesmo se isolando, mesmo sabotando todas as formas de amor, continua, no seu íntimo, querendo amar. Não se sabe de onde, mas, de repente, aparece uma ânsia louca por alguém, por um amor duradouro, por uma intimidade diária, por uma convivência feita de pequenas circunstâncias diárias.

Existe um experimento em psicologia comportamental que exemplifica bem como o ser humano se limita ao amor.

Um cientista coloca um ratinho numa gaiola. No início, ele ficará passeando de um lado para o outro, movido pela curiosidade. Quando sentir fome, irá em direção ao alimento. Ao tocar no prato, no qual o pesquisador instalou um circuito elétrico, o ratinho levará um choque muito forte que, se não desistir de toca-lo, poderá até morrer.

Depois do choque, o ratinho correrá na direção oposta ao prato. Se pudéssemos perguntar-lhe se tem fome, certamente responderia que não, porque a dor provocada pelo choque faz com que despreze o alimento. Depois de algum tempo, porém, o ratinho entrará em contato com a dupla possibilidade da morte: a morte pelo choque ou pela fome.

Quando a fome se tornar insuportável, o ratinho vagarosamente, irá de novo em direção ao prato. Nesse meio tempo, no entanto, o pesquisador desligou o circuito. O prato não está mais eletrificado. Porém, ao chegar quase a tocá-lo, o ratinho terá a sensação de que levou um segundo choque.

Haverá taquicardia, seus pêlos se eriçarão e ele correrá em direção oposta ao prato. Se lhe perguntássemos o que aconteceu, a resposta seria: "Levei outro choque". Esqueceram de avisá-lo que a energia elétrica estava desligada!

A partir desse momento, o ratinho vai entrando numa tensão muito grande e seu objetivo agora é encontrar uma posição intermediária entre o ponto da fome e o do alimento que lhe dê uma certa tranqüilidade.

Chama-se a isso de ponto de equilíbrio, porque representa uma posição entre fazer alguma coisa para se alimentar e ao mesmo tempo evitar um novo choque.

Qualquer estímulo que ocorrer por perto, como barulho, luminosidade ou algo que mude o ambiente, levará o ratinho a uma reação de fuga em direção ao lado oposto do prato. É importante observar que ele nunca corre em direção a comida, que é do que ele realmente precisa para sobreviver.

Se o pesquisador empurrar o rato em direção ao prato, ele poderá morrer em conseqüência de uma parada cardíaca, motivada pelo excesso de adrenalina, pelo medo de que o choque primitivo se repita.

É provável que você esteja se perguntando: "Muito bem, mas o que isso tem a ver com o medo de amar?"

Muitas vezes, vemos pessoas tomando choques sem tocar no prato.

Quantas vezes, nesta semana, você teve vontade de convidar alguém para sair, para conversar, para ir à praia ou ao cinema, e não o fez, temendo, que a pessoa pudesse não ter tempo ou que não gostasse de sua companhia, e, desse modo, acabou sentindo-se rejeitado sem ao menos ter tentado?

Quantas vezes você se apaixonou sem que o outro jamais soubesse do seu amor?

Quantas vezes você já abandonou alguém, com medo de ser abandonado antes?

Quantas vezes você sofreu sozinho, com medo de pedir ajuda e ficar "dependente" de alguém?

Quantas vezes você se afastou de um grande amor, com medo de se comprometer?

Quantas vezes você não se entregou ao amor por medo de perder o controle de sua "liberdade"?

Quantas vezes você tomou um choque sem tocar no prato?


Roberto Shinyashiki e Eliana Bittencourt Dumêt
Do livro: "Amar Pode Dar Certo"

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domingo, 2 de dezembro de 2012

Só desbancar Lula é pouco, muito pouco.

Não vou perder meu tempo escrevendo sobre o mensalão, Lula ou dos últimos fatos que envolvem sua secretária especialmente especial e seus lacaios. A imprensa já está se virando muito bem com essas pautas e há artigos, editoriais, teorias e previsões para todos os gostos. E pensando bem, esses escândalos coroam uma fase de cinco séculos de maior ou menor corrupção, desde a carta de Caminha. A mensagem é para os correligionários e filiados do PT e seus partidos alienados, digo, aliados.

