quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Blog de Alejandro: Desagravo do Prof. Igor ao assassinato do Prof. Kássio Vinícius


Blog de Alejandro: Desagravo do Prof. Igor ao assassinato do Prof. Kássio Vinícius: "Igor Pantuzza Wildmann"

Se você fosse eu

Ao longo dos tempos, o egocentrismo tem sido o maior responsável pelos rumos quase irreversíveis da humanidade e do meio ambiente no Planeta em que vivemos. Pode parecer algo um tanto forçado, mas existem dois estilos de egocentrismo e ambos com péssimas consequências de intensidades e amplitudes variáveis: o estilo inconsciente e o estilo consciente ou convicto.

Chamo de inconsciente aquele movido pelos instintos que privilegiam suas razões e justificam suas omissões na condição inquestionável de ter que sobreviver. O MEU trabalho, o MEU dinheiro, a MINHA casa, a MINHA família e as necessidades que EU elejo como fundamentais para mantê-los. E convencido dessas nobres missões, vou caminhando na vida, transformando o viver num dia-a-dia de acordar, participar de problemas seletivos, comer e dormir até que o relógio toque de novo. O sol nasceu? Acho que sim porque o relógio tocou.

O egocêntrico insconsciente, normalmente mora em casa de muros altos, em apartamentos ou residenciais fechados. Não participa nem das reuniões de condomínio, pois acredita que a maioria dos condôminos decidirão o melhor para ele porque têm os mesmos objetivos e as mesmas preocupações que as suas. Nunca parou para raciocinar que se a grande maioria pensar assim, meia dúzia de interessados e alguns mal intencionados decidirão por ele e por todos.

No entanto, o mal do egocêntrico inconsciente pode ser revertido. Alguém da família poderá provocar um estalo na sua consciência e provavelmente serão seus filhos, pois, convivem de forma mais intensa com pessoas diversas e mais interessantes. Esse estalo pode sair de simples perguntas, como: "Pai/Mãe... por que o menino alí na rua ta fumando um 'cachimbinho'? Por que ele não foi pra escola? Cadê a mãe e o pai dele? Se não tem pai nem mãe, quem toma conta dele?". E esse estalo dependerá do cansaço da sua alma e da velocidade inercial da sua vida; dependerá de um basta para o varrer dos seus sentimentos de culpa e de suas responsabilidades com o mundo para debaixo do tapete; dependerá da sua consciência de que os poucos somados podem se tornar muitos.

Já com o egocentrismo convicto, não vou perder muito tempo para tentar explicá-lo racionalmente por ser uma doença que não pode ser curada, mas apenas impedida de proliferar por meio do banimento e do isolamento social. São pessoas que jamais se importarão com o mundo, pois, para elas, viver se resume no que está compreendido entre o nascer e o morrer. Naquilo que pode ser feito entre esses dois acontecimentos fatídicos para aproveitar tudo que se tem ou não direito, sem se importar com a forma de tê-los ou conquistá-los.

O egocêntrico convicto, consciente de seu egocentrismo, pode ser encontrado mais facilmente no meio político, no dos banqueiros e no empresarial mastodôntico, meios esses que parecem pertencer a outra galáxia, distante milhares de anos-luz da nossa Via Láctea. Que diante da ameaça de uma hecatombe, crêem que terão uma nave mãe à sua disposição estacionada sobre o Planeta e várias outras menores resgatando alguns privilegiados, mediante apresentação do último extrato bancário e do dinheiro roubado que possuíam em paraísos fiscais, nessas alturas do campeonato, já transferidos via IntergalactNet para seu banco do novo mundo.

São aqueles que quando chegam em casa e o filho pergunta se trabalhou muito ele nem responde, pois, tem medo de que em seguida venham outras indagando o que ele faz pra ganhar tanto dinheiro e o porquê do pai daquele menino do 'cachimbinho' também não ganhar tão bem. São aqueles que acham que a frase correta de Sócrates foi: "Dê penhor à minha vontade e sê escravo da minha inconsequência".