As evidências são inquestionáveis e os torcedores fanáticos podem até tentar desqualificar as matérias dos jornais que erraram na marca do perfume francês que a Rose usava, mas vai ficar por aí. Estamos falando de Supremo Tribunal e Polícia Federal. O primeiro com oito ministros indicados por Lula e Dilma e o segundo sob o comando da própria presidente e de seu ministro da (in)justiça. Tentar sair dessa defendendo o indefensável é perder tempo e aumentar a exposição ao ridículo.

Se PT e aliados quiserem sair rápido dessa, vão ter que começar depressa a reconstrução - ou criação tardia - da dignidade de suas legendas. E os que sempre acreditaram num Brasil diferente e apoiaram ingenuamente e de boa fé esse plano maquiavélico de eternização no poder a todo custo, precisam o mais rapidamente possível rever suas posições políticas, mudar de partido ou ajudá-los a reconstruir. Insistir é piorar.

Não, não é só o PT! Todos os partidos que se aliaram e assinaram embaixo sem ler - principalmente o PMDB - estão no meio desse mar de lama. E como ajudaram, direta ou indiretamente, a montar esse esquema de corrupção e roubos "nunca antes visto neste 'paiz'", que agora ajudem a desmontá-lo e desinfetá-lo.

E sugiro começar pelo resgate da simples dignidade de cidadão brasileiro.

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domingo, 25 de novembro de 2012

Amor moderno


Troca-se hoje os corações como se troca de roupas. Azul, vermelha, amarela, branca; todas as cores e nuances do arco-íris. Estado de espírito ou estado da carne? Eclético, adaptável, desmontável e, finalmente, descartável. O coração moderno não suporta prisões, mas por que se desespera com a liberdade? Quer, mas não quer; ama, mas não ama. Ele precisa ser assim, mais instintivo e menos humanizado. Mais tesão, mais sensação; menos sentimento, menos paz. Mais vermelho e laranja; menos azul e lilás. Mas a vida é curta e o coração moderno um dia envelhece sem ter experimentado todas as nuances do arco-íris. Triste, sem mais tempo e esperança, acaba descobrindo que o branco era a junção de todas as cores.




RIFA-SE UM CORAÇÃO
Clarice Lispector


Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado,
muito machucado e que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões.
Um pouco inconsequente, que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu '...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...'

Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional. Sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que, quando parar de bater,
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
‘O Senhor pode conferir. ’

Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e se recusa a envelhecer.

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconsequente.

sábado, 24 de novembro de 2012

Solidão ou isolamento

Este assunto é complexo porque o termo "solidão" dá uma ideia de abandono, mas o isolamento pode ser uma opção consciente para reflexão e não necessariamente causado por uma perda ou desejo de fugir da realidade. Por outro lado, a falta de relacionamentos impede de nos percebermos numa outra pessoa (espelho) - não necessariamente num relacionamento amoroso, mas também de amizade -  o que é prejudicial no nosso processo autoconhecimento. 

É um assunto muito complexo para ser abordado numa pequena entrevista, mas o  psicólogo e professor Waldemar Magaldi Filho, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática, Homeopatia, Mestre e Doutor em Ciências da Religião, fala um pouco sobre o assunto e nos faz refletir mais sobre o isolamento, seja ele opção ou fuga da realidade.

Clique abaixo e ouça.




terça-feira, 20 de novembro de 2012

Escolhas

Ultimamente meus textos sempre envolvem reflexões sobre frases de alguns filósofos, poetas e escritores. Algumas frases valem por um livro ou coleções inteiras deles. Uma das menores frases que eu já li é do filósofo francês Henri Bergson que diz: "Escolher é excluir". E esta reflexão é uma daquelas que valem por uma coleção.