Não... não é o capitalismo que está destruindo a ética e o sentimento de fraternidade humana. Não é o sistema que destrói o homem, pois, o homem não é só produto do meio, mas também um agente de quem o produz. A simples adesão inconsciente a esse capitalismo destrutivo e selvagem o transforma num criador de injustiças e sua permanência impensada nesse sistema o torna carrasco de si mesmo.

Sugiro eleger 2011, como o ano da empatia, pois, o "SE EU FOSSE VOCÊ" já cometeu toda espécie de injustiças que tinha de cometer.

É a hora e a vez do "SE VOCÊ FOSSE EU"


















terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Natureza - No lugar certo, na hora certa



Algumas fotos que tirei em Campos do Jordão. Às vezes a gente está na hora certa, no lugar certo e com a câmera certa. Uma das vantagens de se morar no meio do mato, dormindo agarradinho nos braços da Mãe Natureza.










domingo, 26 de dezembro de 2010

As seis peneiras

Antes de reproduzir o famoso texto atribuído a Sócrates sobre as três peneiras, achei necessário fazer esta pequena introdução avisando que no final da história você encontrará uma observação importante para ser lida antes de enviar um link deste post para alguém.

Um texto filosófico não serve apenas para achá-lo bonito. Tem que ser lido com a alma. 



Augustus procurou Sócrates e disse-lhe:
- Sócrates, preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que me contaram a respeito de...
Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou:
- Espere um pouco Augustus. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
- Peneiras? Que peneiras?
- Sim. A primeira, Augustus, é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro?
- Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram!
- Então suas palavras já vazaram a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira: da bondade. O que vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
- Não, Sócrates! Absolutamente, não!
- Então suas palavras vazaram, também, a segunda peneira. Vamos agora para a terceira peneira: da necessidade. Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passá-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa?
- Não, Sócrates... Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me resta do que iria contar.
E Sócrates sorrindo concluiu:
- Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos. Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz! Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras porque:
  • Pessoas sábias falam sobre idéias;
  • Pessoas comuns falam sobre coisas; 
  • Pessoas medíocres falam sobre pessoas.

E agora: recomende apenas para seus amigos de verdade. Para outras pessoas, passe seus sentimentos pelo crivo de mais três peneiras:

  • Da ausência de mágoa;
  • Da ausência de sentimento de vingança;
  • Da ausência de segundas intenções.

Passou pelo crivo das seis? Pode mandar!



-o-


As aparências se esganam

O fato de a próxima legislatura (2011/2014) apresentar números que aparentemente determinariam uma estrondosa maioria governamental no Congresso, há possibilidade de que a diferença de qualidade dos novos integrantes e uma boa estratégia possam ser decisivos para o sucesso da nova e pequena oposição. Já está mais que provado: gritos, berros e denúncias desorquestradas não conseguem nada, ainda mais diante de governos populistas como foi o de Lula. Não foram só a farra do dinheiro e os bons resultados econômicos os responsáveis pelo mal desempenho da bancada oposicionista. Lula com sua inegável capacidade de comunicação e seu carisma conseguiram abafar escândalos como um balde d'água apagando um palito de fósforo.

No entanto existem duas tendências que, tanto para o governo quanto para a oposição, serão decisivas nesses próximos quatro anos. Chamo de tendências porque não envolvem somente fatos novos, mas também avaliações intuitivas sobre a atuação do instinto na vaidade política. 

A primeira é no PT com o perfil menos carismático e mais pragmático de Dilma, característica que exigirá boa competência administrativa para manter a imagem deixada por seu antecessor, pois, Lula terá menos exposição (mesmo que esperneie) e se o partido tentar mantê-lo com muita influência, desgastará o PODER REAL CONSTITUÍDO e desmoralizará o sistema político-eleitoral brasileiro. Em termos de aceitação, é bom lembrar que Lula tinha 83% de popularidade e Dilma foi eleita com 56%, portanto, 27% dos eleitores/admiradores de Lula anularam seus votos, não compareceram às urnas, votaram em branco ou em Serra, somando-se à massa crítica em compasso de espera. 

A segunda é algo que poucos comentam: a insatisfação interna no PMDB devido à postura fisiologista que o partido adotou há mais de 16 anos e nela permanece. O PT quer crescer e o PMDB não quer perder a imagem que construiu ao longo do tempo em suas lutas históricas. O PMDB, que tem sido o fiel da balança nos três últimos governos (quatro se contar o de Itamar que também era vice), está indo para 20 anos sem candidato próprio à presidência e essa insistência poderá provocar uma dissidência qualitativa. E agora com a morte de Quércia, surge uma nova questão: até que ponto sua ausência abalará a coesão PT/PMDB? Alguns mais ingênuos dirão: "Mas Quércia estava sumido da política!". E quem disse que as principais articulações são feitas sob as luzes do palco político? Só saberemos se observarmos daqui pra frente.

Na minha opinião, essas duas tendências serão o calcanhar de Aquiles do próximo governo. Minoria oposicionista organizada e que planeja ações foi sempre mais efetiva e perigosa do que um bando de políticos berrando desordenadamente. Na história,  enquanto a maioria se guiava pelas emoções, as minorias provocavam mudanças. Ser seguido depois por essa mesma maioria, sempre foi e continuará sendo apenas uma questão de tempo e dinheiro. É ler e constatar.


-o-





quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Não quero a faca

Confesso que já li muitos livros. Confesso também que parei de lê-los quando descobri que seriam insuficientes para a minha capacidade de assimilação em vida, mesmo que me transformasse na pessoa mais seletiva do mundo. Citando Lao-Tsé, estou na fase digestiva: "Para ganhar conhecimento, adicione coisas todos os dias. Para ganhar sabedoria, elimine coisas todos os dias".

O que eu digo não é um bom exemplo num país que se lê muito pouco, ou seja, cerca de 2,5 livros por ano dos quais 70% são livros didáticos (interessante essas estatísticas... meio livro significa parar na metade do terceiro?). Em países como os EUA, Suécia e Dinamarca são mais de 10 por ano (Fonte: Observatório da Imprensa)

Todos devem ler, pois, livros são tesouros que devem ser buscados, lidos, curtidos, sentidos, compreendidos e guardados para consulta; não para enfeitar as estantes como troféus em nossas bibliotecas pessoais. Mesmo porque a pessoa que compra um livro apenas para enfeitar pode ser surpreendida com perguntas e reflexões de alguém que o leu pra valer.

Acontece que chegará um momento que você poderá desejar parar de ler, e isso não terá relação com a sua idade e muito menos com a quantidade de livros que você leu. Sua cabeça dará um basta, não importando o que virá depois. Voltarei a ler? Sentimento de culpa? Nada disso... "Sou escravo da minha consciência" e não do que me dizem que é certo.

Parar de ler livros inteiros não significa se alienar do conhecimento e nem aderir ao ócio. É dar tempo e lugar para o processo natural de assimilação. Nossa busca é pela sabedoria e não pela intelectualidade das respostas "certas".

E esse é o meu "hoje", dedicado a fragmentos de pensamentos, sem me preocupar com aquele jargão dos intelectuais: "mas você não me entendeu porque não leu tudo". Não preciso e não quero entender tudo o que você quer que eu entenda. Quero só a sua essência. Ou, como escreveu Adélia Prado, "Não quero faca, nem queijo. Quero a fome."

Estou em processo digestivo. Minha fome hoje é de sabedoria. Chega de queijo! Por hora...


-o-

domingo, 19 de dezembro de 2010

Atitude enquanto ainda há tempo

Nenhuma religião ou filosofia tem que nos impulsionar para reconhecermos que estamos juntos no mesmo barco. Que só salvaremos nosso Planeta quando nos salvarmos do egoísmo e acabarmos com a violência; quando entendermos que a individualidade não traz alegria duradoura; quando entendermos que estamos destruindo o único lugar no qual podemos usufruir os frutos de qualquer conquista. Somos muito e, sozinhos, não somos nada.













quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu vou indo, e você?