Se você que está lendo este post acredita que desenvolverei algo sobre essa frase, está enganado(a). Pela primeira vez não farei isso. Refletir de vez em quando faz bem. Se desejar, pode registrar sua reflexão abaixo, no campo de comentários.

sábado, 17 de novembro de 2012

Eu e o tempo

"Olhamos para o passado com saudade, para o presente com desprezo e para o futuro com esperança. (...) Para falarmos bem ou mal do tempo é necessário que ele tenha passado e para que o desejemos é preciso considerá-lo longe. A vaidade faz-nos olhar para o tempo que passou com indiferença porque sobre ele já não há ação; faz-nos ver o presente com desprezo porque nunca satisfazemos essa vaidade; e faz-nos contemplar o futuro com esperança, pois, ele se baseia no que há-de vir. E assim, estimamos o que já não temos, desprezamos o que possuímos e só cuidamos do que não sabemos se teremos." (Matias Aires*)

Quando meu pai estava com 83 anos, sem poder mais sair de casa sozinho por problemas de oxigenação cerebral, várias foram as ocasiões em que, ao visitá-lo em sua casa, o pegava sentado e pensativo, olhando para um ponto qualquer da parede. Eu o beijava e sentava para bater um papo sobre futebol, política e essas coisas sem compromisso para distraí-lo. Quando dávamos uma pausa na conversa ele retomava seu olhar perdido e às vezes dizia: "É... a vida é assim."

Nessa frase suspirada de meu pai caberiam muitas suposições e inferências, mas o estranho é que eu nunca perguntei diretamente pra ele o significado dessa pequena, mas significativa expressão de desabafo. Não sei se por medo de me sentir culpado por alguma coisa; de ser obrigado a falar sobre coisas boas que não voltarão mais ou ruins que não foram esquecidas; sobre o presente aparentemente imutável ou sobre seu futuro sem expectativas de grandes mudanças. Não perguntei, mas sabia que certamente eram conclusões de difícil empatia, pois, 37 anos de vivência nos separavam. Eu estava ali com ele, mas minha cabeça fervilhava pensando no tanto de coisas que eu teria para fazer depois que fosse embora. Como no texto de Matias Aires, entre os meus afazeres havia muita coisa para cuidar que não sabia se um dia teria. É pai... hoje estou quase entendendo... a vida é assim. E é assim mesmo!

Na verdade eu ainda cuido do que não sei se algum dia terei, mas muitas coisas já foram riscadas da lista, sejam elas as que já consegui ou as que decidi não mais (re)conquistar. Não por ter desistido de viver, mas por ter me tornado mais pragmático. Tenho que me bastar. Posso até recorrer à saudade de vez em quando para parar e respirar (ou suspirar) um pouco, mas sem me virar para trás. Como escreveu o poeta Mario Quintana, "O tempo não pára, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo." E é do mesmo Quintana o belo poema com o qual eu termino este post, homenageando - e de alguma forma compreendendo - o meu saudoso pai.

ESPELHO
Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu?
(...) Parece meu velho pai - que já morreu!
(...) Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?"
Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste... 
(Mario Quintana)



*Matias Aires Ramos da Silva de Eça (São Paulo, 27 de março de 1705 — 1763) foi um filósofo e escritor de nacionalidade portuguesa nascido no Brasil colônia. Em 1716 seus pais se mudaram para Portugal, e Matias ingressou no Colégio de Santo Antão. Em 1722, estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde recebeu o grau de licenciado em Artes, graduando-se mais tarde na cidade de Baiona, na Galícia. Escreveu obras em francês e latim e foi também tradutor de clássicos latinos. É considerado por muitos o maior nome da filosofia de língua portuguesa do seu tempo. Em Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, cuja primeira edição é de 1752, o autor tece suas reflexões a partir do trecho bíblico extraído do Eclesiastes: Vanitas vanitatum et omnia vanitas, ou seja, "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade".

domingo, 11 de novembro de 2012

Terapia do Dr. Max Gerson


NOTA: Antes de ler o texto, é bom entender que não se trata de MEDICAÇÃO ou REMÉDIO, mas de um método de NUTRIÇÃO que traz benefícios comprovados para o tratamento e/ou prevenção de várias doenças. Não dispensa visita a médicos, assim como diagnósticos da medicina convencional. A utilização ou não da terapia do Dr. Max Gerson é uma decisão pessoal. É importantíssimo que o vídeo postado no final do texto seja visto integralmente.