- Oi, cara... tudo bem?
- Eu vou indo, e você?
E a gente pensa...como é "ir indo"? Seria o mesmo que "viver vivendo" ou melhor, "morrer morrendo"? Acho que quem diz isso está mais pra "vou voltando" do que pra "vou indo". Porque esses caras que "vão indo" não usam a franqueza e dizem de uma vez por todas: "estou empurrando a vida com a barriga e esperando o momento de passar desta para melhor".


Melhor mesmo morrer? Já pensaram bem? Ter o trabalho de entrar naquele túnel e caminhar até chegar lá em cima, preencher aquele longo formulário dissertativo, entregar pra São Pedro e aguardar o resultado sentado numa nuvem. Depois, se aprovado, colocar asas, auréola (ou chifres se reprovado) e sair voando até a porta do céu, bater e mostrar o crachá pra entrar.

Começa a encontrar os parentes já falecidos e tem que ficar contando tudo que aconteceu na ausência deles. Como está o Rubinho? O que aconteceu com a Maricota do seu Zezé? E seus filhos, ficaram bem (imagine!)? Do que você morreu? Cirrose hepática? Falei tanto pra você parar de beber quando eu era vivo e avisei mais de mil vezes nos seus sonhos; por que não deixou a casa da praia pro seu irmão Inácio e o meu piano pra Cecília? Olha... hoje à noite seu tataravô, seu tio Lazinho e sua tia Amélia, o Tico e a Nhana convidaram você pra tomar um chazinho na nuvem nova que acabaram de comprar, financiada em 2 mil anos pelo Banco de Nuvens Hosana (BNH).

Páááára! Pára tudo que eu quero descer! Que inferno de céu!

Viu como você é feliz e não sabia? Portanto, ocupe a sua vida de forma produtiva. Faça seu testamento e coloque a casa de praia pro seu irmão Inácio; pare de beber muito enquanto é tempo; visite seus velhos amigos e os parentes que ainda lhe restam; reflita e faça as pazes com seus inimigos; use seu dinheiro pra viver; adote uma causa justa; preste mais atenção nos seus sonhos e agradeça ao acordar.

E, por favor... nunca mais diga que "vai indo", tá?


-o-


Maturidade é o mesmo que velhice?

Tenho acompanhado o mercado de trabalho e notado profundas mudanças na ordem de valores dos critérios gerenciais de muitas empresas de porte - multinacionais ou não - em relação aos seus empregados. Hoje é quase unânime a indiferença em relação à maturidade profissional e com o que chamávamos de "vestir acamisa". Sei também que às vezes havia uma certa super-valorização do empregado velho de casa, promovendo-o como prêmio por fazer bem o que fazia, sem a preocupação de prepará-lo adequadamente para assumir cargos de maior responsabilidade. O "vestir a camisa", por sua vez, também era mal interpretado e, em alguns casos, transformavam esse ato espontâneo em obrigação do empregado e não num processo gradativo como fazemos antes de comprar uma roupa: olhamos a vitrine, conversamos com o vendedor, experimentamos em frente ao espelho para só depois comprarmos. No entanto, excluindo-se as más interpretações e o estilo mais "fordeano" da diretoria da época, existia um orgulho enorme dos funcionários em trabalhar na empresa e até a família se engajava nessa frente, quase chegando a incorporar a marca no seu sobrenome.

Hoje a maioria das empresas, considera a motivação e o reconhecimentodos seus funcionários antigos, perda de tempo e dinheiro. Sentem-se aliviadas quando um deles pede demissão (menos se for trabalhar na concorrência) e quando conseguem manter a vaga em aberto, admitem "treinées" para ocupá-la. Candidatos com mais de 40 anos são considerados caros e sua maturidade profissional, sinônimo de velhice. São muitas vezes trocados por mauricinhos recém-formados e dão a esses jovens de gravata, paletó e fraldas um belo status, sempre bem inferior à sua falta de humildade. Com o ID atuante e o SUPEREGO ainda em formação passam a querer cada vez mais, não importando os meios com os quais atingirão seus objetivos.