A Terapia Gerson é um poderoso tratamento natural que permite que os mecanismos de cura do nosso próprio corpo atuem. Quando foi apresentada ao mundo por Max Gerson, M.D., esta terapia alimentar estava tão à frente do seu tempo que não havia praticamente nenhum estudo disponível na literatura científica que explicasse como ela podia conduzir a espantosas curas, quer em doenças crônicas quer infecciosas. Apesar disso, e pelo facto de, através dela, tantas pessoas se terem curado dos seus casos avançados de tuberculose, doenças de coração, cancro e muitas outras doenças, a Terapia Gerson estabeleceu-se como um enorme contributo para o campo da medicina, através da publicação de artigos na “literatura médica revista por pares” (peer-reviewed medical literature). Max Gerson publicou pela primeira vez sobre o tema do cancro em 1945, quase 40 anos antes da adoção do atual programa sobre dieta, nutrição e cancro pelo Instituto Nacional do Cancro dos EUA.

Desde que começou a aplicar o seu tratamento, nos anos 20, Gerson tratou muitas centenas de pacientes e continuou a desenvolver e refinar a sua terapia até ao dia da sua morte, em 1959, com 78 anos.

O seu paciente mais famoso foi o Dr. Albert Schweitzer, filósofo, teólogo e médico missionário, que aos 75 anos sofria de diabetes avançado. Gerson tratou-o com a sua terapia e Schweitzer curou-se por completo, voltou ao seu hospital africano, ganhou o prêmio Nobel da Paz aos 77 anos e trabalhou até aos 90.

Schweitzer escreveu: “Vejo no Dr. Gerson um dos mais eminentes gênios da história da medicina”.

A 14 de Maio de 2005, em Ottawa, Canada, o Dr. Gerson e 7 outros gigantes da medicina foram reconhecidos como pioneiros nos seus campos ao serem incluídos no “Hall of Fame” da Medicina Ortomolecular (Orthomolecular Medicine Hall of Fame). Desse “Hall of Fame” já faziam parte os 10 primeiros laureados da Sociedade Internacional para a Medicina Ortomolecular (International Society for Orthomolecular Medicine), começando, obviamente, por Linus Pauling, PhD, duas vezes Prêmio Nobel e criador do termo “ortomolecular”, no seu artigo “Psiquiatria Ortomolecular” publicado na revista “Science” em 1968.

Mais de 200 artigos de respeitável literatura médica e milhares de pessoas curadas das suas doenças “incuráveis” documentam a eficácia da Terapia Gerson. A Terapia Gerson é um dos poucos tratamentos que tem mais de 60 anos de história de sucesso.

Texto extraído de terapiagerson.wordpress.com

PDF com relação de alimentos e receitas: Download


terça-feira, 30 de outubro de 2012

As mensagens das urnas em 2012

Com o término dos segundos turnos às prefeituras, completa-se o mapa das eleições de 2012. Muitos comemoram vitórias e outros amargam derrotas. Os que ganharam começam a fase de transição e os que perderam organizam a oposição. Assim sempre foi e sempre será. Com os resultados, podemos extrair algumas mensagens sutis que extrapolam a simples análise numérica que normalmente baseia-se apenas nos votos válidos e percentuais líquidos. Para isso, vou considerar o ranking partidário nacional e os resultados da capital de São Paulo, esta última pela representatividade amostral que tem do país. Vou me prender às  mensagens específicas para três partidos: PSDB, PMDB e PT. Vou "chover no molhado" em algumas das minhas opiniões.