Muitos desses insaciáveis monstros criados em cativeiro, logo-logo precisarão de mais alimento para suprir seus EGOS de dimensões paquidérmicas e começarão a notar que existe um mundo lá fora, cheio de oportunidades mais interessantes do que as que têm. Começam também a perceber que os funcionários mais antigos não são valorizados e que, em breve, serão tão antigos quanto eles e, conseqüentemente, também descartados. Então, sentem que podem usar a estrutura da própria organização para procurar um novo emprego. Numa concorrente, de preferência, pois, com a experiência que adquiriram, serão contratados a peso de ouro. Elá se vão os segredos e estratégias da antiga empresa para aconcorrência, junto com eles.

Já os antigos empregados, cada vez mais esquecidos e desprezados pela idade, acompanham esse banal entra-e-sai denominado "turn over" pelos papas do capitalismo selvagem, sempre na expectativa de saber qual será seu chefe no mês seguinte. Mesmo ainda sem saber, têm certeza de que ele terá pós-graduação, MBA e doutorado, conhecendo profundamente, em teoria, o funcionamento das grandes empresas. E que ao invés de rugas na testa terá um rosto cheio de espinhas.

-o-


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Antítese Poética - Multidão/Deserto





Na Multidão - Perdida de Mim Mesma

Em meio à multidão
procuro individualidades
que se percebam...
Mas empurrada para diante
não consigo retornar.
nem mesmo olhar.
Querem que eu escolha
e determine...
querem me ver prosseguindo
de qualquer maneira.

Mas,eu desejo parar.
No meio da calçada
no meio da escada...
E libertar-me dessa decisão.
Que não é livre-arbítrio nem nada,
mas somente uma maneira
de seguir em frente...
"porque atrás vem gente".

Não quero assim,ir caminhando
sem poesia,sem olhos nos olhos,
sem o gesto mais simples
do entendimento comum.
Não quero seguir tropeçando
em palavras e conceitos
que podem ser meus,
ou de qualquer um...

Quero sim, deter-me
contemplando rostos,corpos,
nesse movimento insano...
de auto-defesa e solidão.
Mas,em seguida,bruscamente
retornar...na contramão.
E, se acaso,atropelar alguém
que seja só pra dizer,
"Desculpa,foi sem querer".



No Deserto - Encontro Comigo Mesma

Onde mais encontrar um refúgio
para meditar sem interrupções?
Onde mais revelar todos os temores
sem qualquer impedimento?
Onde mais ser dona absoluta
de meu próprio pensamento?

Onde mais deixar-me conduzir passivamente
hipnotizada pelo brilho das estrelas?
Onde mais conhecer-me em profundidade
com todas as limitações humanas?
Onde mais encontrar o sentido literal
de caminhar sem rumo a um destino certo?

Onde mais aplacar a sede é tão vital
onde a fome nem exige o paladar?
Onde mais, um amigo seria o supérfluo
e um inimigo, a última esperança?
Onde mais, tudo que resta de lembrança
é chama trêmula, pronta a se apagar?

Onde mais..onde mais...tão belas imagens
tão magnífica e completa solidão?
Onde mais se ouviria tão nítidamente
as batidas de um perdido coração?



MareLuz

-o-



segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

FEB - direitos humanos seletivos

Tenho um tio e padrinho, Flávio Villaça, que foi da Força Expedicionária Brasiliera, a FEB. Ouvi muito suas histórias e ninguém, por mais que tente, pode imaginar com realismo o que muitos dos mais de 25 mil homens passaram na Itália ou ser empático com suas famílias (467 morreram). Heróis que desembarcaram no Porto de Nápolis desarmados e apenas com um saco às costas.