O PSDB embora seja o terceiro partido com mais prefeituras no Brasil (702), perdeu em São Paulo Capital e essa derrota representou um baque e tanto na autoestima do partido.  Não precisa ser nenhum gênio para recomendar o óbvio: RENOVAÇÃO. Serra nunca foi bem humorado, mas a medida que envelhece fica pior e mais carrancudo ainda. Essas características aliadas ao cansaço do eleitor (ahh não... Serra de novo?),  ao seu discurso tecnocrata e sua saída para a disputa da presidência em 2010 acabou sendo mortal para Serra na periferia. Periferia (leia-se também cidadãos vindos de estados mais carentes) não quer saber de ouvir sobre saúde financeira, de projetos a longo prazo e continuidade do que está aí. Quer coisas novas, mesmo que sejam promessas e o PT já cansou de dar aulas sobre isso ao PSDB. E aí vocês me dirão: poxa... mas ta certo prometer e não entregar? E eu responderei que não mas não se pode ganhar uma campanha em que a maioria é desinformada e vive na expectativa de ver supridas suas necessidades básicas ou higiênicas. Promessas bem pensadas e genéricas, falando o que eles querem ouvir e não apenas para os moradores do centro da cidade e dos condomínios fechados. E o Serra não tem esse discurso, por mais que se esforce. E foram 16 anos de PSDB para tentar resolver problemas impossíveis de serem resolvidos numa metrópole como São Paulo sem o governo municipal ter podido contar com a ajuda EFETIVA do governo Federal que representasse um ADICIONAL à receita do município. O aumento populacional em razão, principalmente, da migração do próprio estado e de outros, faz com que a arrecadação necessária da capital paulista sofra um "delay" ou descompasso financeiro em relação às necessidades da própria cidade e da população. É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. O PSDB tem 4 anos para tentar investir num novo nome para a prefeitura que tenha chances de vencer.

O PMDB continua sendo o partido brasileiro com mais prefeituras (1024). É difícil falar qualquer coisa diferente do PMDB porque desde que ele optou pelo sub-poder, há quase 30 anos, passou apenas a gerenciar sua lucrativa condição de fiel da balança. Chamo o PMDB de "Banqueiro de Votos" ou "Mercador de Homens e de Almas Políticas". Nenhum partido tem tanta experiência quanto o PMDB em vices-presidências, ministérios e cargos de segundo escalão. Isso tem remunerado muito bem o "capital investido" e dado um retorno excelente para o partido-banqueiro - sempre a juros-políticos extorsivos - o que lhe garante a concessão de favores regionais para manter sua hegemonia política nacional. E o PSD de Kassab vai trilhando o mesmo caminho.

O PT é o terceiro partido em prefeituras no Brasil (635). Organizado e com poder decisório fortemente centralizado, o PT ainda é o partido mais popular entre as minorias. No entanto as urnas em 2012 mandaram alguns recados para a direção petista e que farão com que o partido reavalie sua atuação junto a essas classes, principalmente no norte e no nordeste. Perdeu em 15 grandes cidades, entre elas quatro capitais do nordeste (Salvador, Aracaju, Maceió e Teresina) e três do norte (Manaus, Belém e Macapá). As duas grandes vitórias do PT no estado de São Paulo foram na capital e em São José dos Campos, reduto do PSDB há 16 anos e um dos 5 primeiros municípios do estado em arrecadação. O histórico do PT nessas duas cidades não é muito bom. Em três oportunidades (uma em São José dos Campos com Ângela Guadagnin e duas na capital com Luíza Erundina e Marta Suplicy), o PT nunca se reelegeu.

Sem dúvida, o grande teste do PT será na cidade de São Paulo. A vitória de Haddad fortemente influenciada pela atuação de Lula e Dilma nos palanques paulistanos apresentou características bem distintas nas preferências dos eleitores, conforme mostra o quadro abaixo:

Resumindo números, dos 8,6 milhões de eleitores de São Paulo, os 3,8 de Haddad representam 44%. Somando votos nulos, brancos e abstenções o número alcança 2,5 milhões de eleitores, ou seja, quase 30% do eleitorado paulista.

Com exceção de Santa Efigênia, Serra venceu nos bairros do centro e Haddad na periferia o que confirma a influência de Lula na periferia. No entanto, é na região central de São Paulo onde se concentram os eleitores das famílias e do comércio mais tradicionais, responsáveis pelas cobranças mais contundentes e frequentes do dia-a-dia paulistano e, consequentemente, região mais acessada e destacada pela imprensa. Portanto, Haddad que foi eleito pela periferia, enfrentará fortes pressões diárias partindo justamente dos redutos eleitorais onde não teve muitos votos, o que exigirá reavaliações em seus discursos de campanha. Ganhar é uma coisa, mas conquistar e manter popularidade para garantir governabilidade é outra. Nunca se esquecendo de que o julgamento do mensalão ainda não terminou e as notícias são difundidas por capilaridade, saindo basicamente das regiões centrais em direção às periferias.

O fator determinante nas próximas eleições será ganhar consciência de que as informações estarão cada vez mais pulverizadas. A a internet com seu crescimento exponencial será o principal meio de acesso à informação, influenciando cada vez mais na escolha popular. Os veículos de comunicação tendenciosos comprados pelos famosos jabás terão cada vez menos espaço e poder decisório na escolha dos eleitores. E este é um processo IRREVERSÍVEL.

Resumindo as mensagens dadas nas urnas para os maiores partidos do Brasil visando ganhar ou reelegerem-se nas próximas eleições:
  • PSDB  > Renovação urgente que vai além de Aécio Neves;
  • PMDB > Sair do sub-poder e ter candidato próprio à presidência;
  • PT > Mudar discurso e renovar suas lideranças.

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domingo, 21 de outubro de 2012

A história do Brasil que as escolas não contam

Muitos perdem a oportunidade de construir suas próprias verdades por serem refratários à ideia de ampliarem suas fontes de informação. Não suportam ver balançar seus conceitos inflexíveis, mesmo que formados por fatos e verdades parciais.  Enfim, são pessoas que nunca deram chance para que o seu próprio juízo decida e que passarão a vida inteira lutando pelas verdades dos outros, sem questioná-las. O nome que damos a esse tipo de comportamento é FANATISMO.

Sobre o FANATISMO, dizia Voltaire: "O fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta. (...) O mais detestável exemplo de fanatismo é aquele dos burgueses de Paris que correram a assassinar, degolar, atirar pelas janelas, despedaçar, na noite de São Bartolomeu, os seus concidadãos que não iam à missa. Há fanáticos de sangue frio: são os juízes que condenam à morte aqueles cujo único crime é não pensar como eles. Quando uma vez o fanatismo gangrenou um cérebro a doença é quase incurável."

Mas o fanatismo não se move sozinho e sem uma razão. Ele é parte de uma engrenagem muito bem "azeitada" por promessas nobres - mas de razões veladas - dos que desejam se manter no poder. Quanto mais impulsivas, impensantes e instintivas forem essas engrenagens, mais força darão para esse veículo tosco. Mas são os poderosos que o dirigem.

Caso queira sair de dentro dessa máquina de engrenagens impensantes, assista ao vídeo abaixo. Fala sobre a história política brasileira, dos anos de chumbo à anistia e da reparação seletiva que privilegia os amigos ideológicos do rei. Um pouco longo, mas vale a pena. Vale a pena abrir mais a cabeça e andar com seus próprios pés; pensar com a sua própria cabeça; construir suas próprias verdades.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O notório seletivo saber jurídico dos ministros do STF

O STF, com a absolvição de Duda Mendonça, mandou um recado para todos os empresários brasileiros: se fornecerem serviços para partidos políticos podem receber dinheiro ilícito, sem se preocuparem com a fonte, pois, quando chegar às sua mãos se transformará em dinheiro limpo. Em trocados e miúdos, se você trabalhou merece receber, independentemente da procedência do dinheiro ou das manobras utilizadas para fazê-lo chegar até você. Basta que você tenha um contrato de prestação de serviços e o reconhecimento da dívida por parte do cliente. O STF decidiu também que é absolutamente normal uma entidade política BRASILEIRA pagar um fornecedor TAMBÉM BRASILEIRO por meio de transferências de dinheiro para uma Offshore, aberta em paraísos fiscais, fora do país onde o negócio foi contratado e realizado. E o pior... a absolvição que transformou toda essa lama fétida em água limpa e potável, está prestes a se transformar em jurisprudência, ou seja, roubos e falcatruas serão institucionalizados e protegidos por lei de hoje em diante.

Vejam uma das características das Offshores: "Nos países ditos (paraísos fiscais) ou que permitem a operação desse tipo de trusts ou fundações, os bancos têm conhecimento apenas do nome dos trustees (ou seja, dos administradores ou procuradores) das contas ou dos gestores da fundação, ignorando completamente quem seja o real beneficiário do dinheiro depositado. Assim, mesmo que haja determinação judicial, é impossível que esses bancos forneçam informações sobre quem são os proprietários do dinheiro depositado nessas contas."