Meu tio, hoje muito doente, não fosse seu esforço pessoal e amparo da família quando retornou da Itália, poderia ser um dos inúmeros idosos que se encontram desamparados pelo exército e pelo governo, muitos brigando na justiça por receberem aposentadorias miseráveis. Quando voltou da guerra, meu tio ficou trancado durante meses em seu quarto, não saindo nem para refeições e descontrolando-se emocionalmente todas as vezes que ouvia gritos ou pessoas falando alto. Imagino as 467 famílias que perderam seus filhos e as dos que retornaram com sequelas físicas e emocionais irreversíveis.

A consideração do Brasil pelos seus Pracinhas é tanta, que existem restos mortais de um ex-combatente não identificado na Itália desde 1963 e que hoje aguarda a boa vontade governo brasileiro para testes de DNA, mas o Itamaraty não tem tempo e nem idéia de quando isso será feito. Existem ainda histórias tristes e horripilantes de expedicionários enterrados como indigentes e outros mutilados que ficaram sem amparo governamental. Vocês poderão ver essas tristes realidades no site:"Ecos da Segunda Guerra"

O governo (com razão) preocupa-se com torturados e mortos na época da ditadura militar, mas também sem muita seletividade nas pensões e benefícios. Já esses heróis brasileiros que ajudaram a eliminar da face da terra aquele louco nazista (nem ouso contaminar meu blog com seu nome) são simplesmente ignorados, pois, o crime político tem a preferência dos políticos. Seria algum tipo de ranço generalizado contra o militarismo? O Presidente João Goulart bem que tentou fazer alguma coisa para os ex-combatentes da FEB, mas não deu tempo em virtude do golpe militar de 64. E os que ainda estão vivos, certamente não terão tempo de ver a justiça acontecer.

Este é um pequeno protesto para ficar gravado no ciberespaço e aproveito para postar uma breve história para os mais jovens de como tudo começou e a Canção do Expedicionário, com letra do poeta Guilherme de Almeida e música de Spartaco Rossi. E no final, o primeiro de uma série de 4 vídeos com depoimentos de ex-combatentes brasileiros.

Narrativa de meu tio, Flávio Villaça Guimarães sobre Patrulha Brasileira em Torre di Nerone - Arquivo Diana Oliveira Maciel:
"Todos os febianos que participaram ativamente da Campanha da Itália, durante a 2ª Guerra Mundial, têm em suas memórias este ou aquele episódio que exigiu de cada qual o máximo de suas energias, de cautela, de ponderação, discernimento e sacrifício. A coragem de todos foi posta à prova desde o instante em que se iniciou a travessia do Atlântico e do Mediterrâneo, pois os alemães haviam esparramado uma quantidade acima do normal de minas submarinas em uma grande extensão daquelas águas, expondo o majestoso "General Mann" a enorme perigo durante os quinze dias de viagem que empreendeu do Rio de Janeiro até Nápoles. 
Vencidos todos aqueles riscos, primeira etapa do compromisso assumido pelo Exército Brasileiro para com as tropas aliadas, agora já em solo italiano, chegou a prova de fogo – o combate ao experiente e resoluto inimigo. O preparo físico, tático e psicológico durou aproximadamente dois meses e, a 15 de setembro de 1944, o 1º Escalão deslocou-se de Hospedaleto para o "front", nas proximidades de Pisa, a fim de substituir o 2º Batalhão do 370º Regimento de Infantaria americano. Durante o trajeto, a travessia do rio Arno foi feita por meio de balsas, pois suas pontes haviam sido danificadas pelos alemães.  Em princípio de novembro (1944), o II Batalhão do 6º Regimento de Infantaria (II/6º RI), da Força Expedicionária Brasileira (FEB), deslocou-se para a região de Porreta Terme e, na noite de 3 para 4, ocupou as posições localizadas nas proximidades da Torre de Nerone, passando o posto de observação (PO) a funcionar precariamente junto ao comando do batalhão em Costa de Áfrico. 
De imediato foram "agraciados" com rudes bombardeios da artilharia alemã, provavelmente localizada na região de Castelnuovo.  Em meados de dezembro, ainda sob impiedoso frio acompanhado de fortes chuvas, o pelotão de observadores rumou para a Torre de Nerone, localizada na cota 670, um local importantíssimo e sumamente estratégico, mas de enorme perigo por estar completamente desprotegido, exposto aos certeiros tiros dos alemães com fuzis munidos de lunetas. O posto de observação localizava-se num buraco (subsolo) da Torre, escavado durante a noite, com área de mais ou menos quatro metros quadrados, com pouco mais de um metro de altura, mal dando para se mexer em seu interior. As observações eram diuturnas, sem a menor trégua. Durante quase todo o implacável inverno o pelotão permaneceu na Torre de Nerone e, devido às dificuldades de acesso àquele local, de lá deslocava-se apenas uma vez por semana até o posto de comando (PC) do major comandante do Batalhão a fim de suprir-se de ração e água. A água que levava era distribuída para cada um dos companheiros e o conteúdo de um cantil tinha que ser rigorosamente dosado. Do local onde se encontrava o PC (Costa de Áfrico) até a Torre, era mais de uma hora de caminhada devido ao terreno ser escarpado e com um declive de mais ou menos 400 metros. A descida somente era possível depois das 21 horas, quando a escuridão era completa. 
Nossas patrulhas, morteiros, nossa artilharia pesada e até mesmo nossos valorosos irmãos da Força Aérea Brasileira tiveram um insano trabalho para rechaçar as investidas do inimigo e pressioná-lo para evacuar suas posições no imenso arco montanhoso por ele ocupado: montes Belvedere, Della Torracia, Castelnuovo di Garfagnana e Soprassasso. Do PO da Torre de Nerone mantinha-se constante comunicação com todas as companhias do II Batalhão, que eram rudemente atingidas pela artilharia alemã e que necessitavam saber a procedência daqueles disparos para responderem de imediato com contra-ataques. A vigilância se intensificava a cada chamado com angustiantes súplicas e alucinantes apelos para tentar descobrir a localização dos canhões, bem como das posições das metralhadoras – as célebres "lurdinhas"– dos alemães, metralhadoras estas que tinham condições de disparar mais de 1.200 tiros por minuto! Felizmente, dada a privilegiada localização do PO da Torre de Nerone, conseguiu-se identificar muitas das posições da artilharia inimiga e bloquear suas investidas. A Torre de Nerone foi para o pelotão que durante todo o rigoroso inverno ali permaneceu uma posição das mais perigosas. Mas de lá foi possível controlar a movimentação do inimigo e dos locais onde se encontravam seus canhões. Torre de Nerone foi uma perfeita cobertura para a Divisão Expedicionária Brasileira nos campos da Itália."

Dr. Flávio Villaça Guimarães, ex-combatente

Revista "O Expedicionário"


Pequena história:
Em 1939, com o início da 2ª Guerra Mundial, o Brasil manteve-se neutro, numa continuação da política do Presidente Getúlio Vargas de não se definir por nenhuma das grandes potências, somente se aproveitando das vantagens oferecidas por elas.
Em vista da série de torpedeamentos de navios mercantes brasileiros, em nossa costa litorânea, o Brasil reconheceu o estado de beligerância com os países do eixo. Pensou-se então no envio à Europa de uma Força Expedicionária, como contribuição à causa dos aliados.
O primeiro semestre de 1944 foi de intensos preparativos e, a 2 de julho de 1944, teve início o transporte do 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira - FEB com destino à Nápoles. Em 22 de setembro de 1944, seguiram o 2º e 3º Escalão, em 23 de novembro de 1944, o 4º Escalão e finalmente, em 08 de fevereiro de 1945, o 5º Escalão, completando a 1ª D.I.E. (Divisão de Infantaria Expedicionária) constituida de 25.334 homens, sob o comando do General João Baptista Mascarenhas de Moraes. 
Incorporada ao V Exército aliado, a FEB entrou em combate em 15 de setembro de 1944, participando de várias batalhas no Vale do Rio do Pó, na Itália. Destacaram-se: a Tomada de Monte Castelo, a conquista de Montese e a Batalha de Collecchio. Os brasileiros perderam durante a campanha, 467 elementos, além de 8 oficiais da Força Aérea Brasileira.
Em 6 de Junho de 1945, devido à vitória final na Europa com a capitulação total das tropas nazistas, o Ministério da Guerra do Brasil ordenou que as unidades da FEB se subordinassem ao comandante da Primeira Região Militar (1ª RM) sediada na cidade do Rio de Janeiro, o que, em última análise, significava a dissolução do contingente.
As cinzas dos corpos de nossos heróis mortos no conflito foram transladadas de Pistóia para o Brasil e, hoje, repousam no Monumento aos Mortos que foi erguido no Aterro do Flamengo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro para materializar o heroísmo, a coragem e a bravura de nossos homens.