Sinceramente - e que se danem os juristas com suas teorias tecnicistas - o STF está mostrando ser uma suprema corte completamente desnivelada na média em termos do exigido notório saber jurídico para seus ministros, tal o nível de discordância demonstrado no julgamento do mensalão. Nota-se também claramente as tendências de absolvição para réus políticos dos ministros Lewandowski e Toffoli, além da visível "vaselinisse" das ministras Carmen Lúcia e Rosa Weber. Embora ficar em cima do muro (o que chamei de vaselinisse) seja um recurso lícito diante das incoerências ou falta de algumas provas no processo do MP e,  consequentemente, favorecer os réus pelo benefício da dúvida, uma decisão do supremo deveria também considerar o prejuízo do povo e da nação, pois, o termo absolvição transcende o preceito da inocência e presume a impunidade diante de fatos gravados, testemunhados e noticiados. Quem está acompanhando o julgamento pode facilmente prever os votos que cada um dará para determinada "classe de réus".

Ao contrário dos outros colegiados de instâncias inferiores, o STF é o guardião supremo da Constituição Federal e, na dúvida, deve favorecê-la na essência, manifestada em seu preâmbulo que diz:

"Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar; o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."

Embora o preâmbulo não seja norma constitucional, traça diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição e sempre será uma de suas linhas mestras interpretativas.


domingo, 30 de setembro de 2012

O aparente paradoxo do amor racional

Alguém já viu Deus? Ele é bonito, inteligente, tem voz, semblante e sorriso suaves? Nunca viu? Ah, pra você Ele é despersonalizado, representado por uma energia amórfica da qual emana a paz e o amor incondicional?  E como consegue amá-lo pelo que dizem que Ele é e pelo que você acredita que Ele seja? Fundamentado apenas na sua fé? E por que só para esse casos você privilegia sentimentos mais nobres e mais sutis?

Certamente vocês me dirão que o amor por Deus é um amor diferente dos outros e eu perguntarei: por que então, tanto o incondicional de Deus quanto o carnal da paixão têm o mesmo nome? Não acham que deveriam então dar um diferente para um desses dois sentimentos definidos pela mesma palavra? E se dessem outro nome a um deles, qual dos dois mereceria permanecer como AMOR... pura e simplesmente AMOR? O amor por uma pessoa ou o amor incondicional?

É lógico que o verdadeiro amor não é só o incondicional. O amor terreno também pode existir por toda a vida, desde que tenha valores mais nobres e menos frágeis como sexo, status e dinheiro. Os que confundem amor com tesão, normalmente vinculam a eternidade desse amor com a libido ou desejo sexual eterno. Pessoas que mantém o mesmo desejo com a(o) mesmo(a) parceiro(a) até o fim da vida são pontos fora da curva e os primeiros eliminados nos cálculos estatísticos que avaliam os hábitos da média do ser humano. Manter o mesmo apetite sexual é particularidade genética ou mental atípica e só quando duas pessoas com esses mesmos desvios se encontram é possível viver um caso de amor carnal por toda a vida. E este é um dos motivos pelo qual muitas pessoas pulam de galho em galho buscando a paixão eterna, frustrando pessoas e colecionando mágoas. Ainda acreditam em romeus e julietas; em príncipes e belas adormecidas; em contos de fadas; em amor perfeito. Disse o escritor russo Lev Tosltoi sobre o amor carnal: "Dizer que se vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos."

Nenhum amor suporta constantes necessidades de provas; nenhum amor sobrevive a um sonho idealizado em conto de fadas; nenhum amor se conserva por meio dos instintos sexuais do casal, assim como da admiração pelo status e pela saúde da conta bancária. Sim, esses valores compõem a química da aproximação e são importantes, mas certamente balançarão com o tempo. Por isso é imprescindível usar a razão para escolher, assim como a empatia e a tolerância para manter o amor sólido. O amor não sobrevive a duas ordens de valores distintas em seus pontos fundamentais e não é difícil perceber esta diferença logo após a aproximação, mesmo impulsionada pelos instintos de perpetuação da espécie identificados por Freud.