Fonte: www.anvfeb.com.br



CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO

Letra de Guilherme de Almeida
Música de Spartaco Rossi



Para ouvi-la enquanto lê:







I

Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais.
Venho das praias sedosas, 
Das montanhas alterosas,
Do pampa, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios,
Da minha terra natal.

[Estribilho]
Por mais terra que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse “V” que simboliza
A vitória que virá;
Nossa Vitória final.
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

II

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema.
Lábios de mel de Iracema
Estendidas p’ra mim.
Ó minha terra querida
Da senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

[Estribilho]

III

Você sabe de onde eu venho?
É de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro
Meu pé de jacarandá.
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

[Estribilho]

Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz!

[Estribilho]



Depoimentos dos Pracinhas (Parte I)



Assista as outras partes no Youtube
Parte 2 - Parte 3 - Parte 4

-O-

domingo, 12 de dezembro de 2010

A Volta do poeta - RQSanchez





A Volta do Poeta

Um poeta morreu de velhice
e foi para o céu apressado,
pois, achou que seria tolice
ver seu corpo sendo enterrado.

Deu adeus à terra densa,
despediu-se do cachorro
e foi atrás da recompensa,
voando por cima do morro.

Alegre como a criança
que deu seu primeiro passo,
voou rápido na esperança
de ver-se logo no espaço.

Passa pertinho da lua,
sua fonte de inspiração,
pára um pouco, flutua,
e fica prestando atenção.

Lá da terra, pensa ele,
a lua é muito mais bela;
ver um luar como aquele
e daqui, areia amarela?

Retoma seu vôo, frustrado,
mas continua a viagem
em busca do céu esperado
ou de uma bela paragem.

De repente leva um susto
e é quase atropelado,
um cometa passa justo
na frente do pobre coitado.

Lá de baixo, logo pensa,
isso é um estrela cadente
sua luz é mais intensa
e atende os desejos da gente.

Já com saudades da vida,
e muito desapontado,
de maneira decidida,
faz a volta apressado.

Mesmo morto, se consola,
e sem os desejos da carne,
posso ver jogo de bola
e curtir o meu desencarne.

Escrever poemas com rima
à sombra de um belo carvalho
e ficar olhando pra cima
sem ter que pensar em trabalho.

Ver de novo a lua nascendo,
curtindo, sentado no chão,
contando cometas descendo
até a próxima encarnação.


RSanchez - (2/8/2004 21:35:12)


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Milagre da Vida - Albert Einstein





O Milagre da Vida


Pode ser que um dia deixemos de nos falar... 

Mas, enquanto houver amizade, 

Faremos as pazes de novo. 

Pode ser que um dia o tempo passe... 
Mas, se a amizade permanecer, 
Um do outro se há de lembrar. 

Pode ser que um dia nos afastemos... 
Mas, se formos amigos de verdade, 
A amizade nos reaproximará. 

Pode ser que um dia não mais existamos... 
Mas, se ainda sobrar amizade, 
Nasceremos de novo, um para o outro. 

Pode ser que um dia tudo acabe... 
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente, 
Cada vez de forma diferente. 
Sendo único e inesquecível cada momento 
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre. 

Há duas formas para viver a sua vida: 
Uma é acreditar que não existe milagre. 
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre. 



Albert Einstein