O amor duradouro, por mais paradoxal que pareça, é o amor racional.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A mensagem subliminar de Isadora Faber

A menina Isadora Faber de Florianópolis está movimentando a mídia nacional com seu "Diário de Classe" da escola em que estuda, revelando as mazelas do ensino público e cobrando providências das autoridades políticas locais. Sua página no Facebook (veja aqui) já foi curtida 316 mil vezes e seu último post de ontem foi curtido 7 mil vezes e compartilhado por quase mil pessoas. Não vou escrever sobre sua página porque ela já está mais do que propagada no FaceBook, na Internet e na imprensa. Embora ela esteja famosa, imagino que sua vida de pré-adolescente e dos hábitos de sua família devem ter mudado radicalmente. Alguns governantes e membros do legislativo (exceto os da oposição) devem estar morrendo de ódio de Isadora porque políticos não suportam ver suas incompetências expostas publicamente. A diretora da escola também deve estar muito incomodada com isso tudo e eu até entendo, pois, os diretores das escolas públicas de hoje precisam ser mais políticos que administradores para salvar suas peles. A submissão das diretorias aos governantes é total. Outros poucos acham que ela quer aparecer, mas, desconsiderando os medrosos desse pequeno grupo, a outra parte é formada por invejosos que desdenham de sua fama.

A mensagem que eu chamo de subliminar é o fato de Isadora estar assumindo um papel que no passado foi de estudantes universitários da UNE, hoje transformados em pelegos do governo federal, comprados com dinheiro público e aliciados com projetos de sedes milionárias. Esforçando-me para ser mais realista e menos nostálgico, já defini essas mudanças em um outro post meu aqui neste mesmo blog:
"Na minha época os estudantes eram despojados e idealistas. Não trocavam suas convicções por nada deste mundo e não tinham medo. A adrenalina era droga permitida, sua produção era interna e não precisava de receita. Estudantes não se vendiam e se indignavam com roubos e com a desigualdade social. Sabiam se organizar e tinham sensibilidade para distinguir uma voz sincera de comando em meio à multidão. E quando o coração batia alto, era como se as palavras de Mahatma Gandhi ecoassem em seus ouvidos: "Quando a verdade fala em mim, sou invencível". Cassetetes e bombas de gás pareciam não fazer efeito. Eles não queriam doações, propinas, empregos ou quaisquer tipos de vantagens para suas entidades representativas. Queriam justiça social, seus direitos de cidadania e poder falar... apenas e tão somente isto. Não consideravam ter algo a perder porque a época era de SER e não de TER. Um ideal valia mais que computadores, carros e roupa de grife. A amizade entre eles era sincera e trair a confiança era pior que a morte. Eram seres mirrados e sem corpos "malhados". Não treinavam jiu-jitsu, caratê e nem frequentavam academias. Eram aquilo ali que todos viam, seja por dentro ou por fora, sem embrulho pra presente. Cabeludos, calças justas e camisetas pra fora. Era pegar ou largar, mas quem pegava sabia o que estava levando."

O que fez então a Isadora? Simplesmente ocupou o espaço deixado pelos idealistas medrosos ou que venderam seus ideais para os corruptos, pelos estudantes alienados e ignorantes da história política brasileira. Impulsionada pela química hormonal da pré-adolescência unida à explosão da internet e da liberdade de expressão, Isadora está mostrando o novo estilo de protesto de sua geração, conscientizando sem sair às ruas, em frente ao seu computador.

Essa é a mensagem subliminar que o blog da Isadora passa para os corruptos conservadores. Que as ações convencionais desses ladrões do dinheiro público e de seus comparsas (permissivos ou indiferentes) serão mais difíceis neste século XXI. E que mesmo mudando o "modus operandi", de um jeito ou de outro, eles serão flagrados por essa turminha porreta de novos cidadãos que está surgindo. Dentro de pouco tempo, os próximos diários desses jovens no FaceBook serão sobre segurança, saúde pública e corrupção. Aguardem!

E que os maus políticos se cuidem... bater nessas crianças índigo e de cristal que nasceram para mudar o planeta e hoje estão com 13 anos, além de revoltante é crime hediondo.

Saiam dessa, espertinhos!

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